Ford Puma 1.0 Ecoboost 155 – No meio não está a virtude
Voltar ao Ford Puma, depois de com ele me ter reencontrado há umas semanas através da sua versão ST, está longe de ser um passo atrás na experiência. É certo que, sendo a versão topo de gama, com motor de 200 cavalos e uma afinação de suspensão mais orientada para um circuito do que para uma estrada, nenhuma outra versão do Puma é tão entusiasmante e eficaz quanto a ST. Mas como já o afirmei no passado, não há, no segmento dos crossovers de segmento B, outro modelo como o Puma. Há outras propostas que são, também, ágeis e divertidas de conduzir, mas nenhuma – pelo menos das que conheço – chega aos calcanhares do Puma no que à dinâmica diz respeito.
Aliás, o Ford Puma, nas suas versões mais dóceis, é de tal maneira bom e envolvente que a potência acaba por passar para segundo plano. A versão de 125 cavalos do multipremiado motor 1.0 Ecoboost é mais do que suficiente para nos deixar com um sorriso na cara, mas para quem quer um pouco mais de “pujança”, a Ford propõe igualmente esta versão de 155 cavalos. Tem notoriamente mais pulmão, acelerando com vigor até aos regimes mais elevados, deixando os passageiros incrédulos quando lhes digo que se trata de um motor com um litro de capacidade.
Consumo: podia ser melhor
E para além do “downsizing”, outra inevitabilidade e um sinal dos tempos é a electrificação dos motores Ecoboost, tecnologia presente neste Puma que ensaiei. Os benefícios em termos de performance estão lá, certamente, diluídos na óptima disponibilidade revelada a baixa rotação, mas o contributo para uma maior eficiência foi ainda mais difícil de identificar, isto porque a média final de ensaio deste Puma ST Line V ficou-se pelos 7,7 l/100 km. Um valor que, mesmo não esquecendo o que este Puma anda, podia ser um pouco mais simpático.
Quem poderá ter alguma influência neste resultado é a caixa automática de 7 velocidades, transmissão que me agradou mais durante uma condução tranquila, do que quando estamos a “apertar” com o Puma. Para esses momentos, não lhe faltam, inclusivamente, as patilhas no volante, mas senti a caixa mais à vontade a ritmos baixos, com passagens rápidas e suaves que contribuem, e muito, para o conforto de uma condução tranquila no dia-a-dia na cidade.
Por outro lado, a afinação mais decidida da suspensão revela o seu lado mais eficaz nos traçados mais sinuosos e sobre bom piso quando saímos da cidade, mostrando-se menos adaptada a lidar com as muitas lombas e buracos que enfrentamos em ambiente urbano. Não o considero, de todo, desconfortável, mas não é, certamente, a melhor opção para quem o conforto é a prioridade máxima. As jantes opcionais de 19 polegadas também não ajudam, mas há no segmento propostas mais orientadas nesse sentido.
Por dentro, não senti que o Puma fosse um dos crossovers mais espaçosos do seu segmento, mas os dois ou três dedos de folga no espaço para pernas e cabeça são garantia de que os passageiros de trás viajam em conforto mais do que adequado. Se a viagem for a cinco, o passageiro do meio vai tornar a experiência bastante mais apertada, como é normal neste segmento de mercado. Já a bagageira surpreende pelo volume e versatilidade, com o compartimento – lavável e com ralo para escoar a água – escondido debaixo do piso amovível ocupado por uma bem-vinda roda sobressalente.
Equipamento: tudo e mais alguma coisa
Mais à frente, condutor e passageiro viajam com outro conforto, com bons bancos e com um recheio de equipamento que é, nesta unidade, interminável. Bancos com massagem aquecidos, carregador sem fios de smartphones e sistema de som B&O são apenas alguns exemplos. No campo da segurança, este Puma propõe o assistente automático de travagem, o assistente de manutenção na faixa de rodagem e o cruise control inteligente com reconhecimento de sinais de trânsito. A nível de equipamento opcional, destacam-se o tejadilho panorâmico, o pack Tech – com detecção de ângulo morto e estacionamento automático, por exemplo – bem como a abertura eléctrica da porta da bagageira.
Obviamente, tratando-se da versão ST-Line, com o motor mais potente da gama – sem contar com o do ST – estando equipada com caixa automática, bem como dispondo de uma lista de equipamento bem comprida, este Puma é irremediavelmente caro. Depois de somados todos os opcionais aos cerca de 33 mil euros que a Ford pede por este Puma, o preço sobe para a casa dos 37 mil €. Ouch! Mais um pouco e entramos em “território ST” e a experiência passaria, imediatamente, ao nível seguinte. Isto porque por muito competente que seja a combinação do chassis com afinação ST-Line com os 155 cavalos do motor 1.0 EcoBoost, não está, obviamente, ao nível da oferecida pelo topo de gama.
Assim, optar por este nível de potência, por este nível de equipamento e por estes opcionais, resulta numa configuração muito específica e bastante difícil de justificar. Talvez apontada àqueles condutores que o queiram tal e qual como está. Por isso, não podendo chegar ao ST, e fosse eu o comprador de um Puma, olhava para o outro extremo da gama, para os níveis Titanium e Titanium X, onde a caixa automática contínua a ser opção para quem a quiser e em que a versão de 125 cavalos do motor não vai, de certeza absoluta, desiludir. Qualquer Puma é bom, e este é impressionante, sem dúvida, mas difícil de justificar.