Ralis: Uma paixão que não tem idade (Parte 1)
Expressão popular tão vastas vezes usada, “o amor não tem idade” aplica-se, com uma ênfase ainda maior e com cada vez mais intensidade, ao universo dos ralis, não só no crescente grupo de fervorosos adeptos que seguem a modalidade, como entre os próprios praticantes. Dos mais aos menos novos, muito há para dizer (e escrever) sobre quem anda ou andou em épocas diferentes do WRC, ou nos múltiplos campeonatos e troféus que, nos últimos anos, têm surgido com o selo “Júnior” apenso, internacionais ou corridos dentro das fronteiras lusas.
Comecemos por este conjunto de números: 19 anos e 24 dias; 20 anos, 10 meses e 18 dias; e 21 anos, 6 meses e 22 dias. O primeiro refere-se à idade com que Kalle Rovanperä, hoje piloto oficial da Toyota Gazoo Racing WRT, alcançou o título de WRC2 Pro, de suporte ao WRC; o segundo quando garantiu a sua primeira vitória num rali do WRC (Estónia 2021), tornando-o no mais jovem vencedor de sempre do campeonato; e o terceiro conjunto simboliza a bem recente vitória no Vodafone Rally de Portugal 2022, conquistada com distinção há dias, tornando-o no mais novo concorrente a integrar o palmarés do nosso conceituado evento.
Hoje e assim já com pouco mais de 21 anos e meio – o finlandês veio ao mundo a 01/10/2000 – é o actual e mais que destacado líder do Mundial de Ralis 2022, fruto dos restantes resultados já alcançados este ano: começou com um 4º lugar no Monte-Carlo e depois três vitórias de rajada, na Suécia, na Croácia e, agora, em Portugal, tendo neste dois últimos garantido, igualmente, o melhor tempo na Power Stage, o derradeiro confronto que atribui uns bem valiosos pontinhos extra. A ele e ao seu navegador, bem entendido, Jonne Haltunen de seu nome, parceiro de sucesso já com 31 anos.
Filho de Harri Rovamperä, outrora piloto oficial de equipas como a SEAT, Peugeot e Mitsubishi, o jovem Kalle é visto como uma das mais promissoras esperanças do mundo dos ralis para potenciais títulos de Campeão. De temperamento aparentemente calmo, ao volante e fora do carro – por vezes parece que não foi nada com ele – tem dado autênticas lições de condução e de estratégia a muitos nomes grandes do WRC. Claro que é ainda muito cedo para se embandeirar em arco, havendo mais nove ralis no alinhamento de 2022 e a interessante vantagem de 46 pontos, a que se distancia dos seus mais directos rivais, logo se poderá diluir por qualquer glitch técnico ou nota falhada, tão comuns nos ralis. Mas as perspectivas são, para já, excelentes, e – como já disse tantas vezes em textos anteriores – sonhar não custa!
Jovens lobos em todas as estruturas Rally1 do WRC 2022
Outros expectáveis futuros campeões da disciplina integram as rivais oficiais do WRC 2022, todas apostando num misto entre experiência e juventude, aqui com pilotos abaixo da fasquia dos 25 anos. O mais novo de todos é o sueco Oliver Solberg (23/07/2001), piloto da Hyundai Shell Mobis WRT, ou seja, tem apenas 20 aninhos, estando a dois meses de fazer os 21. Já na M-Sport Ford WRT, o caçula é o britânico Gus Greensmith (26/12/1996), já com 25 anos, completados a seguir ao Natal passado.
Abaixo da fasquia dos 30 ainda estão Adrien Formaux (03/05/1995), francês da Ford M-Sport, com 27 anos completados há dias, e Takamoto Katsuta (17/03/1993), estrela japonesa da Toyota, com 29 anos já feitos e que, em Portugal, quase conquistou o seu primeiro pódio num rali do WRC, ficando a uns mínimos 2,1 segundos desse objectivo. O segundo mais novo na estrutura oficial de ralis da Hyundai é o belga Thierry Neuville (16/06/1988), à data já quase a bater nos 34.
