Opel e-Rally Cup: E a partir daqui nada será como dantes!
Já não há volta a dar! A electrificação dos ralis já começou e chegou com assinatura da Opel. Numa altura em que os escalões máximos da disciplina ainda só falam de hibridização para 2022, a marca de Rüsselsheim já se encontra uns quantos passos à frente da concorrência, tendo arrancado neste mês de Junho de 2021 aquele que é o primeiro troféu monomarca eléctrico do mundo: a ADAC Opel e-Rally Cup.
O pontapé da saída – estes jargões são fantásticos, numa altura em que o país tem os olhos postos na Selecção e no Euro2020 – foi dado no fim-de-semana passado quando 13 equipas, em representação de cinco países (Alemanha, Áustria, França, Holanda e Luxemburgo), se apresentaram à partida do ADAC Rallye Stemweder Berg, evento promovido a jornada inaugural de uma temporada que – se a pandemia deixar – irá ter mais 6 provas, ou eventualmente 7, se se conseguir a recolocação daquele que deveria ter sido o primeiro rali do calendário, inicialmente aprazado para o início de Maio, mas adiado pela (des)evolução da COVID-19.
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Naturalmente que, tratando-se de uma copa monomarca, todas contaram com os préstimos do novíssimo Opel Corsa-e Rally de 100 kW (136 cv), imprimindo um ritmo electrizante, no sentido mais amplo do termo, nas exigentes classificativas de asfalto da região de Lübbecke. Possui o mesmo tipo de bateria do automóvel de série, com 50 kWh de capacidade, acumulador que lhe permite uma autonomia de 337 km, entretanto optimizada para a competição por acertos na gestão eletrónica do sistema de motorização, permitindo aos pilotos optar entre três modos de funcionamento diferentes: Competição, em que o sistema debita a potência e binário máximos; Chuva, modelando a curva de binário para melhorar a tracção em pisos escorregadios; e Eco, de poupança de energia, usado nas ligações entre as especiais de classificação.
Um leque de soluções nunca vistas no universo dos ralis
Naturalmente que o factor novidade e o tipo de energia necessária para alimentar os Corsa-e, em alternativa aos tradicionais combustíveis fósseis usados até ao presente, obrigaram a que a organização do troféu tivesse de encontrar uma série de soluções inéditas e se rodeasse de um vasto conjunto de parceiros especializados na matéria. Entre as novidades destacam-se não só essa necessária infraestrutura de carregamento, como a própria sonoridade dos pequenos Corsa-e Rally.
Começando pelo conceito do barulho, a Opel equipou o seu Corsa-e Rally com um sistema de som especial que o torna audível na estrada, para que espectadores e comissários de prova se apercebam da sua aproximação, nomeadamente nos troços especiais cronometrados. Conta com dois altifalantes à prova de água, colocados à frente e atrás, conceito inspirado no mundo náutico, cada um com 400 watts de potência máxima de saída, potencial sonoro gerado por um amplificador que recebe os sinais da sua própria unidade de controlo, vulgo “caixa negra”, e que opera com um software específico, convertendo os dados do veículo, nomeadamente as faixas de regime e a velocidade, tornando audíveis as rodas em movimento. O volume pode ser ajustado em dois níveis: um modo mais Silencioso para as vias públicas e um volume de Competição, elevado ao máximo durante as especiais cronometradas.
“A nossa intenção não foi simplesmente simular o som de um motor a combustão, mas sim criar um som eléctrico único, que se adequasse ao projecto”, comenta Jörg Schrott, Diretor da Opel Motorsport. “Estamos satisfeitos com o resultado obtido e acreditamos que a sonoridade vai também vai agradar ao público durante a especiais cronometradas, embora seja um som deliberadamente diferente do de um carro de ralis tradicional com motor de combustão.”
O conceito, até ao passado fim-de-semana inédito, está repleto de inovações e uma delas é a infraestrutura de carregamento móvel, uma solução sustentável, que abdica da utilização de geradores, mas que se mostra igualmente potente, flexível e fácil de utilizar, a fim de estar à altura de satisfazer as elevadas exigências de um rali. Aqui prevaleceu a solução móvel dos alemães da eLoaded, recorrendo à energia da rede pública, de média ou baixa tensão, distribuída às unidades de carregamento através de um DCBus, reduzindo-se, significativamente, as perdas de energia entre a rede e a ficha de carregamento dos Corsa-e Rally. Garante-se uma potência máxima de 2,0 megawatts, em 18 pontos de carregamento, distribuídos pelas tendas das Assistências de cada viatura participante na competição, alimentando-se cada veículo com um máximo de 140 kW, podendo os Opel Corsa-e Rally ser carregados a um máximo de 100 kW de corrente contínua. As suas baterias de 50 kW/hora carregam-se a 80% em cerca de 30 minutos, confirmando-se que, mesmo durante uma assistência rápida, o carregamento entre os troços cronometrados não revelou quaisquer condicionamentos.
