Caramulo Motorfestival 2021: De Abarth 595 para matar saudades das vistas, dos sons e dos cheiros
Já há alguns anos que não ia ao Caramulo Motorfestival. Em 2020 não se realizou, mas também não compareci em duas ou três das edições anteriores. Surgiu, quase sempre, qualquer coisa no caminho que à última hora me impediu de ir, mas este ano, o que surgiu foi um convite inesperado, a possibilidade de ir até à Serra do Caramulo e ao Motorfestival a bordo de um Abarth 595.
Já nos segues no Instagram?
A máquina em questão, um Scorpioneoro – sem dúvida, uma das minhas edições preferidas – já me era familiar, pois já tinha tido o prazer de a experimentar. Não foram, por essa razão, necessárias as habituais apresentações. Depósito atestado, baterias carregadas, garrafas de água na mochila e fiz-me à estrada, curioso por perceber como me sentiria ao fim do dia, 700 quilómetros depois, feitos num pequeno 500 vitaminado, cuja suspensão não está, de todo, pensada para o conforto em longas viagens.
E a verdade é que a dureza da suspensão nunca foi um problema, nem mesmo durante os quilómetros em que, em plena estrada nacional 1, o pequeno Abarth enfrentou um tapete negro digno de um filme de terror. Ágil como poucos, fintar estes obstáculos a bordo do Scorpioneoro até se tornou divertido, cortando com a monotonia de um limite de velocidade, por vezes, exageradamente baixo.
Scorpioneoro em família
Para além da “boleia” a bordo do diabólico escorpião – cuja experiência de condução podem ler, ou reler, aqui – juntei-me, já em plena paisagem do Caramulo, ao grupo de mais de 50 Abarth que ali se agruparam, num de inúmeros passeios que se realizaram naquele fim-de-semana, a partir de vários pontos do país, até ao regressado Motorfestival.
No caso do passeio Abarth, que celebrou o 72º aniversário da marca do escorpião, este foi promovido pelo Abarth Club Lusitano. Estive à conversa com o seu presidente, José Pereira, que me explicou como o clube nasceu, em Junho de 2020, e como, rapidamente, se tornou um clube oficial, reconhecido pela Abarth, apenas um ano depois. O que começou por ser um encontro de um pequeno grupo de amigos, entusiastas da marca, evoluiu para o agora Abarth Club Lusitano, que conta já com 366 membros.
Quase todos os fins-de-semana se encontram para o obrigatório café ou paragem no “santuário”, nome com que designam o Autódromo do Estoril. Encontros mensais, mais elaborados, começam, igualmente, a fazer parte da agenda, bem como longos passeios pelas melhores estradas de Portugal, tendo o clube já percorrido a fabulosa N222, à beira Douro, no interior Norte do país. Deixo aqui o meu agradecimento pela simpatia com que me receberam, pelo que se tens um Abarth e queres partilhar a tua paixão com outros entusiastas, não deixes de visitar as redes sociais do Abarth Club Lusitano.
Rampa acima, no Stelvio Quadrifoglio
No que diz respeito ao evento, o Caramulo Motorfestival é paragem obrigatória para qualquer “petrolhead” que se preze. Não vim surpreendido porque já esperava muito, mas regressei com uma sensação que há muito não tinha. Matei saudades de um dia que é cansativo, mas incrivelmente recheado, com as máquinas que nem sempre vemos, com aquele cheiro que muitos não entendem, com o calor dos motores em descanso, subida após subida, como o V6 do Stelvio Quadrifoglio em que subi a Rampa do Caramulo, como passageiro, fechando um dia que teria preferido mais longo.
E não sei o que me impressionou mais. Se a velocidade com que o SUV da Alfa Romeo despachou as curvas até “lá acima”, num constante tiroteio de octanas dos seus escapes, se a quantidade e qualidade dos modelos expostos no recinto do Motorfestival. Cruzei-me, pela primeira vez, com um belíssimo Facel Vega, bem como com o impressionante Bugatti EB110. No meio de uns 30 Ferrari, quase todos vermelhos, cruzei-me com um dos meus Cavallino Rampante de eleição, o fantástico 456, na sua configuração perfeita: caixa manual, pintura em azul escuro, com interior bege. Só este justificou a viagem.
Mas ali há um pouco, ou muito, na verdade, de tudo, para todos. Das quatro às duas rodas, dos exóticos e raridades, até aos modelos até há pouco tempo, comuns. Estar, lado a lado, com um Lamborghini Miura. Ver dois Ford Focus RS, da primeira geração, juntos. Ver passar um Giulietta Spider com duas senhoras de lenço na cabeça, assistir ao momento em que uma criança diz ao Pai: “Olha Pai, este Mercedes tem dois turbos!” Acho que não é preciso prolongar-me nas descrições, pois penso que a ideia geral já passou.
No entanto, assisti, nos dias seguintes ao festival – ainda hoje, quase uma semana depois – ao descontentamento de algumas pessoas que ali se deslocaram, pelo facto de a organização não ter cumprido, na totalidade, com aquilo que, supostamente, prometeu. Não sei, nem tão pouco quero saber, quem tem razão. Mas usar as redes sociais para expressar algum descontentamento, que pode até ser justificável, é lamentável. Há canais próprios para isso e fazê-lo publicamente, é, ao contrário deste evento, deselegante e pouco glamouroso.
Todos aqueles que foram, todos os que queriam ir e não puderam, todos na organização e, acima de tudo, todos aqueles que estiveram ao sol, todo o dia, desde as caras bonitas que embelezam a linha de partida, às forças de autoridade, passando ainda por quem controlou as entradas no recinto e a subida das máquinas rampa acima, foram eles quem mais contribuíram para esta celebração do automóvel. E o automóvel vive momentos difíceis. Toda a indústria, na verdade. O regresso do Caramulo Motorfestival deve ser, por isso, duplamente celebrado. Voltámos a poder estar juntos. E voltámos a provar que a paixão pelo automóvel está viva.