Audi A6 Avant 50 TFSI e. Muito para se gostar e muito onde se gastar
Longe de ser o meu formato de carroçaria preferido, reconheço que é um dos mais versáteis, se não mesmo o mais versátil de todos. Falo das outrora muito procuradas station wagon que, nos últimos anos, têm sofrido a nível comercial com a enxurrada de propostas SUV que proliferam pelo mercado em tudo o que é segmento e feitio. E se apontarmos ao segmento dos grandes familiares, dificilmente resisto a uma berlina clássica como o belíssimo Audi A6. Porém, duvido que esta minha opinião represente a maioria, uma vez que, podendo escolher, aposto que uns 70 ou 80% dos condutores escolheriam esta carroçaria Avant para o seu dia-a-dia em vez da Limousine. E, na verdade, escolhiam bem.
Isto porque mantendo uma grande parte da elegância da berlina, a carroçaria Avant é de longe mais utilizável, com um compartimento de carga grande – embora pouco alto nesta versão – que responde muito melhor às necessidades de uma família. Tão elegante quanto imponente, transmite, de imediato, uma grande sensação de robustez que, compreensivelmente, se prolonga do “bater de porta” ao interior. E ainda que esta unidade não seja uma das mais recheadas e requintadas da gama, é inegável a elevada qualidade dos materiais, bem como da montagem de todos os elementos no habitáculo. Se há uns meses “bati” no interior pouco inspirado do 100% eléctrico Q4, isso ficou a dever-se a modelos como este A6, na minha opinião, bastante melhor, quer em qualidade, quer em apresentação.
Espaço
Porém, não se pense que com estas dimensões imponentes há espaço com fartura para cinco passageiros. E não há, principalmente, devido ao enorme túnel central e a um lugar do meio que está longe de ter sido concebido para alguém se sentir confortável ao utilizá-lo. A bordo, o que importa mesmo é como se sentem os outros passageiros e esses, garanto-vos, relativamente a espaço livre, não se poderão queixar. Mais à frente, a excelente posição de condução que se espera de um automóvel como o A6, com amplas regulações do banco e volante, ambas elétricas. Já no que diz respeito a equipamento, senti falta da câmara traseira, uma “batota” que daria uma boa ajuda a estacionar estes 4,95 metros de automóvel. Ainda no habitáculo, não posso deixar de mencionar a presença do grande painel de instrumentos digital no qual podemos colocar a navegação em visão expandida. Já sobre os controlos hápticos do sistema de infotainment e da climatização não tenho tantas certezas da sua utilidade.
Condução
No que diz respeito ao propulsor híbrido não tenho quaisquer incertezas sobre o seu bom desempenho. A Audi declara uma aceleração de 0 a 100 km/h em pouco mais de 6 segundos, bem como uma velocidade máxima de 250 km/h e embora não tenha cronometrado, nem tão pouco esgotado o pulmão dos 299 cavalos e dos 450 Nm, o fulgor demonstrado ao pressionar o acelerador não deixa margem para dúvidas. E isto considerando os 2.150 kg que pesa. Dinamicamente, a unidade ensaiada não contava com a eficácia do sistema de amortecimento variável, mas verdade seja dita, não senti falta. Sim, a amplitude de capacidades seria maior, mais confortável por um lado e igualmente mais dinâmica por outro, mas a suspensão de afinação fixa mostrou-se à altura das exigências, quer quando puxei pela mecânica e chassis, quer a ritmos baixos sobre piso degradado. As jantes de 18 polegadas com pneus de medida 225/55, uma combinação algo contida em largura e simpática em perfil, ajudou, certamente, no bom conforto de rolamento demonstrado.
Motor
Iniciei o meu ensaio com a bateria totalmente carregada, energia que, segundo o computador de bordo, me permitiria percorrer 67 quilómetros em modo puramente elétrico. Mas assim que entrei na autoestrada – com topografia exigente, reconheço – a autonomia começou a descer bastante mais depressa e ao fim de 40 quilómetros já não tinha carga na bateria. Dirigi-me, por isso, a um posto de carregamento para “atestar o depósito” com electrões e assim lançar-me a um percurso em ambiente citadino. Aqui, podem contar com uma autonomia elétrica bem mais próxima da inicialmente mostrada, pois consegui uma média de consumo inferior a 20 kWh/100 km e a bateria tem uma capacidade útil de 14,4 kWh. “É fazer as contas”. Depois de esgotada a bateria, consegui, recorrendo ao modo Auto Hybrid, completar vários percursos com uma média acumulada de 6,5 lt/100 km, isso sim, notável.
Preço
Passar alguns minutos no configurador da Audi tem tanto de entusiasmante como de desmotivador. São muitas as opções e, igualmente, muitos os dígitos que normalmente as acompanham, fazendo o preço final do nosso eleito resvalar para lá do aceitável. Neste caso, considerando o preço base de 73.500 € já por mim inatingível, a minha configuração de eleição, com pintura azul e pack exterior S Line, jantes de 20 polegadas, sistema de som Bang & Olufsen, câmara traseira e suspensão com amortecimento variável, custa “apenas” mais 10 mil €. Uma proposta mais completa, a nível de capacidades, na gama A6 Avant, talvez só seja possível com a mais versátil Allroad, mas fiquei mais do que convencido com a eficiência, a potência, a sensação de solidez e de domínio sobre a estrada, convidando constantemente à viagem. Assim, e para além de todas as suas qualidades, ser um bom estradista é algo que muito aprecio num automóvel, pois convida-nos a usá-lo, algo que, actualmente, nem sequer é bem visto pela sociedade, o que é, como já o disse, triste.