A importância da carrinha branca. Ou cinzenta
Não vale a pena dizer que nunca nos aconteceu, por muitos cavalos que tivéssemos disponíveis debaixo do pé no momento: já todos sentimos a pressão de ter uma carrinha de mercadorias a encher-nos o retrovisor ao ponto de conseguirmos ver a cor dos olhos de quem a conduz. E por muito que se acelere, não há como fugir, mais vale assumir e deixá-la passar. É assim com qualquer carrinha, pequena ou grande, especialmente se for branca, como sabemos. Esta não era, mas mesmo assim o velocímetro estava escalado até aos 240 km/h.
Admito que gosto de quase tudo o que tenha quatro rodas. Mas antes que me venham disponibilizar um trolley ou uma maca para fazer um ensaio, refiro-me a automóveis, obviamente. E dentro daqueles que raramente conduzo ou em que nunca pus as mãos, tenho um gosto especial por carrinhas. E não é por serem os veículos mais rápidos que andam na estrada. Mas sim porque têm um propósito que não é apenas levar-nos de A a B, é levar coisas de A a B, coisas essas que nos são, muitas vezes, essenciais.
“Isso é tudo em LED?”
Uma carrinha tem uma função e por isso quem a conduz tem uma missão. Seja para o transporte de alimentos, de mobiliário ou encomendas, é um veículo que terá, ao fim de poucos anos, umas quantas centenas de milhares de quilómetros percorridos, muitas vezes com a mesma pessoa ao volante. E para pessoas como eu que adoram conduzir, as melhores aventuras e memórias são construídas ao volante, nesses momentos, com o fiel companheiro de trabalho, incansável, por vezes desgastado e que, ainda assim, cumpre e chega ao fim do dia de trabalho sabendo o que o espera no seguinte.
Gosto de carrinhas, volto a dizer. Por isso pedi à Renault o novo Kangoo. Um dos modelos com que mais nos cruzamos no nosso dia-a-dia, um dos nomes que melhor exemplifica o que acima referi. Carros de trabalho com 300 mil ou mais quilómetros acumulados em meia dúzia de anos, imagino, cheios de histórias para contar. Por isso sentei-me ao volante e imaginei-me em trabalho, não como jornalista automóvel, mas sim como motorista de entregas, como dono de um negócio em que uma carrinha como o Kangoo é uma essencial ferramenta de trabalho.
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Quis fazê-lo porque gosto de carrinhas e porque não tendo experiência, posso apenas imaginar o quão cansativa pode ser uma vida de trabalho na estrada, repetitiva e stressante. O Kangoo deve, por isso, ser o companheiro perfeito para tornar a vida mais fácil, ajudando a simplificar as tarefas do dia-a-dia, como as operações de carga e descarga, bem como proporcionar o fundamental conforto e a segurança que se espera quando se fazem centenas de quilómetros diariamente. Posso dizer que nesta curta e estreante experiência, o Kangoo mostrou que está apto a esses mais exigentes desafios. Não tenho dúvidas.
Exteriormente, o Kangoo recebeu, inclusivamente, elogios de quem o viu estacionado à minha porta. Uma frente “modernaça” com iluminação LED não passou despercebida a quem com ela se cruzou. Mas é no interior que estão, a meu ver, os seus maiores argumentos. Não vou avaliar o Kangoo enquanto comercial, não tenho conhecimentos para o fazer, e também não o vou comparar com os ligeiros de passageiros que normalmente conduzo. No entanto, é inevitável não fazer uma ligeira ligação a esses veículos, porque ao volante, o Kangoo conduz-se com a mesma facilidade que um Clio.
O eterno 1.5 dCi, pois claro
O motor 1.5 dCi, neste caso com 95 cavalos, dispensa apresentações. Disponível, resistente e poupado, continua a ser o motor certo para o Kangoo. A posição de condução é confortável, o manípulo da caixa está logo ali ao lado e até a direcção e o comportamento dinâmico deixaram uma impressão bastante positiva. Tomadas USB e inúmeros sítios para guardar todas as papeladas e ferramentas de trabalho mais pequenas não faltam a bordo do Kangoo. O acesso ao compartimento de carga é excelente. Atrás, é possível abrir as portas a 180 graus, e o acesso lateral é facilitado pela ausência de um pilar quando abrimos ambas as portas. Iluminação LED, uma tomada de 12 V e vários pontos de fixação completam a oferta para que a carga seja, também ela, transportada em conforto.
Não me vejo a encher os retrovisores dos carros à minha frente ao ponto de o símbolo da Renault da grelha do “meu Kangoo” desaparecer do campo de visão do condutor que estou a seguir, mas conduzir uma carrinha não só quebrou a rotina de que tanto gosto, como foi a experiência positiva que tanto esperava. Não quero com isto dizer que todos os condutores de carrinhas conduzem que nem uns loucos, mas alguns deles, sim. Sei que não sou o único a pensar isso e, sem querer parecer irresponsável, a achar piada à piada do condutor de uma carrinha branca.
Há 30 ou 40 anos, um condutor de uma carrinha não tinha o conforto do ar condicionado e tecnologia como um ecrã e câmara traseira que fazem o trabalho de um retrovisor, bem como uma ligação Android Auto que em muito facilita o trabalho de quem anda na estrada, mas a verdade é que há 30 ou 40 anos as exigências e dificuldades eram outras. Não sei se maiores ou menores, mas diferentes. Actualmente, com a crescente adesão ao comércio electrónico, não são apenas os smartphones, computadores, redes móveis e elaboradas cadeias logísticas e, principalmente, quem os concebe, que devem merecer o nosso respeito. O condutor da carrinha, branca ou cinzenta, também. E o Renault Kangoo, obviamente.