Parem de comprar carros! A sério (mais ou menos, vá)
Desde o início dos tempos que a tecnologia evolui de uma de três formas: por obra do acaso, como o fogo (segundo consta, até porque nunca vi nenhuma entrevista a um neandertal a explicar o fenómeno: “… eu ‘tava ali na boa, saio para fora da caverna para tomar um banho de chuva e entretanto veio um raio e pum, mesmo em cima do meu primo Carlos. O gajo começa a arder e olha, até deu jeito para me secar”); por engano, como a penicilina de Alexander Fleming que, ao que parece, estava a pesquisar umas bactérias, chegou a hora de almoço e começou a comer uma sande de queijo flamengo com paio. Umas migalhas caíram na caixa de petri e as bactérias gostaram tanto que até lhe perguntaram se o paio era alentejano (isto nem sequer faz sentido, por isso não liguem); ou, por fim, através de um esforço enorme por parte dos cientistas e engenheiros. Para esta crónica, é esta última que interessa.
E se parássemos de comprar carros?
É óbvio que não estou a dizer para pararmos de comprar carros. Mas, por outro lado, estou. Passo a explicar. Se ninguém comprasse carros, as construtoras iam perceber que estavam a fazer algo errado (para este argumento vamos partir do princípio que estão). Se ninguém compra é porque o produto que temos para vender ou não é bom ou não satisfaz as necessidades do consumidor. Se formos mesmo picuinhas, o caso dos automóveis é paradigmático. Precisamos mesmo de carros? Não será mais eficiente, económico e ambientalmente seguro andarmos de transportes públicos, táxi e Uber ou, até mesmo, alugar de vez em quando um carro? A resposta é sim. É tudo isso. Mas carros não são, apenas, meios de transporte.
São, por exemplo, mais práticos que os restantes exemplos que enumerei. E são, também, algo que nos diz muito. São emocionais, são quase uma projecção da nossa personalidade e gosto pessoal, muito como as casas. Ninguém precisa de uma casa gigante. Ninguém precisa de uma sala e cozinha em open space com 70 metros quadrados e bancadas em mármore. Mas a questão é que, quem tem possibilidade, pode dar asas à imaginação e construção.
A evolução é o caminho
Nos carros o caso é similar. Quem pode comprar do bom e do melhor, compra. Não vai deixar de o fazer. Mas a maioria das pessoas vai comprar algo mais singelo, algo mais dentro das suas necessidades e possibilidades. E este é o meu ponto central. É aqui que as construtoras deviam apostar tudo. Deviam estar a fazer carros mais eficientes para as massas. Já começam a pensar nisso, é certo, mas deviam ter começado por aí. Baterias mais eficientes e com mais capacidade, carros mais leves (e já agora, baterias mais leves também) mais aerodinâmicos, construídos com materiais mais ecológicos e reciclados, capazes de serem, também, mais recicláveis, enfim, as possibilidades são imensas. E, em boa verdade, as marcas já estão a evoluir muitas destas coisas. Mas têm de apostar tudo, se queremos ver um grande salto tecnológico nos próximos dois a três anos. Um que seja capaz de “salvar” o planeta. Pelo menos tirá-lo do caminho onde o estamos a colocar. No sector automóvel e nos restantes. Por isso, parem de comprar carros… mas por outro lado, não.