Eclipse Cross: Ao volante do SUV híbrido plug-in da Mitsubishi
Depois de termos estado na apresentação nacional do novo Mitsubishi Eclipse Cross, pudemos agora ter um contacto mais prolongado com o mais compacto irmão do best seller Outlander. Nesta nova interpretação, está sempre associado a uma motorização híbrida plug-in.
Lançado originalmente em 2017, o Eclipse Cross posicionou-se entre o mais pequeno ASX e o já mencionado e maior Outlander. Destacou-se por uma estética assumidamente arrojada, principalmente na traseira, com uma janela composta por duas secções interrompidas por uma faixa de luz horizontal. Em Portugal não se vêem muitos Eclipse Cross e imagino que a estética demasiado fora da caixa seja um dos principais motivos para isso. Ainda assim, a Mitsubishi refere que entregou quase 67.500 unidades a clientes europeus até Outubro de 2020.
Linhas que não são para todos
Mas foi precisamente nessa irreverente traseira que a Mitsubishi focou os seus esforços para actualizar a estética do seu SUV médio, agora com visual menos agressivo. A meu ver, está bastante melhor. A postura SUV, mais elevada, é, no entanto, compensada por uma carroçaria que procura ir buscar algum carácter desportivo a umas linhas coupé. A ideia é boa e há vários modelos que o conseguem fazer com relativo sucesso visual. Mas a linha descendente do tejadilho, combinada com a ascendente linha de cintura, criam, em determinados ângulos, um efeito visual algo estranho, a de que o topo do pilar A é uma zona exageradamente elevada relativamente ao resto da carroçaria.
Já na frente, gosto bastante mais do que vejo, linhas decididas e diferentes do habitual, mas no geral, bem conseguidas. Há muita coisa a acontecer, muita informação, mas no que diz respeito ao exterior, a secção dianteira é, para mim, o ponto alto do Eclipse Cross.
Conservador, mas com vantagens
E se por fora o Eclipse Cross é um SUV de design inconfundível, já no interior, o habitáculo transmite uma sensação quase simétrica à do exterior. O arrojo e definição das linhas da carroçaria não são aqui prolongados, num ambiente menos inspirado e mais anónimo, mas que tem, por outro lado, a vantagem de não chocar. Tudo é mais convencional e aplauda-se a presença de comandos físicos para a climatização.
A qualidade dos materiais é boa e a construção transmite solidez, mas quer o painel de instrumentos, quer a consola, revelam a idade do projecto. O infotainment pode até não ter o grafismo mais moderno, mas é fácil de utilizar, com “botões” grandes para que o condutor não tenha que desviar, por muito tempo, os olhos da estrada. Também a lista de equipamento de segurança convence, disponibilizando, por exemplo, o alerta de desvio de faixa e os máximos automáticos.
Ainda por dentro, a posição de condução do Eclipse Cross é, como seria de esperar, elevada. E isto mesmo colocando o banco na posição mais baixa. O volante tem boas regulações, mas também ele sofre do problema apontado a outros elementos do tablier, o seu design, já algo “gasto” pela passagem do tempo. Os bancos são confortáveis e têm função de aquecimento e, ainda à frente, o espaço para a cabeça chega a parecer exagerado.
Atrás, os passageiros laterais vão encontrar espaço adequado para pernas e cabeça e quem se sentar ao meio, embora não tenha que conviver com um túnel de transmissão intrusivo, nunca vai tão bem instalado. Isto deve-se, em grande parte, ao apoio de braço central no encosto do banco. A bagageira tem cerca de 400 litros de capacidade, um volume algo curto para uma proposta familiar como esta. Porém, esta é uma limitação que se compreende dada a presença do motor eléctrico traseiro. Sim, o Eclipse Cross PHEV tem tracção integral. Mas já lá vamos.
Sistema híbrido
Herdado do bem-sucedido Outlander, o sistema híbrido do novo Eclipse Cross destaca-se pela sua capacidade de funcionar de diferentes formas. Uma delas, como é habitual, é a propulsão totalmente eléctrica. É possível forçá-la através de um botão na consola e na qual os motores eléctricos, um por cada eixo, vão buscar energia à bateria. A ficha técnica diz que o Eclipse Cross consegue percorrer até 55 quilómetros em ciclo urbano sem emissões de escape. Durante este teste conseguimos acumular pouco mais de 40 quilómetros. Em modo puramente eléctrico, a velocidade máxima é de 135 km/h e as sensações são bastante boas, com silêncio a bordo e uma boa resposta ao pedal do acelerador a contribuírem para a serenidade de utilização.
