Novo Kia Sportage: o (longo) ensaio completo
Depois de ter estado presente na apresentação nacional da quinta geração do Kia Sportage, cujas primeiras impressões partilhei neste artigo, aí prometi, igualmente, um ensaio mais detalhado. Assim, e depois de cinco dias na companhia do SUV que pretende rivalizar com modelos como o Jeep Compass, o SEAT Ateca, o Peugeot 3008, o Nissan Qashqai, o novo Renault Austral e, por que não, com o seu meio-irmão Hyundai Tucson, passemos, então, ao que importa, resumindo aquilo que são os argumentos e pontos menos bons do novo Sportage, para que percebamos se também a KIA vai conseguir marcar a sua posição naquele que é um dos segmentos mais significativos do mercado, o dos SUV de segmento C.
Por fora
Bem conseguido. Até o tom branco, uma das cores menos inspiradas da bonita palete de tons que a Kia propõe, assenta bem no novo Sportage. A dianteira é totalmente dominada pela gigantesca grelha, mas a verdade é que o contraste conseguido e a agressividade da secção dianteira resultam muito bem. A iluminação diurna “boomerang” dá, também, muita presença e identidade ao novo Sportage. Na lateral, a linha de cintura elevada e ascendente dá à carroçaria o essencial dinamismo e atrás destaca-se, claramente, a barra transversal que une os farolins, uma solução que é, cada vez mais, utilizada para destacar a largura da traseira e que remete, também, para o topo de gama da marca, o elétrico EV6.
No geral, e na minha opinião, a KIA fez um bom trabalho, apostando numa dose adequada de irreverência para que o seu novo Sportage não seja apenas mais um SUV de segmento C, mantendo, no entanto, um certo conservadorismo para continuar a apelar aos condutores e famílias que não estão preocupados em dar demasiado nas vistas. Em branco é bonito, sem dúvida, mas as cores Experience Green, Yuka Steel Gray e Machined Bronze são, de longe, as minhas cores de eleição.
Por dentro
Passando ao interior, são também bastantes os motivos para estar agradado. O habitáculo foi, aliás, um dos elementos mais destacados pelos responsáveis da marca durante a apresentação à imprensa. A inevitável digitalização é destaque, estendendo-se do painel de instrumentos, com grafismo e apresentação originais, até ao ecrã táctil do infotainment, dupla digital incorporada num só corpo. Tal como o EV6 – eleito Carro do Ano 2022 e recentemente ensaiado aqui na Garagem – o novo Sportage combina, numa só consola, os comandos multimédia com os da climatização, bastando pressionar um “botão” para alternar entre funções. Dispõe, inclusivamente, dos ainda muito apreciados botões rotativos para facilitar a operação, sendo também possível – mas não preferível, na minha opinião – controlar a climatização no ecrã táctil.
Na consola central, a presença de cinco tampas onde deveriam estar cinco botões lembra-nos de que este é um Sportage de nível de equipamento Drive, menos recheado e o único disponível ao optarmos pelo motor 1.6 T-GDi, a gasolina, aqui em ensaio. No entanto, não se pense que isso é sinónimo de pouco recheio. Senti falta do acesso e arranque “sem chave”, admito, algo que valorizo, mas ali não falta o ar condicionado de três zonas, os modos de condução – Eco, Normal e Sport – a câmara traseira e um extenso pacote de elementos de segurança, como o controlo automático das luzes de máximos, o assistente inteligente de velocidade e um incrivelmente chato e insistente sistema de apoio à manutenção na faixa de rodagem. Chato, porque é muito nervoso e presente, dando constantemente sinais da sua intervenção através do volante, situação que só tende a piorar em vias mais estreitas. Insistente porque, mesmo depois de desligado, o Sportage volta a activá-lo no início da viagem seguinte.
Para quem viaja atrás, o Sportage provou, igualmente, ser uma excelente opção, beneficiando do ligeiro incremento das suas dimensões. Não tenho, normalmente, a possibilidade de testar a lotação máxima das novas “máquinas” que vou conduzindo, mas a experiência foi desta vez possível, uma vez que o Sportage foi o veículo de serviço para levar um grupo de amigos a jantar fora a uma sexta-feira à noite. Com muitos centímetros livres para pernas e cabeça – bastantes, mesmo – o Sportage fez furor junto do sexo feminino, recebendo elogios pelo muito espaço disponibilizado e pelo ajuste em inclinação do encosto. O lugar do meio não é o mais confortável, não tanto pela falta de espaço, mas pela rigidez do encosto que é, na verdade, um apoio de braço rebatível.