No WRC2 Junior – outra das categorias de suporte ao campeonato principal – há, neste momento, cerca de dezena e meia de classificados, o mais novo dos quais é o colombiano Bruno Bulacia (13/08/2002), actualmente com 19 anos, ao volante de um Fabia Rally2 Evo.
Junior WRC e Junior ERC como berço do futuro dos ralis
Muitos dos nomes que hoje vemos na alta roda do WRC começaram nos denominados escalões “Junior”, iniciativas da FIA no JWRC, plataforma de suporte ao WRC, e no JERC, integrante do Europeu, ou então começaram a despontar nos diversos troféus monomarca internacionais. Por cá também a FPAK aderiu à moda, criando um JCPR, concomitante com as provas do Nacional de Ralis (CPR), também havendo uma copa monomarca com um significativo junior factor.
Começando pelo JWRC, são jovens até aos 28 anos ao volante de viaturas idênticas – no caso presente um Ford Fiesta Rally4 – fornecidas e mantidas pela uma mesma entidade sob contrato com a FIA. Estão em luta pelo ceptro de Campeão WRC3 Junior 2022 nada menos do que 7 jovens, o mais novo dos quais o finlandês Sami Pajari, com pouco mais de 21 anos e meio (nasceu a 01/12/2001) e que é o actual detentor do ceptro de 2021.
Pajari é sete meses mais novo do que o estónio Robert Virves (08/07/2000), tendo os demais adversários nascido antes da virada do Século, por esta ordem: Jon Armstrong (Reino Unido, 11/12/1994), McRae Kimathi (Quénia, 04/01/1995), Jean-Baptiste Franceschi (França, 23/02/1996), Lauri Joona (Finlândia, 07/12/1996), William Creighton (Irlanda, 20/11/1997). Inscrito na série está, também a mais recente esperança dos ralis gregos Panagiotis Roustemis (22/05/1998), se bem que ainda não tenha aparecido em qualquer rali do JWRC 2022. É melhor que se despache, pois já lá vão três de (apenas) cinco provas!
Nesta que é já a sua 22ª temporada, esta série internacional começou como Campeonato FIA Super 1600 para Condutores, sagrando Campeão, em 2001, um tal de Sébastien Loeb (26/02/1974), após seis ralis realizados em solo europeu. Seguiram-se outros nomes que hoje andam na alta esfera da disciplina, como o espanhol Dani Sordo (02/05/1983), Campeão Junior em 2005 e piloto oficial da Hyundai Motorsport, o francês Sébastien Ogier (17/12/1983), que atingiu igual desiderato em 2008, detentor de uma vasta e multi-premiada carreira, representando, no passado mais recente, a Toyota Racing, ou ainda o irlandês Craig Breen (02/02/1990), euro-laureado em 2011 e que está de regresso ao WRC a full time pelas mãos da M-Sport/Ford, ou outros cujas carreiras evoluíram para outros escalões ou direcções.
A tendência de procura de novos valores estende-se aos sub-campeonatos de ralis da FIA, em especial ao Europeu de Ralis (ERC), onde estão oficialmente inscritos 14 pilotos. Nesta categoria Junior ERC todos têm 27 anos ou menos e conduzem viaturas Rally4 ou Rally5, equipadas com pneus Pirelli, lutando por um apetecível troféu que elevará o seu vencedor ao Junior WRC de 2023. A primeira prova da presente época, de um calendário de seis eventos, foi o Rally Islas Canárias, que o francês Laurent Pellier (17/04/1995) dominou, com um Corsa Rally4. Já o mais jovem de todo o plantel é o espanhol Óscar Palomo (21/11/2002), que também vemos na Peugeot Rally Cup Ibérica e que ainda nem 20 anos tem, tal como o alemão René Noller (02/06/2002). Outro nome que surpreende por onde passa é Raúl Hernández (17/11/2001), nado em Lanzarote, nas Canárias e que se iniciou no mundo dos ralis aos 14 anos, na Estónia, país que até promove que jovens teenagers se façam à vida antes do habitual! Tendo à data 20 anos, faz ralis em várias frentes, duas delas na Ibéria.
