Em segunda mão: BMW Z1 Roadster
Apresentado à imprensa internacional no Outono de 1988, o BMW Z1 causou, certamente, reacções tão díspares quanto os resultados de uma análise do quase sempre inútil VAR num qualquer jogo de futebol. E claro, em grande parte por causa da solução escolhida para a abertura das portas, tão inédita outrora como actualmente, ao fazê-las desaparecer para dentro das embaladeiras, no Z1, maiores do que é habitual. E voltando a 1988, teríamos de andar ainda mais para trás no tempo, cerca de 30 anos, até encontrarmos o último desportivo de dois lugares produzido pela BMW, o icónico 507, modelo que, certamente, destruiu muitas vezes a escultura capilar do “Rei do rock’n’roll”, Elvis Presley.
O Z1 foi por isso um modelo visto como um grande salto para o futuro, o resultado do trabalho de uma equipa restrita de engenheiros na BMW a quem tinha sido dada a tarefa de desenvolver um projecto-piloto onde se utilizassem novos materiais e metodologias de produção. Segundo a própria BMW, o projecto-piloto vendeu-se a si mesmo, incentivando-os a avançar para a produção do Z1. Era, simplesmente, demasiado bom, e uma nova interpretação de um tipo de modelo que há muito não tinha na sua gama. Menos de um ano depois, nascia o primeiro protótipo, apto a circular e a 1 de Agosto de 1986 a BMW anunciava publicamente que a BMW Technik AG tinha concebido o seu primeiro produto.
Já em Agosto do ano seguinte, é feito o há muito aguardado anúncio: a BMW iria revelar o novo Z1 Roadster no Salão de Frankfurt. Numa fase inicial da produção, com requisitos específicos, iniciada em Junho de 1988, a BMW prometia construir diariamente até seis unidades do seu desportivo com motor dianteiro e tracção traseira. Segundo consta, uma publicação alemã da especialidade ofereceu 150 mil marcos para comprar o exemplar exposto, algo que não era possível porque o Z1 não estava sequer homologado. E também porque tinha custado à BMW qualquer coisa como 2 milhões de marcos alemães. “Está fora de questão!”, terá, certamente, alguém gritado em alemão.
A abordagem futurista estendia-se à construção do chassis e carroçaria que combinava uma estrutura monocoque em aço galvanizado com elementos de plástico no fundo, bem como no exterior. O resultado final, em termos de rigidez estrutural e de protecção dos ocupantes em caso de acidente, foi, nesse aspecto, surpreendente. Voltando às portas, sem dúvida o maior destaque deste agora eterno clássico bávaro, estas deslizavam, electronicamente, para as invulgarmente grandes embaladeiras. Conduzir um BMW Z1, de portas abertas, deve ser uma sensação simplesmente espectacular, algo que nenhum outro modelo, pelo menos que me lembre, consegue igualar. Só retirando as portas convencionais, claro, algo que, digo eu, iria atrair as atenções dos agentes da autoridade.
Seis em linha, pois claro
Motor e chassis foram em grande parte herdados do Série 3, sendo o primeiro o suave 2.5 litros, seis cilindros em linha, com 170 cavalos de potência. A caixa é manual e tem 5 velocidades. A nível de suspensão, as grandes novidades estavam atrás, onde o Z1 inovava com o Z-Axle, uma geometria multibraços com triângulos duplos. A distribuição de peso de 49:51, bem como um centro de gravidade dez centímetros mais baixo do que numa berlina equivalente davam, igualmente, um grande contributo para a dinâmica de referência do inconfundível Z1. A BMW declarava uma velocidade máxima de 225 km/h e uma aceleração de 0 a 100 km/h em menos de 8 segundos. Actualmente, pode não impressionar os fãs mais “acelerados” da marca, mas são números mais do que adequados ao Z1, bem como aos tempos modernos. Com cerca de 4 mil encomendas feitas aquando da sua fase de lançamento, e com um preço de 83 mil marcos, toda a produção do Z1 tinha já dono até ao final de 1990.
Após ter construído cerca de 8 mil unidades, a BMW deu por concluída a produção do Z1 em Junho de 1991. Hoje em dia, mais de 30 anos depois da sua apresentação, o BMW Z1 é um clássico em todo o seu direito, o primeiro de uma linhagem de sucesso para o símbolo de Munique e um dos mais originais e inovadores roadsters de sempre. Depois de uma rápida pesquisa virtual, encontrei, de imediato, quatro exemplares à venda no site Classic Driver, com preços que variam entre os 43 350 e os 64 500 €. Mas por 59 000 €, está por lá – ou melhor, pelos Países Baixos – um irresistível Z1 verde de 1991 com apenas 35 mil quilómetros percorridos e dois proprietários no seu histórico. Foi entregue ao seu primeiro dono pela BMW de Groningen e eu não me importava nada de ser o seu terceiro. Porque tenho saudades dos BMW de outrora. São tantos e tão bons que podia muito bem ter escolhido outro qualquer modelo para fazer este primeiro artigo “Em segunda mão”, de um exemplar que é, na verdade, em terceira mão. Mas escolhi o Z1.
Fotografias: BMW / Gallery Aaldering