Mitsubishi Space Star 1.2 – Complicar para quê?
É verdade que o Mitsubishi Space Star é um modelo que, em determinados aspectos, já não consegue esconder a idade do projecto que lhe serve de base. Noutros, oculta-o bem, principalmente no que toca ao design exterior, com várias actualizações ao longo dos seus anos de serviço e, no caso deste exemplar em particular, um Intense Connect Edition com o kit estético desportivo que veste, e que ajudam o pequeno Space Star a integrar-se perfeitamente no actual parque automóvel das cidades. Foram, inclusivamente, precisas poucas horas na sua companhia para me aperceber que circulam bem mais unidades do Space Star nas estradas portuguesas do que eu pensava.
Por dentro, pelo menos aos meus olhos, o Space Star acusa mais o peso da idade. Os materiais utilizados e a qualidade de construção não o colocam em maus lençóis relativamente à sua concorrência, mas o design do tablier e dos seus principais elementos, a esses sim, o tempo já lhes pesa. Por outro lado, não se pense que algo lhe falta. Não senti falta de nada durante os muitos quilómetros que com ele fiz. O ar condicionado – com botões “como devem ser” – refrescou-me e aqueceu-me quando precisei. O rádio com ecrã táctil, apesar de ser um equipamento de aspecto universal adaptado à consola do Space Star, permitiu-me ligar o meu smartphone e ouvir as minhas músicas, bem como me orientou até aos meus destinos com a função de navegação. Não lhe faltam as indispensáveis tomadas de 12 V e USB e ainda funções como o acesso e arranque sem chave e as luzes automáticas.
De um carro com menos de três metros e meio de comprimento, não se podem esperar milagres ao nível da habitabilidade, é certo. Mas o espaço disponível no banco de trás, ideal apenas para dois passageiros, obviamente, surpreendeu-me. Não tanto em altura, mas nos centímetros livres para as pernas. Não posso dizer que ali viajar é uma experiência folgada, mas também não tive de me encolher para me sentar atrás do banco do condutor regulado para os meus 1,8 metros. A bagageira supera ligeiramente os 200 litros de volume útil, mas dispõe de uma inteligente caixa compartimentada que permite, não só, esconder e arrumar objectos mais pequenos, evitando a desarrumação habitual no final das viagens com mais curvas, como também criar um fundo plano com o rebatimento dos bancos. Bem jogado, Mitsubishi. Gostei.
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Tamanho, peso e motor
Passando para o lugar do condutor, aqui gostava de me ter sentido mais confortável ao volante. Este não conta com regulação em profundidade e o ajuste em altura do banco não o permite colocar tão baixo quanto desejaria. Ainda assim, nada que comprometa um dos maiores argumentos do Space Star, a facilidade com que se conduz. Esta é em muito explicada pelas suas reduzidas dimensões, acompanhadas, como seria de esperar, por um peso reduzido de apenas 950 kg. E se o automóvel é leve, o motor não precisa de ser grande, nem potente. Trata-se de um propulsor de três cilindros com 1,2 litros, 80 cavalos e 106 Nm de binário, mais do que ajustado à utilização a que o Space Star aponta. Para além disso, e como já referi noutros ensaios com motores equivalentes, tem um “trabalhar” engraçado que não posso deixar de mencionar.
Mas o que realmente importa num carro que se quer, acima de tudo, económico, são os consumos e aí são boas as notícias. O Space Star terminou a sua prova na Garagem com um registo de 5,2 l/100 km. A sua velocidade máxima é de 180 km/h, um valor elevado e talvez, até, desnecessário. Não o testei, por razões óbvias, mas posso adiantar que em moderado excesso de velocidade, em autoestrada, a confiança transmitida por um conjunto tão leve rapidamente se reduz. É a ritmos moderados, principalmente na cidade, que o Space Star se sente mais confortável. A suspensão também não gosta de ser apressada, estando claramente mais afinada para lidar com as imperfeições dos pisos urbanos do que para ser apressada num trajecto mais exigente para a dinâmica ou para lidar com ventos laterais fortes a velocidades elevadas.
Boa garantia e bom preço
Outro dos seus grandes argumentos, para além da garantia de 5 anos, é o preço, valor ao qual é preciso retirar o desconto de 2.900 € em vigor – na altura da publicação deste artigo – trazendo-o para uns muito apetecíveis 12.850 €. Mas deixando de parte os bons números do preço e do consumo, bem como outras vantagens e argumentos do Space Star como a facilidade de condução – estacionar, por exemplo, é uma brincadeira de crianças – gostava de concluir referindo algo que não esperava que fosse umas das principais conclusões deste trabalho.
Como referi, o projecto é antigo em idade, mas não necessariamente antiquado, pois não lhe faltam elementos actuais e modernos. Por isso, sempre que o usei, mantive a chave no bolso, acedi ao habitáculo, liguei o motor, o smartphone estava emparelhado e encaminhei-me para o meu destino. Sem infotainment complexo para mexer, sem modos de condução para seleccionar, sem digitalização para me informar, sem alertas disto e auxiliares daquilo a intervir. Quando cheguei, desliguei o motor e, imagine-se, puxei a alavanca do travão de estacionamento. Mantive a chave no bolso e carreguei num botão para o trancar. Conduzi um carro novo, sem pretensões desportivas e acessível, que me fez sentir parte essencial no exercício da condução. E que bom foi voltar a sentir isto.