Não fui para o Marquês e de carro eléctrico nunca irei
O Sporting foi campeão nacional. Como Sportinguista, estou, obviamente, feliz. Foram 19 anos de espera e apenas três campeonatos festejados ao longo de 35 anos de vida. Já fui mais “doente” pelo Sporting do que sou actualmente e há dois motivos para isso. O primeiro é o próprio Sporting. Serei “lagarto” até ao fim, pois não devemos apenas defender a nossa camisola nos bons momentos, mas é normal que longos períodos sem grandes conquistas tenham provocado algum afastamento da minha parte. Sportinguista como sempre, mas aceitei a situação e admito que deixei de acompanhar os jogos com a mesma paixão e dedicação que o Sporting merece.
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Mas o maior culpado do meu menor interesse no futebol e, em especial, no meu Sporting, é uma grande parte de todo o colectivo de pessoas que vivem para defender o seu clube, aquela percentagem de malta parcial, incrivelmente tendenciosa, que não percebe, não aceita e não respeita gostos diferentes e visões alternativas, diferentes das suas. E há-os em todos os clubes, no meu também, claro. Desculpem-me, mas não tenho pachorra. Rivalidade, sim, é saudável numa competição. Sermos parciais e, muitas vezes, mal educados, isso não percebo e não posso aceitar.
Isto leva-me a algo de que gosto ainda mais do que meu Sporting: os meus automóveis. Os meus, mesmo meus, e os meus, no geral, todos os que todos os dias acompanho. E tal como no mundo da bola, também no mundo das quatro rodas há malta assim. Em especial no antro digital em que o Facebook se tem vindo a transformar, seja pela quantidade absurda das chamadas fake news, seja pelo bullying virtual também ele presente nas inúmeras publicações desrespeitosas e ofensivas com que me deparo, muitas vezes, meramente por necessidade profissional. Raramente, mesmo muito raramente, alimento discussões assim com o meu ponto de vista. Não vale a pena. Um Supra vai sempre ser um BMW e quem pensar o contrário é um pateta. Eu sou um pateta, então. E não quero saber.
Cada vez que me cruzo com um automóvel eléctrico, penso imediatamente: “se estivesse à conversa com aquela pessoa, ia levar com uma enxurrada de educação ambiental pior que uma sessão de time sharing algemado a uma cadeira.”
Felizmente, sei que há, por aí, muita gente boa. Malta que, como eu, adora automóveis, vive para eles, para consumir a informação, para os ver, ouvir, conhecer e conduzir. E todos nós temos os nossos preferidos. Os que achamos mais bonitos ou mais feios, com mais ou menos qualidade. Ainda bem que assim é. Para quem deles gosta e para quem deles precisa. E gostar de um carro em particular, não tem obrigatoriamente que significar que o achemos o melhor de todos. Não. Longe disso. Da maneira que o mercado automóvel mexe e evolui, teríamos de trocar de automóvel todas as semanas para ter o melhor e eu não teria sido do Sporting nos últimos 19 anos. Jamais!
A grande vantagem que o mundo dos automóveis tem relativamente ao mundo do futebol, a meu ver, é a facilidade com que a conversa se desenvolve entre dois fãs de “clubes” diferentes. Porquê? Porque antes de serem condutores de um Citroën, Subaru, Volvo, BMW ou Porsche, são fãs de automóveis. Na bola não é assim. Ou és do Porto, do Sporting ou do Benfica. Porque se não fores adepto de um destes três, não vales nada. E só depois de viveres para o clube do teu coração é que és adepto de futebol, um desporto que é bonito, mas que podia ser ainda mais, se em campo não estivessem, muitas vezes, tremendos actores que simulam faltas e lesões com o intuito de prejudicar o adversário, levando-nos a saltar do conforto do sofá de nossas casas a pedir cartões coloridos quando nem contacto houve, mas quando, também, o amor à camisola fala mais alto. Eu já estive lá.
O que me deixa triste é que esta tendência está a alastrar, a propagar-se além das quatro linhas e a chegar aos parques de estacionamento e garagens dos estádios, ao mundo automóvel em geral, mas em especial ao segmento dos eléctricos. Detesto generalizar, mas admito que nem sempre o consigo deixar de fazer. É mais forte do que eu. Cada vez que me cruzo com um automóvel eléctrico, penso imediatamente: “se estivesse à conversa com aquela pessoa, ia levar com uma enxurrada de educação ambiental pior que uma sessão de time sharing algemado a uma cadeira.” Sei que não são todos assim, mas são muitos os utilizadores de veículos eléctricos que são tremendamente tendenciosos. Aqueles que só destacam a evolução (indiscutível) registada nos últimos anos e que não admitem as limitações diárias que um eléctrico ainda impõe na sua condução. E nem me vou arriscar a falar do impacto ambiental de um veículo térmico em comparação com o de um eléctrico. Não tenho conhecimentos para tal. Deixo para quem sabe muito do assunto e muitos dos condutores de eléctricos deviam fazer o mesmo que eu. Ligar o carro à tomada é “limpo”. O pior é o que não se vê, a montante da tomada.
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E tal como nos sofás de casa e esplanadas de café, também o “Facebook dos automóveis” está cheio de treinadores de bancada a cuspirem para cima de adeptos mais pacatos como eu, que gostam de motores de combustão e que só pedem para não serem excluídos da sociedade por conduzirem um carro a gasolina ou a gasóleo, tal como 99% dos actuais condutores de eléctricos fizeram até há meia dúzia de anos. Como fã de automóveis, não sou fã de eléctricos. Mas isso não significa que não ache que precisemos deles e que, acima de tudo, não deva respeitar quem deles gosta e quem os defende, mesmo tendo uma opinião contrária. Tal como no futebol, tem de haver espaço para todos. Eu quero aceitar-vos, mas não me excluam. Esperei 19 anos para ser campeão e nem ao Marquês fui. Tempo não me falta, por isso, se me querem convencer a comprar um eléctrico, sejam coerentes e imparciais. E mesmo que um dia o faça, nunca será o meu automóvel preferido. Viva ao Sporting!