Híbridos recarregáveis: serão a solução que aparentam?
O Isaac já tinha testado o Cupra Leon E-HYBRID e concluiu que é um Cupra para todos os dias, ao contrário do que o historial da marca deixaria adivinhar. Eu, por outro lado, senti algo um pouco diferente.
Quando testo um compacto familiar hatchback – um segmento cada vez mais raro graças ao advento dos SUV – fico contente. Por duas razões: a primeira, por gostar destes carros. Acredito que são o equilíbrio certo entre espaço, tamanho e necessidade. São suficientes para a maioria das viagens e para a maioria das necessidades. Segundo, porque fico contente que ainda se continue a apostar nestas configurações.
Os SUV até são interessantes e entendo que muita gente goste deles. Grandes, espaçosos, dão uma sensação de segurança e dão um certo estatuto que, antigamente, estava reservado às grandes berlinas de segmentos superiores. Ainda assim, acho que são um desperdício. De materiais, de espaço, de combustível (com um peso maior é invariável que consumam mais) e não creio que esta tendência vá abrandar.
As marcas continuam a apostar neles e cada carro novo que é anunciado vem sempre acompanhado pela sigla SUV. Se não for SUV parece que não serve, que é secundário, que ninguém vai comprar. Ora, eu diria que as pessoas compram o que houver, dentro da oferta. Se as marcas não têm outro tipo de carros, as pessoas compram o que há. Naturalmente, as margens de lucro são superiores quando os carros são mais caros. E isto e uma tendência que terá efeitos complicados no sector e no ambiente. Já se fala, até, que os utilitários e citadinos vão acabar. Uma pena, diria um, pois são, muito provavelmente, os carros mais adequados para a mobilidade. Na minha opinião, devíamos estar a apostar em eléctricos compactos altamente eficientes e a dar tudo para evoluir tecnologicamente as baterias o mais possível, juntamente com painéis solares nos carros e outras coisas mais.
Atenção, os carros eléctricos têm mais de 100 anos! Leste bem. Quando os carros surgiram, havia para todos os gostos. A vapor, que demoravam muito tempo a “aquecer” (mas na volta até dava para fazer chá pelo caminho), a combustão, barulhentos e muito poluentes e eléctricos. É certo que custavam cerca de duas vezes mais que os térmicos e as baterias não eram incríveis, mas venderam-se muitos e as pessoas gostavam. Suaves, silenciosos e não poluíam as cidades. Havia estações para trocar as baterias por outras já carregadas e tudo! E os cientistas estavam a desenvolver a tecnologia. Devagar, é certo, dentro das limitações da ciência da época. Mas o crescente aumento da exploração petrolífera fez com que as marcas começassem a apostar nos motores térmicos. Não só eram mais baratos como o combustível começou a ser, também ele, muito barato. Daí que as marcas e a tecnologia tenham passado para o “lado mau” da força.
Surge o Ford Model T e pronto, esqueceram-se completamente dos eléctricos. Durante quase 60 anos ninguém quis saber dos eléctricos, claramente melhores que os térmicos. E é aqui que “entra ao barulho” o Cupra Leon e-Hybrid com que andei há uns dias. Perdoem-me o resumo histórico, mas tem uma razão de ser. Os motores térmicos evoluíram muito porque todos os intervenientes do sector apostaram neles. Essa é a solução para os eléctricos. Se queremos recuperar os mais de 60 anos em que quase ninguém quis saber deles, temos todos de passar a apostar tudo – e tudo mesmo – nestas soluções. Esquecer os interesses do petróleo e olhar para o interesse da tecnologia. Tecnologia, essa, que terá outras aplicações benéficas para a sociedade, ao contrário do petróleo. O meu telemóvel, que eu me tenha apercebido, não funciona com sem chumbo aditivada.
O Cupra Leon é um pouco o resultado desse interesse. Já muitas marcas apostam nos eléctricos, mas é bom ver uma marca com um cariz mais emocional e dizer “alto, que também há emoção nos electricidade”. E se o motor 1.4 litros, turbo, a gasolina, de 150 cavalos não é assim nada de especial, juntando-lhe o eléctrico a coisa muda um pouco de figura. 245 cavalos e um gostoso binário de 400 Nm são números que já impõe respeito. E se a isto juntarmos os cerca de 50 quilómetros de autonomia totalmente eléctrica a coisa fica ainda mais gostosa. O melhor de dois mundos, eu diria.
A autonomia eléctrica devia ser maior (100 quilómetros, vá) mas pode ser que daqui a uns tempos a aumentem e o motor a gasolina podia ser mais “nobre” (um 1 litro todo tecnológico e poupado ou um 2 litros todo tecnológico e poupado), mas tudo somado, temos um carro incrível a nível mecânico. Suave, com uma condução muito boa – o chassis do Leon foi muito bem trabalhado – com uma direcção bastante directa e sem perder o conforto que esperamos de um carro que custa mais de 40 mil euros. O irmão Seat Leon e-Hybrid é melhor? Não. É diferente. Mas se quiseres poupar uns 3 mil euros, vai para o Seat que também ficas contente. Até porque, convenhamos, não vais andar para aí a acelerar feito maluco. Se for preciso pisar o acelerador, tanto um como o outro respondem muito bem, apenas com um ligeiro atraso da caixa a reduzir, mas que é compensado com o motor eléctrico. O push que o carro tem durante os primeiros 5 segundos é muito rápido. Tão rápido que ao fim desse tempo já estás em infração.
Se os híbridos recarregáveis são a solução? Não creio. Mas que são parte dela, especialmente para uma transição faseada – importante para a economia e sociedade -, isso não há dúvida. Todos os carros deviam ter autonomia eléctrica. Dos citadinos aos SUV de luxo. Mas principalmente os citadinos… se não pararem de os fazer.
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