Ralis: Uma paixão que não tem idade (Parte 2)
Depois de, há cerca de uma semana, a análise etária nos ralis ter incidido na paixão inerente às gerações menos experientes, embora algumas já bastante expeditas em termos de resultados e palmarés, segue-se o patamar oposto, dos mais entradotes. Começo por não envolver qualquer análise de sucessos à geral, de dois nomes menos conhecidos – Sobieslaw Zasada e Leif Vold-Johansen – mas que demonstram uma vitória pela vontade, perseverança e uma incomensurável paixão pelos ralis para depois passar para outra realidade de cunho mais português.
Comecemos por um piloto polaco que participou no Safari Rally Kenya de 2021 e que nasceu a 27 de Janeiro de 1930, ou seja, Sobieslaw Zasada apresentou-se à partida com a fantástica idade de 91 anos, 4 meses e 26 dias, tornando-se, assim, no mais idoso – sem qualquer cunho depreciativo associado – participante num rali pontuável para o WRC.
Aos comandos de um bem recente Ford Fiesta Rally3, fez-se ao duro percurso como os demais, embora não tenha conseguido chegar ao final da prova devido a uma irreparável quebra de suspensão diz-se por ter sido abalroado por duas outras viaturas. Acrescente-se que a sua última participação nesta prova havia acontecido 24 anos antes, numa edição de 1997 em que, com um Mitsubishi Lancer Evo III e navegado pela sua mulher Ewa, logrou terminar na 12ª posição.
Galardoado por cinco vezes como Campeão de Ralis da Polónia nas décadas de 60 (1961, 1967 e 1968) e 70 (1971 e 1973) do século passado e também triplo Campeão Europeu de Ralis (1966, 1967, 1971), Zasada suplantou, com essa participação, o anterior registo que era há muito pertença de um norueguês.
Dezenas de “Hurra for deg…” cantados ao volante!
E quem é o – para muitos – desconhecido nórdico Leif Vold-Johansen? Nascido a 24 de Janeiro do ainda bastante mais longínquo ano de 1912, teve uma vida repleta de provas internacionais, em especial no seu rali-fetiche, o Monte-Carlo, prova que entre as edições de 1952 e de 1996 apenas registou umas meras… cinco faltas de comparência!
Uma das mais fortes razões dessa paixão prendia-se com a data do seu aniversário, tantas vezes coincidindo com o período em que o rali tinha lugar, salvo raras edições algures na última quinzena ou semana de Janeiro. Foram, assim, múltiplas as velas apagadas e muitos cantares de “Hurra for deg…” (os “Parabéns a você…” desta língua nórdica) ao volante dos carros que então conduzia, de exemplares da DKW – com um 896 garantiu o seu melhor resultado, um 3º lugar absoluto na edição de 1958 – mas também modelos da Panhard, Auto Union, Austin, Saab e, mais recentemente, alguns VW Golf GTi.
Foi o caso da 90ª edição do icónico Rallye Monte-Carlo, corrida de 22 a 27 de Janeiro de 1994 que Vold-Johansen iniciou com 81 anos, 11 meses e 29 dias, para dois dias depois estar festejar o seu 82º aniversário, num rali que, três dias mais tarde, viria a terminar na 95ª posição, entre os 113 concorrentes que o cumpriram na íntegra. Regressaria apenas mais duas vezes àquele palco, nas edições em 1995 e 1996, mas então como navegador, antes de adoecer, vindo a falecer cerca de seis meses após essa última participação.
Safra já quase vintage no CPR 2022
E cá no burgo? Como é a coisa no nosso CPR? Bom, a sua atual estrutura principal compõe-se, na sua grande maioria e sem querer ofender ninguém, de um conjunto de pilotos já algo vintage, pois considerando os 18 nomes oficialmente inscritos no campeonato de 2022, atinge-se uma média de idades na casa dos 42 anos!
Como referi em texto anterior, o mais novinho do plantel é Lucas Simões (21/07/1998), quase a completar 24 anos, os mesmos que Pedro Almeida (13/12/1998) atingirá mais para o final de 2022, aparecendo depois Miguel Correia (13/08/1991), o mais recente vencedor de uma prova do CPR, já nos 30, quase 31. Dentro dos trintões e entre os habituées só há mais um nome, Daniel Nunes, nascido a 27 de Abril de 1987 e, por isso, com 35.
Vêm, depois vêm os quarentinhos, com Manuel Castro a passar para os 41 a 15 de Setembro e Bruno Magalhães a cumprir os 42 a 10 de Julho, mais o Gil Antunes com os 43 a 9 de Dezembro. Um número que já chegou para Ricardo Moura a 4 de Fevereiro último e para Paulo Caldeira, desde o dia 16 desse mesmo mês, o mesmo dia que o Ricardo Filipe apaga as velas, mas no mês de Março. Mantendo a tendência ascendente, Nuno “Kaetanen” Caetano terá 44 até 14 de Julho, idade que Armindo Araújo gere até 1 de Setembro.
Ao grupo dos 47 já chegou Pedro Meireles, a 8 de Fevereiro, com Ricardo Teodósio a chegar lá na véspera de Natal, igualado, cinco dias depois, por José Pedro Fontes. Paulo Meireles estará equilibrado no meio século até 9 de Agosto, sendo que a 21 do mês anterior Diogo Salvi já terá festejado os 53.
E eis que atingimos o mais experiente do grupo nestas andanças, Paulo Neto, nascido a 24 de Outubro de 1967. Ou seja, soma uns belíssimos 54 anos mais uns pozinhos, sublinhando aquela máxima de que “a idade é um posto”, ou “quem sabe nunca esquece”, ou ainda o mais contundente “velhos são os trapos”!
Fotos: Safari Rally (Facebook), Norsk DKW Union (Facebook), New Zealand AutoUnion DKW Club (Facebook), AIFA (CPR), Lucas Simões (Facebook), Team Hyundai Portugal, Citroën Vodafone Team (AIFA/Jorge Cunha), Daniel Nunes (Facebook), Armindo Araújo (Facebook).