3.500 não é apenas um número… é um número assustador!
De acordo com a FIA, 3.500 é o número de pessoas que continuam a morrer, diariamente, nas estradas do nosso planeta, delapidando um grupo muito em particular, o dos jovens entre os 5 e os 29 anos, sendo os acidentes rodoviários a principal causa de morte desse escalão. São cerca de 1,27 milhões de vidas por ano, a que há a juntar muitos milhares de feridos, de gravidade variável.
Face a esta situação insustentável, de custo humano, económico e social inaceitável, a FIA e as múltiplas organizações que a compõem encomendaram à JCDecaux, em 2017, uma campanha à qual tem vindo, gradualmente, a associar caras conhecidas do grande público a um conjunto de regras que podem contribuir para ajudar a salvar vidas, uma vida que seja! Recorrendo à influência que esse grupo pode ter nas acções que tomamos, foram criados outdoors e outros suportes, nomeadamente em vídeo, associando-os a um Manifesto. A Campanha #3500LIVES passou hoje a contar com 20 Embaixadores, nomes conhecidos nas suas áreas de intervenção, dos ecrãs ao motorsport, do ciclismo ao atletismo, ou até mesmo figuras públicas, depois da adesão de Mick Schumacher, piloto de Fórmula 1, e Julian Alaphilippe, Campeão do Mundo de Ciclismo, que quiseram dar o seu contributo à causa.
Ambos passam a integrar uma lista já composta pelos seus pares Fernando Alonso, Charles Leclerc, Marc Márquez, Felipe Massa e Nico Rosberg, na vertente do desporto motorizado, Yohan Blake, Didier Drogba, Haile Gebrselassie, Antoine Griezmann, Vanessa Low, Rafael Nadal e Wayde van Niekerk, campeões nos mais diversos desportos, Patrick Dempsey, Michael Fassbender, Pharrell Williams e Michelle Yeoh, em representação do mundo das artes, e ainda a Princesa Charlène do Mónaco e Anne Hidalgo, Presidente da Câmara de Paris.
Cada um deles está associado a um factor de risco em particular, como o excesso de velocidade, o álcool, o uso de capacetes, cintos de segurança, telemóveis ou cadeirinhas de bebés, o cumprimento da sinalização e o respeito pelos diferentes utilizadores das estradas, incluindo ciclistas e peões, num mundo que hoje conta com novos e diferentes meios de deslocação, nomeadamente em meio urbano. Sublinhe-se que, presentemente, esses utilizadores mais expostos representam mais de metade das mortes nas vias de circulação (54%), praticamente o dobro do registado para condutores de veículos automóveis (29%).
E a campanha em Portugal? Que se veja, praticamente nada… demasiado pouco!
Apesar de lançada há já quatro anos, anunciando-se então que a mesma seria difundida em 33 línguas – presumimos que nelas se incluísse o português – para uma exposição em mais de 1.200 cidades de uma centena de países, não me recordo de ver um qualquer destes outdoors em qualquer ponto do nosso Portugal!
Aliás, fazendo uma rápida pesquisa na net, até mesmo o ACP – o clube português que está representado na FIA – apenas conta com artigos publicados à altura, nas suas plataformas (portal e revista), e mais um ou outro post solto nas redes sociais, sem que a dinâmica seja, nem de perto nem de longe, algo que a campanha obrigaria, já para não falar no aparente desinteresse da instituição que tem como obrigação a sua implementação!
Em época de pandemia, que obrigou a que a grande maioria das pessoas se mantivesse longe das estradas durante largos períodos de tempo, não surpreendem as diminuições significativas registadas em 2020, face ao ano anterior. Segundo a Comissão Europeia, houve uma quebra de 17% no número de mortes por acidentes rodoviários, ainda assim com 42 óbitos por milhão de habitantes (51 mortos/Mh em 2019), sendo ainda mais expressiva a quebra de 36% face a 2010, quando o registo no perímetro europeu foi de 67 mortos/Mh.
No que se refere a Portugal, o nosso recuo foi, em ambos os casos, superior ao dessa média europeia, registando-se uma diminuição de 18% face a 2019 (de 63 para 52 mortes/Mh), sendo de uns bem expressivos 43% quando se compara com os números do início da década, quando em 2010 registámos 80 vidas perdidas por milhão de habitantes, nas estradas.
São números arrepiantes que estão ainda longe da meta de 50% de redução da sinistralidade rodoviária que havia sido fixada para a presente década 2010/2020, pelo que apela-se à FIA, muito em especial ao seu representado ACP, uma bem mais significativa dedicação à causa #3500LIVES. Em simultâneo, nunca é por demais pedir um reforço ao nosso Governo em dar uma maior prioridade à segurança rodoviária, introduzindo legislação eficaz que dê resposta aos principais factores de risco nas estradas, permitindo que o contributo de Portugal para esses indesejáveis números decresça, a bem do futuro das nossas futuras gerações!
Para terminar, na eventualidade de querer aderir a esta causa, poderá assinar o respectivo Manifesto.
Fotos: Oficiais / FIA, ACP