5 carros de que não gostava quando foram lançados
Podia fazer uma lista com mais modelos, mas decidi ficar-me apenas por 5. São modelos que nada têm em comum uns com os outros a não ser o facto de eu não ter gostado do seu design quando os vi pela primeira vez, na capa de uma revista, agora velha, ou ao vivo, durante a minha infância ou adolescência.
Deste pequeno grupo de automóveis não fazem parte grandes máquinas ou modelos exclusivos, ainda que um se destaque pelo conforto e luxo oferecido. Todos os outros são modelos mais vulgares, como aqueles com que era habitual cruzarmo-nos, várias vezes por dia, nas nossas estradas.
Actualmente, ainda que, provavelmente, sem interesse enquanto modelos clássicos, todos eles são, a meu ver, apelativos. Têm ali “qualquer coisa” que, na altura em que foram apresentados e comercializados, eu não vi. Acho-lhes um “piadão”, pois foram carros de que aprendi a gostar e que me via, hoje em dia, a comprar se surgisse um bom negócio pela frente. Arranquemos.
Renault Twingo – 1993
Um nome que se mantém até ao presente, mas que surgiu, pela primeira vez, no início da década de 1990. O projecto, aliás, teve início em 1989, quando a Renault decidiu criar um novo modelo citadino de design irreverente que não colidisse com as aspirações do então novo Clio, ligeiramente maior. O Twingo assumiu uma abordagem diferente, mais simplificada, sem elementos supérfluos com o objectivo de tornar a vida do seu condutor mais fácil. Quando surgiu, estava disponível apenas numa versão que já contava, por exemplo, com vidros eléctricos. O motor era um 1.2 litros, a gasolina, com 55 cavalos, potência mais do que suficiente para o ligeirinho Twingo.
Um carro de design tão diferente daquilo a que estava habituado não me agradou. Mas, actualmente, admito que não lhe resisto, menos ainda quando encontro um exemplar com uma cor forte como o Outremer Blue ou o Indien Yellow. Por dentro, o Twingo destacou-se pela habitabilidade fora do comum no seu segmento, em parte explicada pela colocação das rodas nos quatro cantos da carroçaria, bem como por soluções como o banco traseiro deslizante. Não consigo olhar para o Twingo e não ficar feliz com o seu ar simpático, jovialidade que a Renualt prolongou ao habitáculo, com os seus botões coloridos, onde a simplicidade e funcionalidade foram prioridades.
Lancia Ypsilon – 1995
O Lancia Ypsilon não teve, pelo menos para mim, na altura do seu lançamento, a irreverência do Twingo acima referido. Mas ainda assim achei-o algo estranho, com umas curvas acentuadas a que agora não resisto. Não são poucas as vezes que dou por mim a percorrer os sites do costume à procura de um exemplar em bom estado. E nem precisa de ser o Elefantino Rosso, com o enérgico motor 1.2 16V, para ficar tentado. É um carro de cidade com muita classe, tal como o seu primo mais novo FIAT 500 o é hoje em dia. Para além disso, ostenta um símbolo quase desaparecido das nossas estradas, ainda que o seu regresso esteja previsto para um futuro próximo. Manter na estrada modelos de marcas desaparecidas é algo de muito valor e embora não seja fácil encontrar um Ypsilon em boas condições, não são nada caros.
O Lancia Y surge na década de 1990, no seguimento do pequeno, mas muito chique, Y10, apresentado no Salão de Genebra de 1985. Sempre gostei do Y10 – tive inclusivamente o prazer de conduzir um – mas quando o Ypsilon surgiu no mercado, não gostei assim muito do que vi. Até que comecei a ver melhor, a aperceber-me de que, efectivamente, é um carro com muita pinta, elegante, e bastante mais bonito do que muitos modelos contemporâneos. Passaram-se pouco mais de 25 anos sobre o lançamento do Ypsilon e arrisco-me a dizer de que gosto cada vez mais dele. Mais do que a geração que o substituiu, em 2003 – da qual também gosto, mas não tanto – e bem mais do que a actual, um modelo cujo ciclo de vida tem sido prolongado no mercado italiano, com a introdução de novas versões e uma motorização mild hybrid, com bastante sucesso, diga-se.
