Skoda Enyaq iV Sportline 80 – O melhor Skoda que já guiei. Pronto, já o disse
É uma afirmação forte, bem sei. Mas fiquei verdadeiramente impressionado com este Enyaq de aspecto ameaçador e desportivo, embora, na verdade, e ainda bem, não o seja. Nem ameaçador, porque é incrivelmente fácil de guiar, nem desportivo, porque mesmo “mexendo-se” bem, as suas prioridades são bastante diferentes. Espaço, conforto e eficiência, essas sim, são as áreas em que se foca o primeiro Skoda assente sobre a plataforma MEB.
Discretamente impactante
Foi-me praticamente impossível passar despercebido com este imponente veículo, uma carroçaria familiar, com toques de SUV, mas sem uma exagerada altura livre ao solo. Na frente, uma enorme grelha – fechada, como é normal no mundo dos “electrões” – iluminada, e na lateral, umas jantes de 21 polegadas merecedoras do comentário “que llantas más chulas!” comprovam a curiosidade, bem como o espanto daqueles que não esperavam nele encontrar o símbolo da Skoda. Imagino que numa configuração menos discreta, como esta quase “full black”, o Enyaq ainda tivesse dado mais nas vistas.
Abrir a porta para entrar no Enyaq iV é um momento equiparado ao de aceder a um pequeno lounge sobre rodas, com iluminação ambiente, onde os passageiros da frente podem desfrutar de bancos integrais, muito confortáveis. Quem viajar atrás também não vai, de certeza absoluta, queixar-se da falta de espaço. Abunda, quer para pernas, quer para cabeça, e até o lugar do meio é bastante utilizável graças à ausência de um túnel central, pecando apenas pelo encosto rijo devido à presença do apoio de braço.
Os bancos da frente, apesar do seu volume, não invadem demasiado o campo de visão de quem vai sentado atrás. Porém, por ali faltam, nesta unidade, as indispensáveis tomadas USB. Num veículo apontado às famílias, estas não deviam ser opcionais. Por dentro, é importante destacar a qualidade dos materiais empregues, bem como a sensação de robustez e durabilidade, esta última, só confirmável, obviamente, daqui a uns anos. Mas a sua solidez global é notável, bem patente, também, no habitual teste do “bater de porta”, absolutamente convincente do ponto de vista da qualidade de construção.
Na estrada
Iniciei o meu ensaio com o pequeno painel de instrumentos digital a mostrar 386 quilómetros de autonomia, algo longe dos 537 quilómetros prometidos pela Skoda, uma diferença não só explicada pelo facto da bateria de 77 kWh úteis não estar carregada na sua totalidade, mas também porque, imaginei eu, com base na média efectuada desde o carregamento, a autonomia possível fosse aquela indicada. Fiz-me à estrada para um primeiro percurso de 75 quilómetros, maioritariamente em autoestrada, e cheguei ao destino com um consumo de 17,9 kWh/100 km. A média actualizada confirmou as minhas suspeitas, aproximando-se do valor prometido. Mas foi dentro da cidade que confirmei, uma vez mais, que esse é o ambiente preferido dos eléctricos, onde melhor proveito se tira da regeneração de energia nas desacelerações e travagens, com a média de consumo a colocar-se entre os 14,5 e os 15 kWh/100 km. Mantendo-se esses registos, é bem possível que se atinja a autonomia declarada pela Skoda.
Ao volante, embora se sinta, obviamente, a imediata disponibilidade do motor eléctrico de 204 cavalos e 310 Nm, a dimensão e o peso ligeiramente acima das duas toneladas do Enyaq retiram-lhe algum do poder fulminante de aceleração normalmente associado aos eléctricos. Ainda assim, acelera com vigor de 0 a 100 km/h em 8,6 segundos, um valor que é perfeitamente aceitável. Assim como o é a sua velocidade máxima de 160 km/h. E apesar do seu tamanho, e como acima já o referi, o Enyaq conduz-se com uma grande facilidade, transmitindo uma óptima sensação de segurança. O peso elevado está lá e faz-se sentir, principalmente se abusarmos da velocidade com que fazemos as curvas, mas no modo mais dinâmico do amortecimento variável, o Enyaq ganha em agilidade e controlo de movimentos. Por outro lado, o peso é, igualmente, essencial para o excelente conforto de rolamento oferecido, do qual melhor se desfruta no modo mais brando do amortecimento.
Volto a referir, este é bem capaz de ser o melhor Skoda que já conduzi. Não os conduzi todos, é certo, mas a qualidade dos seus produtos é, hoje em dia, indiscutivelmente elevada e este Enyaq iV, por tudo aquilo que oferece, é uma proposta verdadeiramente impressionante. Não é perfeito, desde logo porque, para o momento actual de transição energética na mobilidade automóvel particular, é grande demais. Pode ser um eléctrico quase perfeito para uma família, e por isso mesmo, ainda bem que existe, mas não é o eléctrico de que as cidades precisam, aquele de que o condutor comum precisa. Esse terá o tamanho de um Fabia, digo eu. Veremos.
A melhor versão da gama
A versão 80 testada acaba por resultar na melhor autonomia da gama, uma oferta que inclui também duas versões de bateria de menor capacidade, bem como outras duas mais potentes e com tracção integral. O preço base do Enyaq iV 80 é 50.507 €, mas esta apelativa versão Sportline custa 54.640 €, ainda antes de considerados os opcionais. Um valor elevado, reconheço, mas estamos na presença de um produto incrivelmente completo, com espaço, equipamento, tecnologia e a propulsão que nos dizem ser, hoje, obrigatória.
Senti falta das tomadas USB para os passageiros de trás, bem como da possibilidade de criar um plano de carga ininterrupto com o rebatimento dos bancos. Também a consola flutuante cria um enorme e prático espaço de carga, mas o acesso, como é hábito, deixa algo a desejar. O pequeno painel de instrumentos, embora com leitura suficiente, parece algo perdido na imensidão do tablier do Enyaq e a definição da capacidade de regeneração de energia, escolhida através das patilhas no volante, é anulada sempre que tocamos no acelerador, pelo menos no modo de condução Normal. Uma pena, já que no modo desportivo, a nossa escolha é mantida.
Apesar destes pequenos apontamentos, coisas que gostaria de ter disponíveis e que não encontrei no Enyaq ou outras que gostava que fossem ligeiramente diferentes, admito que o Skoda Enyaq é um dos automóveis que mais me impressionou nos últimos meses. Não é, no entanto, o meu modelo preferido da marca, pois esse chega em breve à Garagem, mas é aquele que, actualmente, mais apto está a ter um lugar no futuro do automóvel e da mobilidade, mantendo intactas as qualidades e argumentos reconhecidos aos automóveis da Skoda, um símbolo muito injustamente esquecido em Portugal.