Em Portugal: Os juniores do CPR e os leõezinhos da copa Peugeot
Por cá, em termos de CPR Junior e de acordo com as actuais classificações da FPAK, são sete os nomes a disputar os títulos de 2022: nos Pilotos temos Gonçalo Fernandes (208 Rally4), com 20 anos completos a 30 de Abril, João Silva (Clio RS R3T), que fará 22 a 3 de Outubro, e Rafael Marques Pereira (208 R2), com 27 feitos, há dias, a 12 de Maio; nos Navegadores o grupo divide-se em género , com Diogo Costa (21/12/2001), Inês Veiga (24/03/2001), Helena Maia (13/11/1998) e Tiago Neves (12/03/1997), com a particularidade de todos serem descendentes de pilotos de ralis. Quem sai aos seus…!
Enorme destaque em termos de jovens e promissores valores para a disciplina é a Peugeot Rally Cup Ibérica, copa que se divide por provas de ambos os lados da fronteira, em terra e asfalto, e que, ao longo das suas várias épocas – corre-se, neste momento, a quinta – tem contado sempre com um interessante lote de leõezinhos com menos de 25 anos, em luta com pilotos de maior ou menor gabarito e, com isso, alguma idade associada. Aos comandos dos competitivos 208 Rally4 preparados pelas suas equipas técnicas, batalham, não só pelo seu próprio troféu Júnior, atribuído prova a prova, como pelos lugares de topo de cada rali e até mesmo pelo título absoluto de Campeões.
O ano de 2022 não é diferente, contando-se 8 juniores entre os actuais 17 inscritos na copa ibérica que a Sports & You coloca no terreno, tendo como mais jovens o tal espanhol Óscar Palomo (21/11/2002) a que me referi atrás, no JERC, mais o português Gonçalo Fernandes (30/04/2002) e ainda o Raúl Hernandez (17/11/2001), nascido há 20 anos em Lanzarote. O restante grupo de leõezinhos cheios de garra conta com mais um luso, Hugo Lopes (05/06/1997), vindo do lado de lá da fronteira ibérica Delbín Garcia (04/06/2001), Diego Ruiloba (14/10/2000), Ferrán Aymerich (10/04/1998), Santiago Garcia (15/10/1997), Iago Gabeiras (15/04/1996) e Roberto Blach (16/02/1996), o Campeão da época inaugural desta copa.
Caso um deles venha a alcançar o ceptro maior de 2022, garantindo uma época completa num dos campeonatos de ralis de Portugal ou Espanha ao volante de um Rally2 ou no Europeu com um Rally4, poder-se-á desempatar a actual realidade. Isto porque dos quatro títulos já atribuídos, os Campeões das Temporadas 1 (2018) e 4 (2021) foram Juniores, Roberto Blach na primeira e Alejandro Cachón (22/01/1999) no ano passado, ele que, fruto desse resultado, está em 2022 integrado na equipa oficial de ralis da Citroën España, aos comandos de um C3 Rally2, preparado pela Sports & You!
Em termos de CPR 2022 absoluto, é Lucas Simões (21/07/1998) o caçula do CPR 2022, a caminho de completar os 24 anos, os mesmos que Pedro Almeida (13/12/1998) fará lá mais para o final do ano, seguindo-se-lhes Miguel Correia (13/08/1991), o mais recente vencedor de uma prova do CPR, que apagará 31 velas no Verão. A partir daqui é sempre a subir, até às 54 primaveras (ou invernos, ou verões) de Paulo Neto, piloto que em Outubro completa 55, idade que, por essa altura, também já terá, para mim, um je-ne-sais-quoi de familiar!
Fotos: Oficiais / Hyundai Shell Mobis WRT, M-Sport Ford WRT, Toyota Gazoo Racing WRT, AIFA (Peugeot Rally Cup Ibérica e CPR), João Silva (Facebook) e Lucas Simões (Facebook)