Polestar 2 Performance Pack – Uma estrela que é, na verdade, bipolar
Já o disse anteriormente e volto a dizê-lo. Retiro igual prazer de todos os automóveis que conduzo, independentemente do seu preço, potência ou marca. O meu interesse está em conhecer o produto, em saber se o que oferece é bom, em perceber o que há a melhorar numa próxima geração e em tentar posicioná-lo perante a sua concorrência. Mas, como é óbvio, há modelos sobre os quais é mais fácil falar ou, também, mais entusiasmante. Ou porque são uma absoluta novidade no mercado, ou porque são especiais em determinadas características ou porque, logo à partida, são automóveis que, ainda antes de os conhecer de perto, “encaixam” perfeitamente no meu gosto pessoal. No caso do Polestar 2, aplicam-se todas as circunstâncias acima descritas e espero, por isso, que este texto nasça bem e consiga transmitir o quão bom é e o quanto gostei de o conduzir.
Presença
As imagens oficiais já me tinham convencido, mas ver o Polestar 2, pela primeira vez, ao vivo, causa impacto. Gosto muito da forma como os designers não se desviaram em demasia das linhas dos Volvo actuais, conseguindo criar um automóvel distinto, com uma identidade própria e que vem abrir o caminho aos novos modelos que se seguirão. Preferia, talvez, uma postura sobre a estrada menos ao estilo crossover, com uma menor altura livre ao solo, mas o mercado assim o dita. As proporções estão muito bem conseguidas, com uma linha de cintura elevada e um perfil impactante devidamente preenchido pelas belíssimas jantes, neste caso, de 20 polegadas. Não tenho, também, a menor dúvida do quão bem o “2” resulta noutras cores, mas o contraste conseguido pelo branco desta unidade com os elementos escuros da carroçaria é simplesmente irresistível. Que o digam os muitos olhares curiosos que o viram passar.
A bordo
O habitáculo é uma perfeita extensão das sensações transmitidas pela carroçaria. Uma dose adequada de design minimalista, ao melhor estilo escandinavo, com diferentes materiais e texturas, mas sem com isso criar um ambiente frio e demasiado despido. A qualidade dos materiais escolhidos é indubitável, destacando-se, igualmente, pela montagem cuidada de todos os componentes. A sensação de robustez é uma constante e transversal a todos os elementos que compõem o habitáculo. Os bancos da frente são, como é hábito, do melhor que se faz na indústria e os cintos amarelos são um dos destaques do habitáculo, enaltecendo a vertente mais emocional do “2”.
Atrás, espaço para pernas é coisa que não falta, mas o lugar do meio é, uma vez mais, apenas isso, um lugar do meio, para trajectos curtos e passageiros, também eles, curtos. O lugar é pouco confortável e o túnel central muito intrusivo devido à colocação das baterias. Mas o que deve ser revisto, assim que possível, é o desenho do assento, uma vez que mesmo nos lugares laterais o suporte para pernas é insuficiente, um ponto menos bom também ele herdado da Volvo. O acesso à bagageira é muito bom graças à grande porta traseira, mas o espaço em altura, até ao nível da chapeleira, é algo reduzido. Ainda assim, são 405 litros de volume útil, contando com o espaço disponível debaixo do alçapão.
Que andamento…
Passando à condução propriamente dita, com números como os 408 cavalos de potência e 660 Nm de binário esperava encontrar um automóvel muito rápido. Por outro lado, com mais de duas toneladas de peso, e apesar do autêntico disparo com que acelera, não esperava encontrar uma experiência de condução particularmente ágil e envolvente. Esperava encontrar, acima de tudo, segurança ao curvar e robustez ao rolar, o que se confirmou, mas na vertente mais desportiva da avaliação dinâmica, este Polestar 2 Performance Pack, com suspensão assinada pela Öhlins, revelou ser algo bem mais especial. Trata-se de uma suspensão regulável, de forma manual, sobre a qual não temos qualquer controlo a partir dos modos de condução, como é habitual. E verdade seja dita, não senti falta alguma dessa ajustabilidade ao toque de um dedo.
Afirmo-o porque na configuração – por mim desconhecida – em que se encontrava a suspensão da Öhlins, nunca senti o Polestar 2 transmitir qualquer tipo de ressalto ou dureza excessiva, sensações tipicamente encontradas nos grandes e pesados automóveis eléctricos. Aqui não. O que há é uma constante transmissão de confiança na forma como pisa o asfalto e como os movimentos da carroçaria são controlados. Sim, é óbvio que se “esticarmos demasiado a corda”, os limites de aderência dos pneus Continental “245” revelar-se-ão e o eixo dianteiro começa a alargar a trajetória, mas para isso é preciso ser exagerada e desnecessariamente agressivo com a velocidade de entrada em curva ou com a direcção, cujo feedback/peso pode, esse sim, ser ajustado no sistema de infotainment, outro dos destaques do habitáculo.
Também sabe andar devagar
Para os ritmos mais eficientes ou, simplesmente, mais lentos, o Polestar 2 disponibiliza um modo “Creep” para enfrentar o trânsito de uma forma mais tranquila, bem como três modos de travagem regenerativa, um dos quais retira-a totalmente de cena. Com algum cuidado e, acima de tudo, muita força de vontade para não carregar a fundo no acelerador, consegui fechar alguns percursos com uma média ligeiramente inferior a 18 kWh/100 km. Sem grandes preocupações com a eficiência, são expectáveis médias um pouco abaixo dos 20 kWh/100 km, mas se formos “fracos” – fui por diversas vezes, admito – esperem-se valores mais na ordem dos 22 kWh/100 km. Considerando, assim, o valor intermédio de 20 kWh/100 km, a autonomia total deverá situar-se entre os 350 e os 400 quilómetros, algo longe dos 480 quilómetros declarados.
Muito bom
O meu primeiro Polestar foi, na verdade, o segundo. E este “2” não podia ter um nome mais apropriado. É, sem dúvida, uma estrela no mercado automóvel. Salta à vista e brilha em variadíssimas vertentes. E mais que uma estrela polar, é uma estrela bipolar, com duas personalidades distintas num só automóvel. Uma berlina familiar que, se assim o quisermos, é capaz de se transformar num autêntico míssil. Não é, com esta dimensão, potência, dinâmica e preço, um eléctrico para convencer os cépticos de que a propulsão eléctrica é a solução para salvar a mobilidade particular e o ambiente por todos partilhado. Apesar disso, é um excelente automóvel eléctrico, com o espaço, equipamento e segurança que as famílias procuram para as suas necessidades diárias. Por outro lado, é um dos eléctricos que mais se aproxima, com bastante sucesso, diga-se, de conseguir mudar mentalidades como a minha, a de que um veículo eléctrico não tem nem nunca terá qualquer emoção associada, seja de posse ou de utilização. O Polestar 2 superou as minhas elevadas expectativas. Não é, simplesmente, um dos meus eléctricos preferidos. É um dos meus automóveis preferidos. É muito bom.