Renault Captur – O crossover perfeito para o dia-a-dia?
Já que o Renault Captur pertence ao segmento da moda, escolhi para título deste artigo uma pergunta, o tipo de título que está, também, na moda. Actualmente, qualquer ensaio automóvel que se preze tem de começar com uma questão. O leitor, espera o autor, fica assim mais curioso com o conteúdo do artigo. Ou então não. Isto porque, por vezes, a resposta é mais do que óbvia, matando o convite e sem incentivar a leitura do texto até ao fim ou a ver o vídeo até que se chegue à altura das conclusões. Por esta altura já perdi alguns dos leitores que tentei cativar, imagino.
Por isso, decidi chamar a vossa atenção – espero eu – com uma pergunta, com este assumido e tão recorrente “semi-click-bait”. Detesto, admito, mas usei. Se não os vences, junta-te a eles. Mas uma pergunta precisa de uma resposta, algo que posso, até, não conseguir dar. E isto porque para além de eu não ser cliente do segmento SUV/crossover, o Captur pode até responder às minhas necessidades, mas não às tuas. Por outro lado, se considerarmos a utilização que o automóvel tem no dia-a-dia – a maior parte deles, pelo menos – em termos de lotação utilizada e distância percorrida, um segmento B é, quase de certeza, o que melhor encaixa na equação. Se calhar é, até, demais, mas pronto. Se só se pode ter um automóvel, então que não nos limite quando precisarmos de mais e de melhor. É por isso que gosto bastante deste segmento de mercado, onde o Captur é um dos nomes mais relevantes.
Design no ponto, habitáculo confortável e versátil
Começando pelo design, este está, para mim, no ponto. Há propostas mais arrojadas, bem como outras mais conservadoras, quer por dentro, quer por fora, mas como não gosto de dar demasiado nas vistas, nem de conduzir um automóvel anónimo, considero o trabalho da Renault muito positivo neste aspecto. É um Captur, não há como enganar, até porque, para os mais distraídos, está bem explícito o seu nome na porta da bagageira. Mas as suas modernas linhas, desportivas, até, dão-lhe bastante personalidade, mais ainda quando pintado numa cor forte, o que considero essencial no “meu Captur”.
No habitáculo, elemento que realmente importa num automóvel no quotidiano, é obrigatório destacar os materiais do Captur, um grande salto em qualidade se considerarmos a primeira geração. A posição de condução não é exageradamente alta, algo que agrada. Para ser melhor, gostaria que o volante estivesse mais na vertical, mas aceito, “because crossover”. Os bancos são confortáveis e a visibilidade é bastante boa, um ponto importante ao circular em cidade, no meio do trânsito, das esquinas, das passadeiras, das motas das entregas e das trotinetes a 240 km/h em plena Av. Fontes Pereira de Mello.
Relativamente aos bancos de trás e à bagageira, o Captur esconde um útil truque: o banco desliza. Esta solução não é inédita, mas são cada vez menos os modelos que a propõem. Por isso, consoante as necessidades do dia, é possível transportar dois adultos com bom espaço livre ou aumentar o volume disponível para transportar carga na bagageira, espaço que varia entre os 422 e os 536 litros. Excelentes valores para o seu segmento e uma funcionalidade que é verdadeiramente prática e versátil.
Híbrido, se puder ser
O motor deste Captur com identificação “AI38MT” é o excelente 1.3 Turbo de 140 cavalos, a gasolina e com tecnologia mild hybrid, que recentemente elogiei no ensaio ao Arkana. No entanto, e por muito que goste do andamento que dá ao Captur, bem como do conforto de utilização da caixa EDC, a gama contém motorizações bem mais apelativas do ponto de vista da eficiência para o dia-a-dia. Algo que coloque o consumo combinado num valor mais baixo do que 7,2 l/100 km, o mínimo que consegui e que não deixa de ser simpático se pensarmos no quão bem este Captur anda. Mas menos seria ainda melhor.
Por isso, o “Captur perfeito” para todos os dias diria que é dos dois mais seriamente electrificados: o híbrido com 145 cavalos – que por 29.800 € custa menos 200 € que este TCe 140 EDC – ou, para quem tenha acesso a um ponto de carregamento e assim usufruir das suas reais vantagens, a versão híbrida plug-in de 160 cavalos. Este último, considerando o mesmo nível de equipamento, R.S. Line, requer um investimento maior, “atirando-se” para os 35.840 €, mas respondendo, igualmente, com uma autonomia eléctrica que, segundo a Renault, pode chegar aos 65 quilómetros. E mesmo que em condições reais sejam 50, quantos quilómetros fazes por dia? Pois. Pensa bem.
O meu Captur perfeito para o dia-a-dia
Tentando responder à pergunta inicial, sim, o Captur tem tudo para ser o crossover perfeito para o quotidiano. Tudo o que referi e, claro, uma longa lista de equipamento de conforto e segurança. Mas o ideal para se usar todos os dias, não é um Captur com este motor. Por muito que goste de potência, e por muito boas que sejam as capacidades do chassis do Captur, este é um modelo que aponta a uma utilização tranquila, em segurança e conforto. Por isso, tenho que ser racional e aconselhar uma das opções híbridas, disponíveis a partir de 33.840 €. Ou, por que não, a sempre apelativa opção Bi-Fuel, a gasolina e a GPL, com preço base de 22.590 €. Os crossovers acabam por ser um pouco como o fenómeno do “click-bait”. Toda a gente lá cai, eventualmente. Nem que a isso seja obrigado porque já são poucos os modelos que não andam de “calças arregaçadas”. Até pessoas como eu, a quem a “loucura crossover” passa ao lado, um dia, quem sabe, convertem-se. Se tiver mesmo de ser, no meu segmento de eleição, o Captur é um forte candidato.