Skoda Octavia Break iV – Há sempre uma excepção. Esta é uma delas
Se perguntássemos a um grupo de pessoas – sejam condutores, entusiastas ou potenciais compradores – qual o seu tipo de carroçaria automóvel preferido, entre um hatchback/três volumes ou a versão station wagon, break ou carrinha (como lhe queiram chamar), desse mesmo modelo, aposto na vitória desta última tipologia. Apesar do interminável crescimento do segmento dos SUV, as versáteis carrinhas continuam a ser uma proposta muito apelativa. É inegável o seu superior sentido prático quando comparadas com o modelo que lhes serve de base, voltando a impor-se quando comparadas com o meio-irmão SUV da respectiva gama. Eu prefiro quase sempre o carro, de quatro ou cinco portas, do que a carrinha. Excepto no caso do Skoda Octavia.
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Atenção! Acho o Octavia berlina bem mais bonito do que esta versão break, mas admito que sou fã deste ambiente familiar e prático, gosto mais de dizer “a Octavia” do que “o Octavia”. É estranho, bem sei, mas prefiro. E para ser ainda melhor, mais ao meu gosto, a versão Scoutline seria a minha eleita. Entre as opções disponíveis em formato berlina, um RS, sem dúvida. Mas voltando ao que interessa, “à Octavia” em ensaio, conduzi a versão Style iV, uma versão intermédia da gama, equipada com a motorização mais importante de todas, a híbrida plug-in, que junta o motor 1.4 TSI, a gasolina, com 150 cavalos e uma unidade eléctrica de 116 cavalos, e que já conhecemos de outros modelos do grupo. São 204 cavalos de potência total e 350 Nm, números à altura dos mais de 1.600 kg de peso. Esta Octavia acelera com vigor, se necessário, mas andamentos vivos não são os da sua preferência. Esta é uma proposta para se conduzir com calma e para se desfrutar do espaço e conforto a bordo.
Fazendo-me à estrada e seleccionando a propulsão exclusivamente eléctrica, percorri 51 quilómetros até esgotar os 95% de carga da bateria com que arranquei. Só nesse momento ouvi o motor de quatro cilindros acordar. Desde esse momento, limitei-me a usar o modo híbrido e percorri mais de 250 quilómetros sem carregar a bateria. Não é esse o propósito de um PHEV, mas gostei do consumo final combinado de apenas 6 l/100 km. Gostei, também, da forma como o sistema gere a intensidade da regeneração de energia, permitindo conduzir de uma forma muito natural e fluida, muitas vezes sem tocar no pedal de travão, bem integrados nos ritmos do trânsito citadino. Sempre que possível, o motor térmico sai de cena e percorremos curtas distâncias em absoluto silêncio. Em condução normal, aquela que realmente importa, nota-se que a caixa DSG de seis velocidades está, como hábito, bem calibrada, com passagens rápidas e suaves. Mas quando aumentamos o ritmo, a história é bem diferente…
Já não é a primeira vez que me deparo com isto e a verdade é que não é um problema, pois não estamos na presença de um desportivo. O problema é que já o senti em desportivos do grupo, com idêntico propulsor electrificado: mesmo com o modo desportivo activado, a caixa DSG recusa-se a reduzir quando o solicitamos através das patilhas. Se as patilhas são para darem controlo e alguma emoção à condução, então faria sentido, ao seleccionar-se o modo desportivo, que nos fosse possível controlar as reduções ao aproximar-nos um pouco mais depressa de uma curva, mas a verdade é que a confiança é-nos retirada para fazermos a abordagem a um ritmo mais animado. Repito: estamos na presença de uma carrinha familiar. Por isso, isto pouco importa, mesmo em modo desportivo. Mas numa versão assumidamente emocional, como espero conduzir em breve, gostava de não voltar a sentir isto. Mantendo-me no capítulo dinâmico, importa referir que esta unidade está equipada com suspensão com amortecimento variável, algo que costumo valorizar, por permitir ter o melhor de dois mundos ao toque de um botão, mas neste caso diria que uma afinação fixa chegaria para se manter o bom compromisso entre conforto e dinâmica. Esta é uma proposta que não precisa do superior controlo de movimentos da carroçaria que o modo mais rijo proporciona.
Passando ao interior, tratando-se da motorização híbrida, o Octavia Break perde 150 litros de capacidade na bagageira, descendo dos habituais 640 para uns ainda respeitáveis 490 litros. Debaixo do piso, existe ainda um espaço para arrumar os cabos de carregamento. No banco de trás são excelentes as novidades. Os passageiros laterais, pelo menos de estatura equivalente à minha, com 1,8 metros de altura, podem contar com pelo menos quatro dedos de folga para joelhos e cabeça. As janelas abrem totalmente e há três tomadas de carregamento – uma de 230 V e duas USB-C que complementam as outras duas na frente. No lugar do condutor, como é também usual nos automóveis do grupo Volkswagen, a posição de condução ideal é fácil de encontrar e tudo está onde deveria estar. Só que não está lá tudo. E por tudo, refiro-me aos comandos da climatização, incorporados no infotainment, uma solução que inevitavelmente nos faz desviar os olhos da estrada mais do que devíamos. É uma questão de hábito à qual seria melhor não nos habituarmos, uma solução a que Skoda foi obrigada a aderir, mas que de “Simply Clever” tem pouco. Quanto a materiais e construção, nota muito positiva para o Octavia.
Resta-me abordar o preço, número que no caso deste “AJ83CM” vale 40.333 euros (mais 475 euros da pintura metalizada). Parece-me um valor justo, não só considerando aquilo que oferece, em equipamento, espaço, conforto, eficiência e potência, mas também quando feita a comparação com alguma da sua concorrência. Só se torna caro quando comparado com o seu homónimo no mercado espanhol, pelo qual a Skoda pede 36.700 euros. São mais de 3.500 euros de diferença. Adiante (antes que o preço da gasolina volte a subir). Mas no que diz respeito a qualidade geral, o Skoda Octavia coloca-se, a meu ver, num patamar elevado dentro do seu segmento e é mais um daqueles casos em que realmente não se percebe como não nos cruzamos mais com modelos Skoda nas estradas nacionais. Felizmente, e sem querer voltar a “bater” no nosso mercado, importa dizer que as coisas “lá fora” são bem diferentes e o Octavia é um automóvel que goza de uma maior reputação e sucesso comercial, ambos, a meu ver, mais do que justos.