Citroën ë-Berlingo – Uma aventura no espaço
Pareceu-me o título apropriado para este artigo. Não tanto por ser um fã assumido da saga James Bond, nem pelo facto do clássico Moonraker – Aventura no Espaço ver uma grande parte da sua acção desenrolar-se em França, terra natal da Citroën, mas sim porque este ë-Berlingo simboliza na perfeição esse conceito. O de partir à aventura num dos veículos mais curiosos que conduzi recentemente, onde a sensação de bem-estar a bordo é, sem dúvida alguma, o grande destaque de toda a experiência de utilização.
Uma sensação que é, na verdade, bem mais do que apenas e só uma sensação, pois o espaço livre abunda em todas as direcções no habitáculo. Principalmente para cima, onde a vista livre para o céu através do tejadilho em vidro é apenas interrompida pela zona de arrumação central no teto acima das duas filas de lugares. O Berlingo é, aliás, excelente nesse aspecto. Todos os ocupantes vão, de certeza, encontrar um sítio onde arrumar os seus objectos. Em complemento da excelente bagageira, há ainda um espaço fechado acima desta, no tejadilho, com acesso pelo banco de trás ou pela traseira.
Versatilidade é palavra de ordem
A contribuir para a excelente versatilidade a bordo estão igualmente os três bancos individuais da segunda fila. E mesmo que sejam um pouco estreitos, não limitam assim tanto a sua utilização e conforto. Ainda mais para mais são, igualmente, rebatíveis em separado. Aceder-lhes é muito fácil, pois as portas traseiras são de correr. Já a grande porta da mala não será fácil de abrir se num qualquer parque de estacionamento não nos deixarem espaço livre atrás. Duas portas de abertura lateral talvez fosse uma solução mais simpática, mas a Citroën terá, certamente, justificação para o ter feito assim. E com a porta aberta dá para fazer um piquenique à sombra, ou abrigados da chuva. É enorme.
Na frente, o conforto é indiscutivelmente superior. Não só os bancos são melhores, como ambos contam com um respetivo apoio de braço que tanto contributo dão para tornar a experiência ainda mais confortável. Entre os bancos existe, no entanto, um enorme espaço livre que me parece mal aproveitado. Uma consola com compartimentos seria bem-vinda, principalmente com tomadas de carregamento USB a que os passageiros de trás, normalmente crianças com os seus tablets, pudessem aceder. No tablier, destacam-se o ecrã táctil do infotainment e o painel de instrumentos digital complementado pelo heads-up display.
A motorização eléctrica deste ë-Berlingo é idêntica, pelo menos em números, à do “primo” que conduzimos recentemente, o Peugeot e-208. Conta por isso com 100 kW de potência, ou seja, 136 cavalos e 260 Nm de binário. Não é um eléctrico para ganhar as corridas ao cair do verde num semáforo, mas acelera com destreza, se necessário. Não lhe faltam inclusivamente os modos de condução, para usufruirmos de mais ou para pouparmos e regenerarmos energia para a bateria de 50 kWh. Quanto a carregamento, a opção mais rápida, num posto de 100 kW, permite carregar 80% da bateria em “meia horita”. Nada mau.
Mais de 200 quilómetros de autonomia, garantidamente
Arranquei para este ensaio com 98% de carga e uma autonomia esperada de 272 quilómetros. Percorri os primeiros 100 quilómetros a uma média de 17 kW/100 km, o que me parece bastante aceitável, considerando o peso e a pouca eficiência aerodinâmica de um veículo como o Berlingo. Com este valor de consumo constante, seria possível ter-me aproximado da autonomia inicial. No entanto, aumentando-se um pouco o ritmo, bem como recorrendo com alguma frequência à climatização, são de esperar médias de consumo mais na casa dos “vintes e pouco”.
A muita superfície vidrada faz maravilhas pela luminosidade a bordo, mas igualmente pela condução, com uma óptima visibilidade dianteira, uma autêntica panorâmica do caminho à nossa frente. Gostei igualmente do rolar confortável deste Berlingo silencioso. A suspensão não tem, obviamente, a mesma capacidade de filtragem de um verdadeiro familiar, mas gostei do seu desempenho, pouco “saltitão”, algo que acontece com regularidade a bordo dos sempre pesados eléctricos. O ë-Berlingo é, por isso, uma excelente alternativa aos mais comuns SUV, com um habitáculo verdadeiramente versátil e uma excelente vivência a bordo, bem como com uma imagem jovem e aventureira, nesta unidade ampliada pelo pack XTR. O seu preço final fica ligeiramente acima dos 34 mil €. Gostei bem mais do que esperava gostar, admito.