Audi Q4 e-tron 50 quattro – O bom que podia ser óptimo
Têm sido umas semanas verdadeiramente electrizantes na Garagem. Não só pela quantidade de automóveis novos que temos conduzido, como, também, pelo facto de o mercado assim o ditar, com cada vez mais modelos puramente eléctricos. Assim, depois de termos conduzido o Cupra Born e o Skoda Enyaq, chega agora a vez do “primo” alemão, o Audi Q4, um SUV com um posicionamento assumidamente premium e que, partilhando a plataforma MEB com os modelos acima referidos, bem como com a gama ID da Volkswagen, pretende elevar a fasquia a nível de imagem e qualidade geral relativamente aos seus rivais internos. Mas será mesmo assim? Será que o consegue?
Imponente por fora
A nível de design exterior, não há como negá-lo, o Q4 é um automóvel bem-nascido, com a robustez e imponência habitualmente associadas à imagem de marca da Audi. Gosto, por exemplo, do trabalho feito na “grelha”, um elemento que é, a meu ver, essencial para destacar a identidade de um automóvel, neste caso, através de um original padrão e textura que a destacam dos restantes elementos da dianteira. O contraste de cor aqui conseguido, bem como noutras zonas da carroçaria, ajudam a destacar as linhas do Q4 e enaltecer o bonito jogo de sombras do tom Azul Geyser, uma belíssima cor para o SUV alemão. Quem o preferir, esteticamente, com uma abordagem mais dinâmica, pode optar pela carroçaria Sportback, versão que passará, em breve, pela Garagem.
Menos inspirado por dentro
Tenho pela Audi uma grande admiração no que ao design e à qualidade dos interiores diz respeito. Os seus automóveis têm, com base na minha experiência, alguns dos melhores habitáculos do mercado. Diz-se que a beleza que realmente importa está no interior, algo que, quando aplicado aos automóveis, não é bem verdade, pois o ambiente interior tem de ser tão ou mais atractivo do que o exterior, pois compramos automóveis para os conduzir e não, simplesmente, para os admirar. Não esperava, por isso, menos do Q4. Não esperava um topo de gama, mas esperava bastante melhor, admito. Sei que é uma avaliação muito subjectiva, sei que pouco ou nada importa para o potencial comprador, porque o que “não funciona” para uns, “funciona”, felizmente, para outros, mas o design do tablier do Q4 podia, para mim, estar bastante melhor. Considerando toda a gama da marca, é pouco inspirado, “pouco Audi”, na verdade.
O volante…
Uma vez mais, podemos até estar a falar de uma questão de gosto pessoal, mas o formato do volante também não me agradou. Felizmente, o Q4 compensa com outros pontos bastante positivos. Desde logo, pelos bancos. Podem até ser em tecido e ter um desenho simples, mas mostraram-se muito confortáveis. Para quem viaja no banco de trás, tenho, também, boas novidades para partilhar, pois há muito espaço disponível para as pernas. Em altura, como é habitual, a folga não é tanta, mas está longe de criar problemas aos passageiros mais altos. O lugar central tem as limitações habituais, mas cumpre a sua tarefa. E o acesso, esse, longe de ser mau, saía beneficiado por portas um pouco maiores. Quanto a materiais, é, sem dúvida, “mais Audi” lá à frente do que atrás, onde os plásticos utilizados são menos nobres. A bagageira tem 520 litros de capacidade, um espaço próprio para arrumar os cabos de carregamento e o rebatimento do banco permite fazer um plano de carga sem interrupções.
…e ao volante
Ao volante, aí sim, desfrutei de uma experiência mais premium, “mais Audi”, onde se destaca um excelente conforto de rolamento, bem como uma óptima insonorização, dois argumentos que tão bem se combinam para elevar ao nível seguinte a tranquilidade proporcionada pela propulsão eléctrica. Dinamicamente, como seria de esperar, o peso elevado faz-se sentir nas curvas mais fechadas ou rápidas, mas a muita tracção desta versão Quattro, aliada a uma suspensão que consegue controlar, com eficácia, os movimentos excessivos da carroçaria, permitem ao Q4 manter-se fixo na sua trajectória. Tratando-se da versão 50 quattro 220 kW, é a mais potente da gama, e impressiona, também, pela sua capacidade de aceleração, despachando o sprint de 0 a 100 km/h em pouco mais de 6 segundos, mesmo superando as duas toneladas de peso. Mas mais do que isso, volto a destacar o refinamento da experiência a bordo, silenciosa e relaxante. Quanto a consumos, fechei o ensaio com uma média final de 18,8 kWh, o que significaria uma autonomia total de cerca de 435 quilómetros com esta bateria de 82 kWh.
Um perigoso rival interno
Não considero, de todo, que o Audi Q4 não seja tão bom quanto parece ser. Mas a verdade é que não só não encontrei um habitáculo com a beleza que habitualmente lhes reconheço na marca – e com um design que espelhe o impacto causado pelo da carroçaria – como também o achei uns furos abaixo daquilo que são normalmente os elevados padrões de qualidade da marca. Visual e funcionalmente, também não aprovo o volante, sendo pouco confortável nas mãos e também demasiado fácil tocar inadvertidamente nos botões tácteis. Por outro lado, a boa habitabilidade e a disponibilidade de potência são indiscutíveis, contribuindo para uma verdadeira experiência premium, plena de conforto para todos a bordo.
O seu preço base ronda os 60 mil euros e se considerarmos os muitos extras desta unidade em particular, o valor final supera os 76 mil euros. Somando tudo, o bom e o menos bom, e considerando que dispenso tanta potência num veículo familiar, o maior problema do Audi Q4 chama-se, a meu ver, Skoda Enyaq.