Kia Rio 1.0 T-GDi – Quem não arrisca, não petisca
Nunca tinha conduzido um KIA Rio, um cenário que não podia continuar inalterado. E como gosto de propostas pensadas para o comum dos mortais, os carros de todos os dias, para todas as ocasiões, para quem só tem “espaço na garagem” para um único automóvel, esta era uma falha que há muito queria corrigir. Aproveitei o balanço, e no seguimento do ensaio ao novo Ceed, agendei, igualmente, um dos novos Rio para finalmente o experimentar. Recentemente actualizado, o Rio não é, de todo, um dos modelos do seu segmento com que mais nos cruzamos na estrada. O que lhe falta, então, para começar a ser uma opção mais considerada? Será que esta mais recente modernização lhe deu o que efectivamente precisa para se impor perante a concorrência? Chega de perguntas. Avancemos para as respostas, ponto a ponto.
Design
Eu gosto do Rio, mas isso pouco importa para o seu desempenho comercial. Quem tem de gostar, no geral, é o seu público-alvo e não apenas um tipo que gosta de pouca irreverência e arrojo. Esse é, provavelmente, o problema do Rio, o facto de ser, assumidamente, um modelo com um design demasiado conservador quando comparado com que a concorrência faz. Assim de repente, lembro-me do Toyota Yaris e do Peugeot 208. A clássica silhueta hatchback tem linhas bem definidas e, globalmente, transmite uma sensação de proporcionalidade que me agrada bastante, mas reconheço que lhe falta alguma “chama”, alguma emoção, principalmente num Rio branquinho como este que me calhou, sem contrastes estéticos como por exemplo um friso colorido de uma versão GT Line ou equivalente. Uma avaliação sempre muito subjectiva mas que é, queiramos ou não, um dos factores de maior importância na hora de escolher um carro novo, se o seu design é, ou não, apelativo, se mexe, ou não, connosco e nos faz, de imediato, tomar uma decisão. Eu gosto, mas repito, percebo que o Rio não seja esse automóvel.
Habitáculo
Passando ao interior, o Rio volta a não apostar num design futurista ou exageradamente elaborado, mas aqui, tenho de admitir, novamente, de que gosto bastante do resultado final. Mais ainda do que o conservadorismo que as suas linhas dão à carroçaria. É simples, é certo, mas acho-o apelativo. É um carro moderno, mas pensado para ser usado, onde tudo está no sítio certo. A climatização tem botões físicos, o infotainment é fácil de usar, existem zonas muito acessíveis para colocar o smartphone e afins, o painel de instrumentos tem uma leitura clara e a posição de condução ideal é fácil de encontrar. Esta última, no entanto, só não é melhor porque o banco do condutor não é o mais confortável. Nas “voltinhas”, não é grave, mas em viagens maiores, nota-se. Já os materiais são rijos, todos eles, sem excepção. Atrás, sem ser uma referência no segmento, há espaço adequado para dois adultos, bem como na bagageira, onde só lamentei a ausência de um fundo amovível. O pneu suplente estava lá.
Motor e condução
No que ao motor diz respeito, encontrei neste Rio o que já esperava encontrar. Um pequeno, mas enérgico 1.0 T-GDi de 100 cavalos com as mesmas virtudes e defeitos identificados em contactos prévios. O “pulmão” está lá, com potência e binário mais do que ajustados a um carro da sua dimensão e peso, mas o consumo final de 6,2 lt/100 km não é representativo de uma utilização maioritariamente citadina que habitualmente leva este valor para os 7 lt/100 km e onde, arrisco-me a dizer, os Kia Rio mais tempo passam. E se os benefícios de uma transmissão com relações longas se traduzem em baixo ruído de funcionamento e médias mais contidas em ambiente de autoestrada, em cidade não lhe reconheço grande contributo. Isto para além de achar que as relações estão também demasiado “distantes”, obrigando a subir a rotação para não provocar uma queda muito grande de regime – para fora da zona onde o motor gosta de respirar – ao passar à mudança seguinte, algo que só me incomodou entre 1ª e 2ª, ao arrancar. E arrancar é uma coisa que fazemos muito no meio da cidade. Já em movimento, a condução do Rio destaca-se pelo conforto, quer pelo de utilização, sempre fácil, bem como pelo de rolamento, com uma suspensão branda que se mostrou à altura dos buracos, lombas e “cenas” que dominam as nossas estradas. Também os pneus, com um perfil considerável, contribuem para esse conforto a bordo. A direcção é leve, bem como o comando da caixa de seis velocidades, ajudando, e muito, para a facilidade de condução que acima referi.
Preço e equipamento
As campanhas da KIA são irresistivelmente tentadoras, colocando o preço base do Rio nos 15.000 euros se optares pelo motor 1.2 a gasolina, um quatro cilindros a gasolina com 84 cavalos. Mas não optes. Escolhe antes este três cilindros sobrealimentado, muito mais “cheio”, e que, com o mesmo desconto de 3.250 euros, pode ser teu a partir de 17.050 euros, na versão Drive, a única disponível. Se o quiseres com caixa automática DCT, a KIA vai pedir mais 1.800 dos teus euros. O preço é excelente e a garantia de 7 anos também, mas o Rio tem, como vimos, outros argumentos, como o enérgico, mas algo gastador, motor T-GDi, bem como um óptimo nível de conforto. Mas concluindo, e respondendo à pergunta inicial, sobre o que lhe falta para começarmos a ver mais “Rios” na rua, diria que o tal conservadorismo do seu design o anda a prejudicar. Falta-lhe arriscar, mostrar-se mais, quer por dentro, quer por fora, e assim saltar à vista perante a concorrência. Acho que sobre a qualidade do produto e sobre a actual imagem de marca da KIA já não há nada a acrescentar, mas o Rio parece-me um pouco deslocado perante modelos mais recentes como o Ceed, o XCeed e o impressionante EV6. Talvez na próxima geração. Só espero que não exagerem, porque, repito, gosto do Rio assim.