Toyota Yaris Cross – Indiscutivelmente Toyota, indiscutivelmente bom, mas…
Com um título assim, não há como enganar. Está visto que o novo Yaris Cross deixou boas impressões dos dias que passou comigo, mas é, também, óbvio, que nem tudo é perfeito no novo crossover urbano da Toyota. Como já o disse no passado, não há automóveis maus, mas há melhores e piores, claro que há, ou não fazia sentido nenhum avaliá-los e tentar perceber aquilo em que se destacam pela positiva ou por algo menos bom.
Também não será novidade para ninguém a qualidade elevada dos produtos Toyota, algo que tenho vindo a comprovar ao longo dos últimos anos. Talvez por isso, e no seguimento das excelentes impressões com que fiquei da mais recente geração Yaris, tenha encarado este ensaio ao seu irmão crossover com expectativas elevadas. A Toyota e o novo Yaris, eleito carro do ano em 2021, colocaram a fasquia bem alta, mas o “mas” do título tem a sua justificação.
Exteriormente, gosto bastante do que a Toyota fez com o seu novo crossover. O “Cross” é, claramente, um membro da família Yaris, sendo suficientemente diferente do modelo que lhe serve de base para não lhe podermos apontar o dedo por ser apenas um Yaris de “saltos altos”. É um dos modelos do segmento esteticamente mais apelativos, mais ainda quando a carroçaria veste uma cor forte como a unidade que conduzi, complementada ainda pelo tejadilho contrastante em preto.
“Mas” o quê?
Mas se por fora fiquei muito agradado com o que encontrei – eu e muitos dos que o viram – o mesmo não posso dizer do interior do Yaris Cross, onde desde logo não gostei de não encontrar o painel de instrumentos estreado pelo Yaris, uma solução original e arrojada, com “pinta”. A Toyota optou por um design mais convencional, ainda que digital, mas sem causar a mesma sensação de modernidade.
Quanto a materiais, e como é hábito no segmento, são mais agradáveis ao toque na metade superior do tablier e mais rijos à medida que vamos descendo. Faz todo o sentido que assim seja, mas a zona da consola central, pouco inspirada, não tem o aspecto que o Yaris Cross merece, sensação para a qual os antiquados botões dos bancos aquecidos contribuem. E já que falamos de bancos, é importante mencionar o quão confortáveis são.
Bom para quem viaja atrás
A posição de condução é bastante boa, elevada, como mandam as regras do segmento, permitindo assim uma boa visibilidade para a frente onde a linha de cintura baixa e o desenho fino do pilar A também ajudam. Mas ao volante, também não gostei do mau acesso às zonas de arrumação nas portas, bem como da qualidade de imagem da câmara traseira de apoio ao estacionamento.
O Yaris Cross compensa, no entanto, com um sistema heads-up display, bem como com um sistema de som da JBL potentíssimo, capaz até de colocar alguns plásticos menos nobres a “cantar”. O banco de trás é bem desenhado e os passageiros podem contar com centímetros livres suficientes para pernas e cabeça e até o lugar central é bastante utilizável – em trajectos curtos – graças a um túnel central inexistente.
O acesso à bagageira é feito por uma porta de abertura eléctrica e ali não falta um muito útil piso amovível, em duas peças, bem como protecções de borracha nas costas do banco traseiro. No fundo da bagageira está uma muito bem-vinda roda suplente, algo que até podemos nunca usar, mas que gostamos de saber que está disponível.
Ao volante, um Toyota híbrido
No que diz respeito à condução, são vários os elogios a fazer ao Yaris Cross. O primeiro é, desde logo, a facilidade com que se deixa levar. Transmissão em Drive, propulsão híbrida e comandos leves unem-se à já mencionada boa posição de condução para oferecer uma experiência de mobilidade simplificada e relaxante.
O comportamento dinâmico, mesmo sem o controlo de movimentos oferecido por rivais como o SEAT Arona, Nissan Juke e Ford Puma, convence pela positiva. Por oposição, a nível de conforto, o amortecimento do Yaris Cross proporciona uma capacidade de filtragem de irregularidades muito convincente, mesmo quando equipado com jantes de 18 polegadas, como o exemplar ensaiado.
A potência combinada de 116 cavalos está mais do que ajustada ao Yaris Cross e a eficiência do propulsor híbrido é inegável, comprovada pela média final de ensaio de 4,7 litros/100 km, valor que, diga-se, não me foi nada difícil de atingir. Já o motor de combustão, o três cilindros a gasolina com 1.5 litros de cilindrada, podia estar mais bem insonorizado.
Preço é outro “mas”
Os pontos menos bons que apontei, como pequenas falhas ao nível da escolha de materiais e ergonomia, bem como a insuficiente insonorização do habitáculo, são detalhes que não mancham um desempenho muito positivo de um novo modelo que utiliza tecnologia com provas dadas, quer ao nível da eficiência, quer ao nível da fiabilidade.
No entanto, o preço de 24.400 euros, valor que até pode ser justo para o que o Yaris Cross oferece em termos de tecnologia híbrida, compra apenas a versão de entrada de gama, algo “despida” a nível estético e de equipamento. Não digo que devas apontar a um recheado Square Collection, mas a Toyota cobra mais de 25.000 euros pelas apelativas versões intermédias, um preço, talvez, justo, como referi, mas que me parece, ao mesmo tempo, algo elevado. E com isto termino com um último “mas”. Bom, sem dúvida, mas paga-se.