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“A selecção de uma infraestrutura de carregamento adequada às necessidades da ADAC Opel e-Rally Cup foi um processo muito elaborado, que demorou o seu tempo”, explica Jörg Schrott. “A infraestrutura de carregamento móvel da eLoaded revelou-se, claramente, o melhor conceito, pelo que juntos desenvolvemos um sistema sustentável, potente e flexível”.
E a estreia vitoriosa na Alemanha festejou-se em francês
Para os anais da história, daquele que é o primeiro troféu monomarca do mundo realizado com automóveis eléctricos, ficou registada a vitória da dupla francesa Laurent Pellier / Thierry Salva, da equipa Saintéloc Racing. Liderando o rali de fio a pavio, venceram 6 das 8 Especiais Cronometradas, impondo-se por 33,1 segundos aos austríacos Luca Waldherr / Claudia Dorfbauer, eles que, por sua vez, deixaram os alemães Max Reiter / Lina Meter a 41,3 segundos.
Entre os participantes constava Timo Scheider, outrora duplo campeão do DTM (2008 e 2009) e também ex-piloto de fábrica da Opel. Estreando-se no mundo dos ralis com esta absoluta novidade eléctrica e aqui navegado por Tobias Braun, Scheider evoluiu gradualmente a cada classificativa disputada, vindo a terminar num impressionante 5º lugar, a apenas 7,2 segundos dos seus conterrâneos Alexander Kattenbach / Ann Felke, eles que, por sua vez, ficaram a 9 décimos de segundo do lugar mais baixo do pódio.
Totalizando 77,32 km cronometrados, das tais 8 Especiais, o ADAC Rallye Stemweder Berg viu 8 Corsa-e Rally atingirem o seu final do rali. Do lado dos abandonos, um deveu-se a acidente, três a problemas com as caixas de velocidades e o último por um problema técnico não identificado.
Jörg Schrott era, assim, alguém muito satisfeito no final do rali. Para o Director da Opel Motorsport, “a ADAC Opel e-Rally Cup teve uma estreia em grande. O Corsa-e Rally revelou uma performance brilhante, registando tempos impressionantes, com um plantel com andamentos muito próximos. A infraestrutura de carregamento também correspondeu às nossas expectativas, garantindo que o rali decorresse sem problemas. Estamos muito satisfeitos, mas isso não significa que estejamos mais confortáveis. Pelo contrário, aprendemos muitas coisas novas e continuaremos a trabalhar arduamente na otimização dos detalhes”.
Igualmente presente esteve Volker Strycek, lendário piloto de competição da Opel, que conduziu o “Carro 0”, levando ao seu lado diversos convidados VIPs, saindo à frente do pelotão de 13 equipas que quiseram dar ao Corsa-e a sua primeira vitória de sempre no mundo dos ralis. Como se disse acima, esse feito falou francês em terras germânicas!
Acrescente-se que a copa da Opel usou 8 das 12 classificativas do rali principal, pontuável para o Campeonato da Alemanha de Ralis. Até ao ponto que é possível comparação – o final da Especial nº 3, o melhor dos Corsa-e Rally tinha um tempo acumulado de 24 minutos e 54,6 segundos, enquanto o melhor dos Corsa Rally4, da categoria RC4, somava 23 minutos e 53,6 segundos! A partir daí, a copa eléctrica da Opel não pôde cumprir um total de 4 troços, pelo que a comparação torna-se impossível. Mas dá para pensar num potencial equilíbrio de andamentos quando, um dia, todas as energias – eléctricas e térmicas – puderem coexistir na totalidade de um rali!
Resta referir que a estreia do Opel Corsa-e Rally aconteceu no último fim-de-semana de Maio, no Rallye du Touquet, pontuável para o Campeonato de França de Ralis de Asfalto. Cumprindo-o como “Carro 0”, não há, também e por isso, tempos registados, nem hipóteses de fazer comparações com outras categorias, mas os responsáveis do novo troféu electrico mostraram-se satisfeitos, não só pela forte performance ali demonstrada, como pela fiabilidade, cumprindo-se, sem problemas de maior, os 131 km de especiais cronometradas.
Voltando à ADAC Opel e-Rally Cup 2021, há agora um intervalo até ao dia 7 de Agosto, quando tiver lugar o Rallye Holsten, seguindo-se a única transposição das fronteiras alemãs até à República Checa, para se correr o Rally Barum (27 a 29 Agosto) pontuável para o Europeu de Ralis. Seguem-se os ralis Reifen-Ritter Hinterland (18 Setembro), Wartburg (2 Outubro), 3-Städte (15 e 16 Outubro) e Sachsen (28 a 30 Outubro). No calendário está por recolocar o Rallye Sulingen, que estava inicialmente agendado para o início de Maio e que não se sabe se voltará ao calendário desta Temporada 1 da inédita copa eléctrica.
Fotos: Oficiais / Opel Motorsport, ADAC Motorsport