Alfa Romeo 145 – 1994
Lançado em 1994, o Alfa Romeo “Cento Quarantacinque” é um outro excelente exemplo de como a passagem dos anos o beneficiou. Pelo menos, na minha opinião. Sempre preferi o seu irmão 146, de carroçaria com dois volumes e meio, digamos. E isto devido àqueles vidros laterais traseiros do 145, interrompidos por uma barra negra do pilar traseiro. Mais de 20 anos depois da Alfa Romeo ter dado por terminada a sua produção, acho-o belíssimo e se agora pudesse escolher entre um 145 ou um 146, a minha decisão seria diferente. O 145 ficará, também, para a história por ser o último “Alfa” a estar equipado com os míticos motores Boxer de quatro cilindros desenvolvidos para o Alfa Sud. Estes foram depois substituídos pelos mais convencionais motores de quatro cilindros em linha Twin Spark.
Partilhando a plataforma com o FIAT Tipo, o projecto 930 começou a ser desenvolvido em 1990 a fim de substituir o 33. O design final do 145 resulta de um estudo assinado pelo americano Chris Bangle para um substituto do Lancia Delta, com quatro portas. A equipa liderada por Walter de Silva tratou, então, de o adaptar ao estilo Alfa Romeo, eliminado as portas traseiras, mas abrindo, assim, espaço para o 146 se juntar ao 145. A família 145/146 seria substituída, em 2000, pelo 147, depois de cerca de meio milhão de unidades vendidas. Encontrar um exemplar nacional, em condições, não é como encontrar uma agulha num palheiro. É pior, acredito.
Opel Tigra – 1994
O Opel Tigra sempre foi um carro muito falado em minha casa. A minha Mãe adorava-o e o meu Pai nem por isso. A mim sempre me passou um pouco ao lado, mesmo que lhe reconhecesse alguma originalidade. Achava-o engraçado, mas não mexia o suficiente comigo para poder afirmar: “Quero muito um Tigra!”. Hoje em dia, vejo-o com outros olhos. Bastante mais bonito do que a geração que o substituiu anos depois, o primeiro Tigra merecia ser lembrado mais vezes, pois parece-me ser um modelo injustamente esquecido, principalmente por ter trazido alguma irreverência a um parque automóvel demasiado homogéneo, através de uma marca reconhecida pela sobriedade e robustez dos seus automóveis.
Gosto bastante mais do Tigra em 2021 do que em 1994. E se for uma unidade com o roxo “meio escuro” como o das fotografias – não tenho muito jeito para descrever cores – melhor ainda. Não sei, nem quero saber, se virá a ser um modelo com interesse histórico, porque quando gostamos de um automóvel e queremo-lo muito, só isso importa. Mas uma coisa é certa, são cada vez menos as unidades a circular e não só é um automóvel bastante utilizável hoje em dia, como conta com um visual bastante original numa carroçaria desportiva de formato coupé, também ela, cada vez menos vista. Encontrei um destes Tigra, roxo, a precisar de alguns cuidados, é certo, por 700 €. Uma solução muito em conta para se ter um automóvel com estilo.
Citroën C6 – 2005
O Citroën C6, lançado originalmente em 2005, é o modelo mais recente desta lista, sendo também o mais caro de todos, aquando do seu lançamento e actualmente, no mercado de usados. Sou fã da Citroën. Da loucura tantas vezes associada ao design dos seus modelos, bem como das invulgares soluções que inúmeras vezes lhes aplica. O C6 tem tudo isso e muito mais. Tem muito espaço, muito conforto, muito equipamento e tem, também, um vidro traseiro, quando visto de fora, côncavo. E acho que este foi o problema. Esta solução louca, tão apreciada por mim, foi demasiado louca. Já os presidentes da República Francesa, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, não concordavam comigo na altura, pois o C6 foi o carro presidencial de ambos.
Mas 15 anos depois, numa altura em que o presidente francês é pouco mais velho do que eu, tenho de concordar com os seus antecessores. O Citroën C6 é um verdadeiro automóvel, com todas as letras, ao melhor estilo Citroën, com um conforto referencial associado a um design que, mesmo não sendo para todos os gostos, prima pela elegância, classe e exclusividade. Não tenho dúvidas que, mesmo pelos padrões actuais, viajar a bordo de um C6 deve ser uma experiência e tanto. Um dos sucessores de uma das mais belas linhagens de modelos franceses, com o Traction Avant, o DS, o CX e o XM. Não sei qual é o carro oficial do Presidente Emmanuel Macron – espero que seja o novo DS 9 – mas não tenho dúvidas que estaria muito bem servido com um C6.