Ainda por ali, nota positiva para as janelas que abrem na sua totalidade, para a presença de duas tomadas USB-C e pelo já referido controlo independente da temperatura. A bagageira do Sportage a gasolina é, também, enorme, com quase 600 litros de volume útil, destacando-se por permitir fazer o rebatimento do encosto do banco a partir dos manípulos nas laterais, criando um plano de carga completamente horizontal, bem como por disponibilizar um espaço debaixo do alçapão para esconder a chapeleira. Simples e útil. Relativamente a materiais, o Sportage cumpre perfeitamente com o esperado no segmento, combinando plásticos mais agradáveis ao toque na zona superior do tablier e portas dianteiras, com outros menos nobres, aplicados, por exemplo, na zona abaixo da linha média do tablier, na consola central e portas traseiras. A qualidade de construção deixou boas impressões, mas é impossível avaliar ruídos parasitas num automóvel com menos de 100 quilómetros no odómetro.
Condução e motor
Disponível pela primeira vez com propulsores electrificados, o Sportage pode ser um híbrido auto recarregável ou um híbrido plug-in, mas a KIA optou também por manter a aposta em versões puramente térmicas, Diesel e a gasolina. Para este primeiro contacto, calhou-nos esta última opção, com motor 1.6 T-GDi de 150 cavalos e caixa manual de seis velocidades. E no que diz respeito ao motor, a experiência ficou marcada por altos e baixos. Por um lado, é um motor muito agradável de utilizar, refinado, disponível, suave e possante, explorado por uma transmissão manual também ela muito fácil de operar. Mas a verdade é que esta é uma combinação mecânica pouco apelativa para um SUV como o Sportage, um veículo familiar para ser utilizado todos os dias, em que o conforto de condução e consumos baixos ganham outra importância. Uma caixa automática seria, sem dúvida, uma mais-valia para o conforto de utilização, bem como uma média de consumo em ciclo combinado mais simpática do que os 8,2 l/100 km com que terminei o ensaio. Considerando o que custa, é uma excelente proposta, mas apenas para quem não fizer assim tantos quilómetros. Fica prometido o regresso do Sportage à Garagem, numa das suas versões híbridas.
Já a posição de condução agradou-me bastante mais, suficientemente elevada para quem assim a valoriza ao optar por SUV, com boa visibilidade para a frente, mas transmitindo, ao mesmo tempo, uma sensação de “casulo” e de “encaixe” ao volante, proporcionada, também, pela elevada linha de cintura, envolvendo, assim, o condutor na acção. Acção essa que se destaca por um bom compromisso entre conforto e dinâmica, com a suspensão e o perfil considerável da borracha que calça as jantes de 18 polegadas a ajudarem a filtrar, com eficácia, o efeito das irregularidades do piso. Quando o percurso se torna mais exigente, o Sportage, apesar do seu volume e altura, responde sempre com uma agilidade adequada e uma boa sensação de segurança, tal como exigido a uma proposta deste género.
Uma compra segura, garantidamente
Sem surpresas, o Sportage não só representa um grande salto relativamente à geração anterior, como é mais uma prova do bom momento que a KIA atravessa, uma proposta de argumentos abrangentes e com uma oferta igualmente alargada em termos de motorizações, capazes de responder a quase todos os tipos de necessidade e utilização. O design exterior, se complementado por uma cor apelativa, é um dos vários pontos fortes do Sportage. Já debaixo do capot, e sendo um fã assumido de motores a gasolina, gostei do “pulmão” revelado pelos 150 cavalos e 250 Nm de binário, mas não gostei do consumo em que isso se traduz.
A oferta de equipamento de segurança é, como vimos, extensa, mas a calibração do assistente de manutenção na faixa de rodagem, embora cumpra, e bem, a sua função, deveria ser revista, a fim de se intrometer menos na condução. Este aspecto não me parece exclusivo do novo Sportage, pois já me deparei com situação idêntica noutros modelos do grupo. A habitabilidade é outros dos pontos fortes, talvez um dos que merece, efectivamente, um dos maiores destaques. A habitabilidade e a garantia, obviamente, que passou dos já muito apelativos 7 anos para 10 anos ou 200.000 quilómetros. Dá que pensar. Mais ainda se considerarmos o preço – com campanhas – muito justo e convidativo de 28.750 €. Pode até não ser a motorização mais poupada, nem ter o nível de equipamento mais apetrechado da gama, mas este Sportage 1.6 T-GDi Drive é muito automóvel para o preço que a KIA pede por ele.