Citroën C4 1.2 Puretech 155 – Direito à diferença. E à potência?
Gosto de automóveis diferentes. Gosto de saber que ainda há marcas que “arriscam” e tentam, através dos seus automóveis, destacar-se das linhas por vezes demasiado conservadoras e enfadonhas dos modelos rivais. Mas se há pessoa que prefere conservadorismo a uma exagerada e excessiva irreverência, essa pessoa sou eu, também. Dei-me ao trabalho de fazer esta introdução para justificar o porquê de gostar muito da Citroën e, quase sempre, das suas criações. Porque goste-se ou não, a Citroën faz diferente. E sempre fez. O novo C4 é disso um grande exemplo. Irreverente e, aos meus olhos, na dose certa.
No meio está a virtude. Confirmo
Este é o meu segundo ensaio à mais recente geração do C4 e para este reencontro escolhi a versão mais potente da gama, com o “mesmo” motor 1.2 Puretech do primeiro C4 que guiei, mas com 155 cavalos em vez de 130. Este “anda mais”, não tenho dúvidas disso. Mas justificar-se-á pagar mais 2.000 € para ter um automóvel familiar, assumidamente focado no conforto, com mais 25 cavalos e 10 Nm? Considerando o quão bem o C4 “se mexe” com 130 cavalos, não me parece que se justifique. Os 155 cavalos retiram quase 1 segundo no sprint de 0 a 100 km/h, mas o consumo combinado foi, como seria de esperar, ligeiramente superior. Devolvi este “AI29OM” à Citroën com uma média de 7,5 l/100 km, mais meio litro “aos cem” do que a versão de 130 cavalos. Abaixo, existe ainda uma versão de 100 cavalos, mas “não me parece”.
A caixa automática de 8 velocidades continua a ser um dos destaques da experiência de condução do C4, explorando bem a boa disponibilidade do pequeno motor e casando na perfeição com o estilo de condução mais relaxado a que o C4 convida. A suspensão branda, ao melhor estilo Citroën, faz maravilhas ao absorver as baixas frequências das ondulações frequentemente presentes nas vias rápidas e autoestradas, fazendo do C4 um soberbo rolador. Já nas mais esburacadas estradas urbanas, embora o conforto esteja igualmente em bom plano, os argumentos da suspensão “mágica” Citroën não me pareceram tão notórios. Mas verdade seja dita, há estradas tão más que nem de Citroën se pode esperar um milagre.
Conforto. Sempre o conforto
Aumentando-se o ritmo, e apesar da suavidade do amortecimento, os movimentos da carroçaria são até bastante bem controlados, sendo que o primeiro elemento do C4 a dar sinais de desconforto são os pneus Michelin e-Primacy, levando a frente a alargar a trajectória se puxarmos pelos 155 cavalos nesses momentos. Não se pense por isso que o C4 não gosta de curvas, gosta sim de as fazer como se exige a um Citroën, a ritmos calmos e moderados, para desfrutar do conforto, impressão para a qual também contribuem os bons bancos, nesta unidade, com função de aquecimento para os passageiros da frente e, inclusivamente, com massagens para o condutor. Que luxo.
A bordo, é também importante destacar a presença de comandos convencionais para a climatização. Só por isso, o C4 é um vencedor. Ainda no que diz respeito a equipamento, não falta este Shine Pack, topo de gama, por exemplo, o carregador sem fios para smartphones, um óptimo sistema de som, a iluminação LED com assistente de máximos, o acesso e arranque mãos-livres, o alerta de ângulo morto, as jantes de 18 polegadas e o tecto panorâmico. O painel de instrumentos é totalmente digital e embora disponha de toda a informação que se espera encontrar, podia ser ligeiramente maior. Não só facilitava a leitura, como preenchia melhor aquela zona do tablier, onde predominam plásticos agradáveis ao toque. Relativamente a materiais, não gostei do acabamento do forro do tejadilho, revelando algumas pregas nas zonas mais irregulares. A rever. O espaço no banco de trás convence e a bagageira está, também, à altura do que seria de esperar numa proposta destas dimensões.
Potente, sim, mas muito fácil de conduzir
Apesar de se tratar da versão mais potente da gama – mais até do que a versão eléctrica, com 136 cavalos – este C4 mantém a característica que mais valorizo numa proposta deste género: ser fácil de conduzir. Para isso contribui a disponibilidade do motor, a entrega linear da potência, a suavidade da caixa de velocidades (com patilhas no volante), bem como um amortecimento assumidamente orientado para o conforto e uma grande disponibilidade de equipamento. Por outro lado, a barra traseira que interrompe a visibilidade no retrovisor, é algo a que é necessário criar hábito quando estamos ao volante. É o preço a pagar pelo estilo exterior da carroçaria.
Mas e o preço a pagar por este C4? Os cerca de 31.440 € que a Citroën pede por ele? São justos? Diria que sim, considerando o recheio e a motorização em causa. Mas como acima referi, justificar-se-á o investimento superior? Diria que não. O C4 com motor de 130 cavalos é todo o C4 de que precisas, pelo menos a nível de motor. E se prescindires de uma oferta de topo a nível de equipamento, podes sempre optar pelo nível de equipamento Shine, ainda recheado, e o preço final já se fica por uns bem mais simpáticos 28.000 euros. Direito à diferença? Tem de certeza e exerce-o. E direito à potência? Também o tem, mas deste pode prescindir. Eu, pelo menos, prescindo. Do design diferenciador, sou fã, assumo.