Audi RS Q e-tron e os Três Mosqueteiros para o Dakar 2022
Stéphane Peterhansel, Carlos Sainz e Mattias Ekström são três nomes que dispensam apresentações, autênticas lendas do desporto motorizado que se juntaram ao inédito projecto da Audi para o Dakar 2022. Serão estes “Três Mosqueteiros” que darão início a todo um novo compêndio electrificado do universo dos mundiais de offroad, fruto da elaborada tecnologia híbrida que se esconde sobre as agressivas vestes do igualmente inédito Audi RS Q e-tron.
Será a 1 de Janeiro próximo que o “Monsieur Dakar” francês, o “El Matador” espanhol e o simplesmente sueco Ekström irão apresentar-se em Ha’il, na Arábia Saudita, tentando, a partir daí, impor as suas montadas e a nova tecnologia híbrida a um vasto lote de adversários que, maioritariamente, irão continuar a apostar nas tradicionais mecânicas térmicas, apontando a uma inédita vitória em Jeddah, no dia 14 desse mês, o que, a acontecer, será uma nova lança em África para o construtor dos quatro aneis.
A nova máquina de competição da Audi tem sido, por isso, alvo de intensas sessões de desenvolvimento e testes, ainda feitas com viaturas-laboratório, levando-se ao limite as futuras tecnologias neles empregues, nomeadamente a que permitirá recarregar a bateria de alta tensão durante os Sectores Selectivos, recorrendo à própria dinâmica do carro. Isto porque, muito naturalmente, carregadores é coisa que não existe nos confins das etapas de deserto, apostando-se num motor turbo de elevada eficiência, acoplado a unidades geradoras de energia que recarregam a bateria em plena condução, acumulando-a com a que se recupera do processo de travagem.
Piloto de elevada experiência que há muito defende as cores da marca dos quatro anéis – Campeão do Mundo FIA de Rallycross, duplo Campeão do DTM e vencedor de 4 edições do evento “Race of Champions”, Ekström tem estado bastante activo nas diferentes fases de testes: “Com a unidade e-drive, a potência e o binário ficam instantaneamente disponíveis ao mais pequeno toque do pedal do acelerador. Outra vantagem, em especial quando se conduz nas dunas, é a transmissão de velocidade única, que poupa o constante processo de mudança acima / mudança abaixo.” Ekström terá ao seu lado o seu compatriota Emil Bergkvist.
Quanto ao plurivencedor da maratona, somando 14 sucessos em 33 edições, dos tradicionais Dakar no noroeste africano, aos da América do Sul e, mais ultimamente, na Arábia Saudita, Peterhansel é o homem a abater, quanto mais não seja porque é ele o actual detentor desse ceptro: “Será, provavelmente, o último passo que poderei dar como piloto profissional. O futuro é eléctrico. Daqui a 10 anos, todos vão conduzir carros eléctricos. O Dakar é um teste extremo para esta tecnologia.” A acompanhá-lo nesta nova aventura electrificada estará Edouard Boulanger.
Igualmente com um palmarés recheado, primeiro no mundo dos ralis, depois no TT, sendo agora activo participante na série Extreme E, a nova disciplina que se corre com buggies eléctricos em regiões recônditas do planeta, Carlos Sainz acrescentou: “Ainda tenho fome de vitórias. Se não tivesse, não aceitaria este desafio de enorme importância para mim, de tentar ganhar o Dakar com a Audi. É um projecto fantástico e extremo, o derradeiro desafio para uma motorização eléctrica.” Caberá a Lucas Cruz fazer o equilíbrio dentro do tecnológico cockpit do Audi RS Q e-tron.
Um dos responsáveis por estas decerto milionárias contratações é Andreas Roos, líder do “Dossier Dakar 2022” da Audi Sport, ele que sublinha que “são os pilotos e os navegadores que fazem a diferença no Dakar. O facto de contarmos com três equipas de topo dá-nos algum conforto. Agora cabe-nos concluir o desenvolvimento do nosso inovador conceito e iniciar a revolução energética nos ralis de todo-o-terreno.”
O inédito RS Q e-tron em resumo
A Audi, pretende, assim, tornar-se no primeiro construtor a utilizar uma transmissão eletrificada, em combinação com um conversor de energia, para competir pela vitória contra os concorrentes ‘convencionais’ no Dakar, tido como o rali mais difícil do mundo: “O quattro foi uma ‘pedrada no charco’ no Mundial de Ralis; a Audi foi a primeira marca a ganhar as 24 Horas de Le Mans com um sistema de transmissão eletrificado; queremos agora iniciar uma nova era no Dakar, aproveitando para testar e desenvolver a nossa tecnologia e-tron, em condições extremas”, acrescentou Julius Seebach, Director Geral da Audi Sport e, por isso, responsável máximo pela área da competição. “O nosso RS Q e-tron foi criado numa folha de papel em branco em tempo recorde e representa, na perfeição a nossa assinatura ‘Na Vanguarda da Técnica’.”
Desenvolvido com a colaboração da Q Motorsport, parceira da Audi neste projeto, este novo super-buggy é alimentado por uma conjugação termo-eléctrica, resultante da associação de uma versão de competição do bloco de quatro cilindros 2.0 TFSi, com mais 3 motores eléctricos, um por eixo e outro integrado no conversor de energia, representando parte significativa das soluções que têm sido exploradas na Fórmula E. A bateria é mínima, com cerca de 50 kWh de capacidade, contribuindo com um peso de 370 kg ao conjunto, mas nem por isso resulta num óbice, já que na sua configuração ideal, a Audi refere poder alcançar-se cerca de 500 kW / 680 cv de potência, valores geridos com recurso à tal caixa redutora de apenas uma relação, distribuindo-os às quatro rodas.
Fruto das suas características, o novo RS Q e-tron irá ser integrado na, entretanto criada, categoria “T1-E”, já no Dakar 2022: “O desejo de levar a disciplina rumo a uma operação virtuosa em termos de emissões de carbono irá assumir uma forma concreta a partir de 2022, com o lançamento de uma categoria T1-E reservada a protótipos envolvidos nesta investigação,” refere a organização do Dakar. “O objectivo é termos, até 2030, veículos 100% de baixas emissões nas categorias de Automóveis, SSV e Camiões. Na preparação desta revolução, as regras elaboradas em colaboração com a FIA têm em conta, a partir do Dakar 2022, a criação de uma categoria para protótipos de veículos assentes em motores eléctricos ou em qualquer tecnologia focada na redução das emissões de carbono (por exemplo, o uso de biocombustíveis)”, num plano plurianual que terá a sua natural continuidade, fruto dos naturais desenvolvimentos, decorrentes da evolução tecnológica verde.
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Resta-nos aguardar por todas essas novidades, não só em termos da prova em si, como do próprio Audi RS Q e-tron, viatura que, ainda este ano, poderá vir a participar em eventos seleccionados, que, a acontecer, servirão de sessões de treino em condições reais, ou, no limite, pelo primeiro dia de 2022. Uma coisa é certa – já o afirmámos por diversas vezes (ver exemplo aqui) – o futuro da competição automóvel será, inegavelmente, goste-se ou não, eléctrico!
Fotos: Oficiais / Dakar / Audi e Red Bull