Volkswagen Golf GTI – Nem mais disto, nem menos daquilo
Nunca conheças os teus heróis, diz-se por aí. É um cliché e é um cliché dizer que é um cliché. Mas é-o mesmo e não passa disso. Isto porque conheci um dos meus heróis e gostei muito dele. Não é melhor do que eu esperava, mas eu já esperava muito e ele esteve à altura. O Volkswagen Golf GTI teimava em fugir-me das mãos, mas à oitava foi de vez. GTI significa, para muitos, “O Automóvel”, o que importa ter, um faz tudo, dono de uma reputação quase intocável no mundo dos desportivos compactos e de um equilíbrio e abrangência de capacidades de que poucos nomes da indústria se podem gabar.
Pode até não ser o mais desportivo, o mais rápido, o mais isto ou aquilo, mas é muito, em muita coisa. Tem um extenso currículo. Uma história escrita desde 1976, com pontos muito altos e outros mais baixos, é certo. Mas a sigla GTI é sinónimo de eficácia, de uma proposta que é, acima de qualquer outra coisa, completa. Como referi, há opções mais rápidas, inclusivamente na gama Golf, mas um hot hatch deve ser, do meu ponto de vista, um carro que se possa usar, todos os dias, para tudo, ou quase tudo, e por todos. A sigla GTI nasceu segundo esse ponto de vista e por isso, tal como diz o seu nome, este Golf GTI, antes de ser um GTI, tem de ser um Golf.
Quanto Golf há neste GTI?
Muito, garanto-vos. Não é um Golf exactamente igual aos outros, obviamente, mas o espaço é o mesmo, a praticidade, também, e a sensação global de qualidade não podia, igualmente, deixar de marcar presença. É um carro para ir trabalhar, é um carro para ir de férias, para ir às compras e para ir queimar gasolina quando esse for o melhor plano. E é-o, quase sempre. É um carro dócil que é uma verdadeira máquina se o quisermos. É confortável, mas também sabe não o ser. Tem 245 cavalos e um andamento que faz aumentar o ritmo cardíaco muito rapidamente. Mas não é por isso que não consegue registar médias de consumo muito aceitáveis para um modelo deste segmento.
Tendo conduzido o i30N da Hyundai, o Mégane Trophy da Renault e o Civic Type R da Honda, noto bem a diferença na potência. Para quem não lhe resiste, à potência e ao Golf, então que aponte ao Clubsport de 300 cavalos. O andamento é, com certeza, bem diferente. Mas para quem, como eu, aprecia potência moderada, utilizável, os 245 cavalos chegam bem. Se chegam! Uma coisa é notar a diferença, outra coisa é sentir falta dela. O GTI não entra nessa luta. Não precisa, pelo menos nesta versão. O pulmão do motor impressiona desde os regimes baixos e a sua entrega é muito linear, puxando com vigor até que a DSG passe à relação seguinte com a rapidez que lhe é reconhecida. Os consumos? Se vos disser que, conduzindo em “modo Golf”, é possível consumos mistos na casa dos 8 litros/100 km, acreditam? Acreditem, por favor.
Quanto à dinâmica propriamente dita, uma vez mais, o Golf GTI é um Golf e um GTI. Competente e seguro a curvar, ágil e rápido a responder. Isto deve-se, em grande parte, à suspensão adaptativa que lhe permite oferecer o melhor dos dois mundos: sabe ser confortável e sabe mandar o conforto pela janela fora e devorar curvas ao melhor estilo GTI. E só não fez melhor porque a unidade que conduzi já praticamente não contava com borracha nas rodas dianteiras, alargando a trajetória nas viragens mais exigentes e mostrando alguma dificuldade em colocar a potência no chão ao sair delas. Nada de que o GTI tenha culpa. Não faz os “pops and bangs” da moda, mas o som com que tempera a condução não desilude. Faz-se ouvir, possante e com um ou outro “tiro” nas passagens de caixa, mas nada que incomode a vizinhança mais sensível.
Ser moderado é sempre um bom conselho
Repito: não é o mais desportivo, nem o mais rápido e não tem o design mais agressivo. Não quer ser o mais radical, o mais exímio, o mais potente. Quer ser o mais completo e para isso tem muito de tudo o que importa, na dose certa. Um carro que se adapta ao condutor, aos seus desejos, àquilo que procura do seu companheiro de quatro rodas naquele dia específico, sem comprometer coisas que são essenciais para quando não estamos em modo GTI e precisamos de um Golf. Coisas como espaço no banco traseiro, uma bagageira capaz de engolir as tralhas do quotidiano e uma carroçaria que não é exageradamente grande, fácil de estacionar na cidade, no parque subterrâneo que vai inevitavelmente visitar.
Por dentro, perdoem-me a repetição desta conversa, mas não atino com a centralização de todos os comandos e funções no infotainment. “É uma questão de hábito”, diz-se. Talvez o seja, mas não aprovo. Agora perguntam-me: “Mas não o compravas por causa disso?” Claro que comprava. Seria um disparate não o fazer por causa desse detalhe. Depois há, também, a eterna questão estética, a qual, reconheço, merece alguma discussão no caso desta oitava geração do Golf, um automóvel que sendo bonito e inconfundivelmente Golf, pode ser, em determinadas configurações, algo anónimo. Mas neste GTI, longe disso. Tem classe, mas tem, assumidamente, uma veia desportiva. Um smoking que esconde o músculo e que o insere, igualmente bem, em cenários, neste exemplo, Estorilenses, tão distintos quanto o parque de estacionamento do Hotel Palácio ou o paddock do Autódromo. Melhor, só mesmo à minha porta. Aí é que ele estava bem.
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