Ford Mustang Mach-E: será o “game-changer” que faltava?
Numa década que se adivinha dos eléctricos, será este Mustang a peça que faltava para virar o jogo? Estivemos alguns dias com o SUV eléctrico da Ford para descobrir.
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Para começar, nada como um pouco de polémica. Na minha opinião, este carro é um Mustang. Não é o clássico coupé muscle car, mas é um SUV eléctrico que mantém o espírito do original: fazer o que os outros fazem, mas com mais estilo e, possivelmente, melhor.
Enquanto algumas marcas andam a fabricar eléctricos com mais potência que um camião TIR, mais tecnologia que um satélite e um preço tão alto que faz as finanças salivar, a Ford decidiu fazer as coisas um pouco diferentes. É um SUV – também não vão ser parvos, não é? – é eléctrico e é bastante user friendly (desculpem-me a carrada de inglesismos que estou a usar).
Por partes
É óbvio que iam começar por um SUV. Então se toda a gente anda por aí louca por eles, não havia a Ford – uma das maiores construtoras – de fazer também um e ir buscar uns bons dólares de paixão? Pois claro! Mas isso não significa que tivesse de fazer um SUV normal. E assim foi. Pegaram num crachá bem conhecido e espetaram-no na frente (e traseira, e volante, e ecrã) deste Mach-E. Os aficionados ofendidos começaram logo a brandir e o departamento financeiro da marca de Detroit a esfregar as mãos com a quantidade de free publicity que iam ter.
Mas isto, só, não chegava. Tinha de ser bonito. E se a beleza é relativa e pessoal, eu dou a minha opinião, embora ninguém ma tenha pedido: é incrível! Giro, com umas linhas elegantes mas desportivas, sem serem demasiado agressivas, ao mesmo tempo que tem uma fluidez espantosa. O carro, parado, parece que está a andar. E não sou só eu que acho, a avaliar pela quantidade de gente que virava a cabeça ao vê-lo passar e pelos cinco turistas italianos que “apanhei” à volta dele quando vim de um almoço. Afinal os “mericans” também sabem desenhar.
Depois, a parte que deu início a este projecto: ser um carro eléctrico. Ora, sendo que há duas baterias disponíveis (77 ou 98 kWh) e duas motorizações (motor traseiro ou um em cada eixo, ambas com diferentes potências), há-de-haver um Mustang Mach-E para todos os gostos. O que testámos foi o de tracção integral com 351 cavalos e a maior bateria, com uns anunciados 540 km de autonomia. Bons números, mas a autonomia ficou aquém.
Será que chega?
Já muitos anunciaram que o Mach-E tem uma eficiência muito boa e que se comporta muito bem em estrada. Ora, eu não andei propriamente a testar as suas capacidades dinâmicas, mas, sim, a sua utilização no dia-a-dia. Aquela que, para 90% dos utilizadores, interessa. Não consegui baixar o consumo para menos de 18/19 kWh, o que daria uma autonomia para esta bateria long range de cerca de 490 km, mais coisa menos coisa. Anunciava menos, ainda assim. O que não é mau, atenção. Mas para tanta bateria, estava à espera de mais. Preciso de testar a versão normal, com o motor traseiro e com a bateria de 77 kWh para comparar. Acredito que, com a condução que fiz, a versão Base seria mais eficiente. Quanto o testar, voltamos aqui.
Continuando, seguimos para o interior. E, aqui, a Ford bate todos “aos pontos”. Tem um ecrã gigante onde se controla tudo à la Volvo e Tesla? Tem, sim, senhor. Tem botão físico para controlar o volume à la “como deviam ter todos os carros”? Tem, sim, senhor. Tem botões dedicados para a climatização? Não, mas os que tem no ecrã funcionam muito bem, embora estejam posicionados um pouco abaixo demais do que seria ideal. Mas, no geral, o controlo centralizado de todas as funções é rápido, bastante intuitivo e de fácil leitura.
A posição de condução é muito boa, bem como o conforto, mas para mim acho que devia ser possível baixar mais o banco. Fico um pouco alto demais para o meu gosto. O conforto compensa essa “falha”, mas fica a nota. De resto, todos os outros lugares são muito confortáveis e todo o ambiente a bordo do carro é super convidativo. Arejado, muita luz (o tecto panorâmico fixo ajuda bastante) e uma excelente sensação de espaço, sem ser demais, se me faço entender.
Vá, e é rápido?
Anuncia uma velocidade máxima de 180 km/h – o que é normal dado ser um carro cujo propósito é ser eficiente – e o sprint em pouco mais de 7 segundos. Nada mau, mas, ainda assim, não são estes números que impressionam. Os carros eléctricos são incríveis é nas recuperações, aquelas acelerações dos 50 aos 100 km/h, por exemplo para entrar nas estradas e autoestradas. Aí é que eles te colam ao banco. É verdade que nos semáforos também são bons, mas em última análise, não são carros desportivos. Os que o são, percebe-se porque pouco mais altos são do que uma criança. Agora estes SUV eléctricos grandotes são bons é a ser mais ou menos bons em tudo. Têm mais espaço que a maioria, são rápidos q.b., são eficientes, etc. A nível dinâmico, não me pareceu ser super como tem sido dito, mas para SUV esteve muito bem. Plantado em recta e em curva, sem perder uma onça de conforto, que é, aliás, um dos seus pontos mais fortes, a par do design.
Concluo?
Os sistemas de segurança estão lá todos, bem como uma data de equipamento de origem, como o meu favorito volante aquecido, os bancos aquecidos, retrovisores aquecidos, faróis LED dianteiros e traseiros, telemóvel como chave (e dá para programar um código para abrir o carro que se insere clicando em números no exterior do pilar B), pára-brisas em vidro laminado, carregamento de smartphone sem fios, entre outros.
Tudo isto por um preço base de 66.600€, com a possibilidade de adicionar o pack Tech ou Tech + que adiciona mais uma data de equipamento. Mas eu diria que o equipamento base já é super completo. A versão com a bateria mais pequena custa cerca de 57.300€. Por este preço, podes comprar a versão Base, só com tração traseira mais a bateria de 99 kWh, ou por pouco menos de 50.000€ a versão com a bateria de 77 kWh. A meu ver – e ainda sem a ter testado – esta será a melhor escolha preço/qualidade. A versão GT, com os seus quase 490 cv e autonomia para quase 500 km custa 74.600€.
Pode não ser o game-changer que esperava, mas é um eléctrico acima da média por um preço interessante. Não é para as massas, e esse é o seu problema, ainda que esteja a vender que nem pães quentes. Pode ser que a Ford, entretanto, faça um Focus-E. Aí, se calhar, a conversa já será outra.