DS 9 Rivoli + E-Tense 250 – À grande e à francesa, pois claro
O título não podia ser mais óbvio e, muito provavelmente, repetido, reconheço-o. Mas cinco minutos depois de ter começado a conduzir o DS 9, pareceu-me a mais fiel e resumida descrição do que este imponente automóvel representa. Gostos não se discutem e eu, garantidamente, não o vou fazer com quem quer que seja. É belíssimo. Uma carroçaria esbelta, cheia de detalhes deliciosos na iluminação, nos puxadores embutidos, nas luzes no topo do último pilar – que fazem a ligação ao automóvel mais bonito da história, o DS original – ou na enorme grelha. Os DS não se confundem com quaisquer outros automóveis com que nos possamos cruzar na estrada e esse mérito tem de ser dado a quem de direito, aos designers que conseguiram criar uma imagem de marca distinta e cheia de carácter. Sou fã assumido da “nova” DS.
E sendo fã da DS, e gostando, igualmente, muito do formato clássico e executivo de uma berlina de três volumes, tinha, claro, muita vontade de conduzir o topo de gama “9”. Não é um modelo com uma vida comercial fácil pela frente. Nenhum DS a tem, na verdade, pois o segmento premium não é um onde seja fácil uma marca com poucos anos de mercado vingar. Terei, por isso, muita pena, se se confirmar o que suspeito: não vão ser assim tantos os DS 9 com que me vou cruzar, no futuro, estrada fora. É um tremendo Automóvel – com “a” grande, sim – mas mesmo com todos estes argumentos e qualidade que passarei a descrever, reconheço que vai ser muito difícil impor-se, no nosso mercado, perante a forte concorrência mais do que estabelecida.
Abrindo-se as portas – enormes atrás – ganha-se acesso a um verdadeiro lounge que convida às longas viagens. O ambiente interior desta unidade do parque de imprensa da DS destaca-se pelo tom bordeaux da pele, seja no tablier, bancos e forros das portas. A atenção ao detalhe é elevadíssima, no padrão tipo bracelete dos bancos, nas costuras com pesponto “pérola”, bem como, por exemplo, na disposição original dos comandos no tablier e consola. Para onde quer que se olhe, o habitáculo do DS 9 denota cuidado e dedicação, quer ao nível do design, quer ao nível da concepção. Os bancos são óptimos e, quer à frente, quer atrás, nos laterais, contam com função de massagem e aquecimento. Os de trás são, inclusivamente, ventilados. Já falarei da condução, obviamente, mas tenho de destacar o quão bom deve ser viajar no banco de trás do DS 9. Já vi apartamentos T0 mais caros e com menos área habitável. A bagageira tem, também, muito espaço, mas sendo um automóvel três volumes, a acessibilidade é, digamos, apenas aceitável. Não se pode ter tudo.
Passando à condução propriamente dita, e tratando-se de uma motorização híbrida plug-in, arranquei para este ensaio com a bateria totalmente carregada. O painel de instrumentos digital indicava 46 quilómetros de autonomia, mas a verdade é que o motor a gasolina só acordou passados 57 quilómetros. Estão disponíveis vários modos de condução, mas, na verdade, dispensava a inclusão do modo “Desporto”. Sim, como é habitual, ao seleccioná-lo, a direcção do DS 9 ganha peso e a suspensão fica mais rija, controlando melhor as transferências de massa e, consequentemente, os movimentos da carroçaria. Os mais de 1900 kg “estão lá” e os primeiros a queixarem-se são os pneus Michelin do eixo da frente, mas considerando o seu tamanho e peso, o DS 9 passa com distinção no capítulo dinâmico. Porém, também eu passava bem sem esse seu dinamismo.
Porque ao volante, este é um automóvel de que melhor se desfruta no modo mais brando da suspensão, absorvendo as imperfeições da estrada a baixa velocidade e flutuando nas baixas frequências a ritmo mais elevado em estrada aberta, sempre com uma imperturbável sensação de segurança e de imponência. Também a insonorização do habitáculo merece destaque, sendo possível viajar em autoestrada e manter uma conversa a bordo sem ter que ajustar a voz para que nos oiçam. Somente quando o motor a gasolina é levado aos regimes mais elevados a insonorização é vencida, no entanto, sem nunca incomodar. Os 250 cavalos e 360 Nm do DS 9 aceleram-no com vigor, sem nunca nos “colar” ao banco. Gostei disso, da progressividade da aceleração, da disponibilidade imediata do propulsor híbrido e do casamento feliz com a caixa automática. Não é um automóvel para quem tem pressa, mas é um automóvel para quem faz muitos quilómetros. É, também, um automóvel para quem tenha acesso a um ponto de carregamento. Se não o carregares, espera consumos entre os 8 e os 8,5 l/100 km. Depois não te queixes.
O DS 9, tal como outros modelos premium de outras marcas não germânicas, pode até não vir a ser a escolha final do cliente, que aquando da decisão acaba por optar pelos símbolos habituais. E não é com isso que fico triste. Fico triste com o simples facto de, muitas vezes, seja o DS 9 ou outro qualquer automóvel pleno de qualidades, estes nem sequer serem equacionados porque um Audi ou um BMW vai ser sempre melhor do que um DS. Mas será mesmo assim? Experimentem. Mexam. Toquem. Conduzam. Decidam depois. Só peço isso. Sei que não é uma decisão fácil, mas eu preferiria sempre conduzir algo diferente, com personalidade e igualmente com muita qualidade. Mas sei que, muito provavelmente, vais acabar por comprar um excelente Mercedes-Benz cinzento, idêntico ao do vizinho do 4º esquerdo e ao do Sr. Amílcar do café da rua e isso, por muito boa compra que seja, é, também, uma oportunidade perdida de adicionares algo distinto e indiscutivelmente muito bom à tua vida. Algo como um DS 9.