E se os desportivos também derem para passear?
Uma pergunta que quase nunca se coloca, dado o seu propósito, mas que talvez faça sentido tentar responder. A cobaia foi o incrível Hyundai Kauai N, o SUV desportivo da marca coreana.
Não que eu não quisesse falar do SUV desportivo (?) da Hyundai, ainda para mais sendo um N, uma letra que tem cada vez mais significado. Mas aproveitei que tinha de ir a Peniche em trabalho e pensei “será que um SUV desportivo serve para mais do que ficar bonito numa brochura?”.
As respostas
Pessoalmente, acho que não. Correndo o risco de ser mal interpretado, um SUV desportivo é uma redundância. Afinal, a sigla SUV significa isso mesmo. Um veículo desportivo utilitário. Mas o que é que isto quer dizer? Basicamente, que serve para o dia a dia, para a vida normal e, depois, para ir para fora de estrada, fazer o desporto offroad. Daí a minha premissa inicial. Um SUV desportivo fica bem é numa brochura. “Olhem que giros são os carros que conseguimos fazer!”. Depois, o cliente virava a folha e, do outro lado, estavam, então, os SUV que deveria escolher.
Agora, que hoje em dia cada vez mais as pessoas escolhem SUV porque são grandes, têm uma presença maior e – na cabeça delas, pelo menos – são mais práticos, isso é verdade. Basta avaliar o tamanho das bagageiras e espaço interior entre os modelos “normais” e os seus irmãos SUV para perceber que espaço não ganham. Um caso ou outro, talvez. Mal seria se os engenheiros e designers – que, quero acreditar, gostam de carros, apesar das imposições das administrações – não soubessem fazer as coisas. Mas poucos são os SUV que conseguimos levar para fora de estrada. Ainda para mais quando lhes espetamos umas jantes forjadas de 19 polegadas com pneus de baixo perfil como é o caso deste Kauai N.
No entanto
Se não gosto? Ai gosto, gosto! Este carro tem um ar que me faz lembrar os antigos Micro Machines com os quais eu e o meu irmão brincávamos em pistas desenhadas em cadernos A5 de capa preta da Ambar, onde até desenhávamos poças de óleo nas quais tínhamos, obrigatoriamente, de derrapar com os carros, e obstáculos que nos atrasavam a fazer as voltas. E isso, para mim, é bom. A Hyundai fez um carro com pinta. E nem todas as marcas conseguem. Mas não fez um carro desportivo. Isso já tem no irmão mais baixo i30 N.
Fez um carro que, não tendo o propósito de fazer offroad puro e duro, é capaz de se portar muito bem numa classificativa de rally em terra batida, embora, lá está, as jantes sejam mais para circuito, em pista de asfalto. A maior diferença entre este Kauai N e o i30 N é – à parte do óbvio – a caixa de velocidades que, neste caso, é automática de dupla embraiagem e 8 velocidades, ao contrário da manual de 6, ambas disponíveis no i30. É mais rápida? É. Tem mais graça? Não. Mas facilita no dia a dia e isso é o que o cliente procura. Por acaso, leva também um 2 litros, turbo, com 280 cavalos. Mas pronto, tem de aprender a viver com eles. O consumo está dentro do normal. Cerca de 9 a 10 litros /100 km.
A viagem a Peniche foi super pacata e confortável, até porque a suspensão, ainda que adaptável e mais orientada para circuito, lida muito bem com irregularidades e o piso na autoestrada estava bom. Mesmo a 100, 120 km/h o carro não faz muito barulho, rola pacificamente às 2000 e poucas rotações e os bancos são confortáveis. Desportivos, é certo, mas confortáveis. Carregou duas malas ligeiras e uma mochila sem problemas e, pronto, não há muito mais a dizer sobre isso. Portou-se bem. Agora, se faria mais sentido um normal 1 litro, turbo, de 120 cavalos ou, até, um eléctrico? Isso faria. Um viagem de cerca de 100 quilómetros que seria mais económica, mas não mais confortável. Nesse aspecto, o desportivo também dá para passear. Mas hei-de repetir a viagem com a versão eléctrica do Kauai para perceber melhor.