No entanto, na vertente híbrida, o sistema – composto pelos dois motores eléctricos, com 82 e 95 cavalos, por um gerador, pela bateria de 13,8 kWh e por um motor 2,4 litros, a gasolina, com 98 cavalos – admite outros dois tipos de funcionamento, em série ou em paralelo, sem que o condutor tenha qualquer controlo sobre a situação.
Série ou paralelo?
Quem manda é o cérebro do Eclipse. Este decide se o motor de combustão carrega as baterias e a propulsão é sempre eléctrica ou se, em paralelo, o motor de combustão assume a propulsão do eixo dianteiro, sendo ajudado pela unidade eléctrica da frente (o motor traseiro continua a funcionar). O excedente da energia produzida pelo motor “dois ponto quatro” é aproveitado pelo gerador para carregar as baterias. Não há caixa de velocidades na cadeia cinemática, sendo o acoplamento do motor às rodas feito através de uma embraiagem, ficando o sistema a funcionar como se de uma longa relação directa se tratasse.
O condutor pode ainda escolher o modo Save para poupar autonomia eléctrica, o modo Charge para forçar o carregamento da bateria através do motor térmico, bem como escolher entre seis níveis de travagem regenerativa através das patilhas no volante. Quanto a carregamento externo da bateria, é possível fazê-lo através de uma tomada doméstica, em 3,5 a 5,5 horas, ou num ponto de carga rápida, recuperando 80% da capacidade em 25 minutos.
A transição entre os modos híbridos é imperceptível e o funcionamento do sistema convence pela amplitude de situações que cobre, bem como pela constante prioridade que dá à propulsão eléctrica. A entrada em cena do motor térmico, quando necessário, é muito suave.
Consumos e conclusões
A Mitsubishi anuncia uma média de apenas 2 litros/100 km, considerando os 55 quilómetros de autonomia eléctrica. Ou seja, um consumo de 2 lt/45 km que se traduz num “consumo híbrido” declarado de 4,4 lt/100 km, valor do qual andei longe. O melhor que consegui foi 6,5 lt/100 km.
A potência combinada é de 188 cavalos, a velocidade máxima é 162 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h faz-se em 10,9 segundos. Três valores que podem não impressionar, mas que são, todos eles, adequados à utilização confortável e tranquila a que o Eclipse Cross aponta. E esse carácter sereno está igualmente presente na resposta da direcção e na afinação da suspensão. Ambas claramente orientadas para o conforto e menos preocupadas em trazer dinamismo às quase duas toneladas que o Eclipse pesa. Ainda assim, não lhe faltam os modos de condução Eco e Normal, bem como outros três que o ligam ao fantástico Lancer Evolution: os modos Tarmac, Gravel e Snow. Também inspirado nesse mítico modelo, o sistema activo Super All-Wheel Control promete uma melhor tracção e um controlo superior das trajectórias.
São vários os elogios a fazer ao Eclipse Cross, sendo que o maior deles é uma sensação geral de qualidade, de durabilidade e resistência. Tenho a certeza de que este “AJ97ZD” funcionará tão bem daqui a 15 anos ou 200 mil quilómetros como funcionou agora, praticamente novo. É, tenho a certeza disso, uma compra segura. Mas para o comprares, nesta única versão eMotion, terás de “eclipsar” 53 mil euros. Uma “grande nota” para um carro que, como qualquer outro que se baseie num projecto mais antigo, tem, igualmente, as suas falhas.
A maior falha é, quiçá, uma crise de identidade, o de querer parecer algo que não é. Arrojado por fora, mas conservador por dentro, com inspiração desportiva, mas com performance eficiente, o Eclipse Cross é um modelo de simetrias. Um modelo em que toda a tecnologia inteligente híbrida contrasta com os seus consagrados, mas antiquados genes, como a sua plataforma. A combinação é estranha, tal como o design que não é, efectivamente, para todos. O produto é bom, competente e fiável, disso não tenho dúvidas, mas com este preço, não lhe prevejo uma vida fácil no nosso mercado.