Hyundai IONIQ 5: um “VHS” na era do stream
O IONIQ 5 apresenta uma estética que parece saída de um videoclip futurista dos anos 80. Faz girar cabeças, destaca-se na rua pelas melhores razões e por dentro só os passageiros importam. Um eléctrico com muito potencial.
O título é enganador, atenção. De antigo, este IONIQ 5 só tem mesmo a estética, que nos remete para os carros mais rectangulares e cheios de arestas dos anos 80. Parece que já o estou a ver a andar por uma marginal californiana, com um condutor de cavas e óculos demasiado grandes de lentes roxas transparentes com uma fita de ténis na cabeça e uma imagem cheia de ruído e arranhada.
Já o tamanho, é bastante diferente dos carros dessa época. Para maior, entenda-se. Dá para “enfiar” um Lancia Delta dentro deste IONIQ 5. Tem uma distância entre eixos de 3 metros, superior a muitas berlinas de segmentos familiares e superiores. Espaço, portanto, é o que não falta. É, afinal de contas, um crossover.
Mas e então?
Pronto, pronto, vamos ao que interessa. Deixemos as narrativas imaginárias de parte. Para começar – como já deves saber – isto é um carro eléctrico. Podia dizer BEV, mas estou farto de siglas. Qualquer dia já só falamos assim. “Olhe, desculpe, queria um CCE e para acompanhar um PN morninho”. “E quer CANELA?”. “O que é isso?”. “Oh, homem, é canela! Quer canela?”.
Desculpa, perdi-me. É um carro eléctrico. E um bom carro eléctrico. Consome um pouco mais do que devia, mas isso é o preço a pagar pelo peso e tamanho do bicho. Mas se o conduzires com jeitinho, a utilizar a travagem regenerativa, a acelerar suavemente e a deixar rolar sempre que possível, a coisa até fica simpática. Especialmente em cidade, que é o melhor sítio para andar com eléctricos, pois rolamos a velocidades mais baixas.
A bateria deste IONIQ que testei era a de 73 kWh, o que, em teoria, deveria dar para uns quase 500 km de autonomia, um pouco mais em cidade. Isto pressupunha um consumo na ordem dos 14 a 15 kWh/100 km. Que não é o caso. É melhor contares com uns 17 a 18 kWh/100 km. Isto significa que esta bateria dará para cerca de 440 km realistas. Ainda assim, nada mau.
A tracção é traseira, com um só motor de 217 cavalos e 350 Nm de binário, suficientes para acelerar bem depressa. 8,5 segundos no sprint e velocidade máxima de 185 km/h. Não que importe, porque isto dos eléctricos é bom mas para andar com calma. Se preferires um pouco mais de potência, tens à disposição – mediante o pagamento do seu valor, naturalmente – uma versão com tracção integral e dois motores, um em cada eixo, num total de 305 cv e 605 Nm. Acelera bastante mais rápido (5,2 segundos) mas, com a mesma bateria, a autonomia sai um pouco mais penalizada.
Dá para muito?
Se dá! Para o dia-a-dia em cidade, trabalho e tal, incrível. Os eléctricos são bons é nisto. Agora, se quiseres fazer uma viagem, por exemplo, de Lisboa a Coimbra – que é já ali “ao virar da esquina” – tens de ter em conta que será necessário recarregar um pouco antes de voltares. Felizmente, o IONIQ 5 permite carregamento ultra rápido, e em 18 minutos carregas dos 10% aos 80%. Se sai barato? Não. Mas esses carregamentos são para ser feitos, apenas, esporadicamente. Em casa – que é onde sai bem mais barato que combustíveis tradicionais – para o mesmo carregamento, vais demorar cerca de 24 horas numa tomada doméstica ou 7 a 12 horas numa wallbox (dependendo do tipo de wallbox).
Isto assusta? Nem por isso. Quanto tempo é que estás, efectivamente, a andar com o carro? Exacto. Facilmente consegues deixar o carro a carregar uma noite inteira ou duas intercaladas se for necessário. Agora, se não o consegues carregar em casa, clica noutro artigo nosso (temos muitos e bons) que os eléctricos não são para ti.
E lá dentro?
Gostas de espaço? Eu também. Então vais adorar o IONIQ 5. Atrás, cabem três pessoas com bastante espaço. Para a do meio e tudo. Não há túnel de transmissão e a distância entre eixos permite ter espaço de sobra para as pernas. Como o carro é relativamente alto, para a cabeça também há. Na frente, igual. A largura de quase 1,90 metros ajuda a habitabilidade. O infoentretenimento utiliza-se através de um ecrã de 12,3 polegadas e outro igual para o painel de instrumentos. A leitura é fácil e a interface também. É bastante fluido o que ajuda a não perder a paciência.
A condução é suave e o carro deixa-se conduzir na boa. Nada pesado (apesar de o ser), uma direcção leve e bastante directa, o que ajuda a manobrar em cidade. São mais de 4,6 metros e duas toneladas de peso, mas não parece. Até mesmo nas rotundas e nas ruas mais estreitas de Lisboa, o IONIQ 5 portou-se muito bem. A posição de condução é boa e bastante ajustável e o único ponto menos bom, para mim, foi a posição do volante. Parece alto e inclinado para a frente um pouco mais do que seria ideal. Atrapalha? Não.
A tecnologia está lá toda, com os sistemas de segurança todos, os bancos dianteiros e traseiros aquecidos, volante aquecido, sistema de som Bose, carregador de telemóvel wireless, e outros. Está lá tudo. Quanto aos materiais e construção, é tudo de boa qualidade e boa montagem e só os puxadores exeriores das portas é que atrapalham se tiveres as mãos pequenas. Consegues abrir as portas – mal seria – mas não são a tarefa mais fácil. Voltando ao exterior, para além do design meio retro, também os faróis dianteiros e traseiros têm essa mística, chamemos-lhe assim, a fazer lembrar pixeis em LED. Tudo somado, é um carro com qualidade, prático em todos os aspectos e um bom augúrio para um futuro que, ao que tudo indica, será eléctrico. O preço desta versão é de 51.000€, mais 519€ para a pintura metalizada opcional.