Tesla Model Y – Irrepreensível, excepto no preço… e não só
O quero dizer com isto? É ler o artigo. Mas aviso, desde já, que fiquei impressionado com este Tesla Model Y. Excepto no preço, lá está… e não só.
É bom?
Mas não tenhas dúvidas! É, muito provavelmente, um dos melhores carros do mercado. Se o compararmos preço por preço com outros modelos, vemos que o Tesla Model Y tem mais espaço, mais potência, mais qualidade – ou, pelo menos, tanta – e só mesmo ao nível da estética é que podemos torcer o nariz. Mas o gosto é assim mesmo. E, até mesmo, na utilidade, a coisa joga a favor do Tesla.
Mas como não há bela sem senão, o handicap deste modelos (e, podemos argumentar, de todos os Tesla) é mesmo o seu preço. Preço, esse, que é alto à custa de alguns factores. Para começar, o investimento que a marca fez para montar uma empresa que se tornou líder do segmento em pouco mais de 20 anos. Nunca visto. Segundo, porque não há Tesla que não seja um monstro de potência e rapidez. E isso tem um custo. Custo, esse, que nunca irá baixar. Elon Musk já disse que a Tesla não faz carros lentos. “Mas também não é preciso tanto, oh senhor Elon!” diria eu se o visse. Mas ele provavelmente iria tentar explicar-me o porquê no meio de um discurso semi coerente e, lá pelo meio, iria dizer “mas porque é que eu estou a falar contigo?” e seguiria a sua vida.
A verdade é que não são necessários os 462 cavalos e 639 Nm de binário que equipam a versão Performance – a que testámos – e, muito menos, um sprint dos 0 aos 100 em 3,7 segundos. A versão base tem, “apenas”, 351 cavalos e 527 Nm de binário. E também é muito, mas já estamos a falar de valores mais sensatos. E com um custo 4.000€ inferior. Mas, para quem paga 67.000€, mais 4 não será muito e poderá impressionar os amigos. Mas se querem um carro para impressionar os amigos, talvez o melhor seja avaliar a vossa vida e perceber se não estarão a ter uma crise de meia idade. Se, por outro lado, analisaram bem as opções e alternativas e decidiram-se pela Tesla, então fizeram uma boa escolha. Parece um paradoxo, e é mesmo!
Mas é mesmo bom?
Novamente, é. Vamos tirar da equação a potência, rapidez e o preço. Ao nível da qualidade tinha sérias dúvidas que ia gostar dele. Já tinha visto vários vídeos de Tesla que rangem por todo o lado, com uma montagem que parecia feita por – não quero dizer crianças, mas – por crianças, e com materiais pouco interessantes. Este, no entanto, feito já na Alemanha, estava irrepreensível. Materiais de qualidade, com um toque excelente e uma montagem que parece que o carro nasceu numa árvore.
Ao nível do infoentretenimento e utilização, nada a apontar. Pode assustar ao início porque só há um ecrãn, mas controla-se tudo muito bem e de forma intuitiva, especialmente porque tem uma interface similar a um telemóvel e é super rápida. Se poderiam ter colocado uns botões para a climatização? Podiam, e certamente que o fariam com elegância, mas no touchscreen controla-se muito bem porque é rápido e simples. Até dá para controlar a forma como o ar sai das condutas. Resumindo, bastantes truques para impressionar, mas muito funcional.
Quanto ao equipamento, tem tudo o que podíamos querer num carro. Mas, mais do que ter tudo, tem tudo de forma subtil, minimalista, sem complicações. Não precisamos de andar a tentar procurar pelas funções, porque elas funcionam sem darmos por ela. Não andam constantemente a avisar e a dizer que estão activas e a incomodar a condução. Qualquer coisa, é ir ao tablet e activar ou desactivar, como se fosse um telemóvel. Ponto extremamente positivo é o ponto de carregamento wireless para telemóveis. Sim, telemóveis, porque podemos colocar dois. As outras marcas também sabem que os carros servem para transportar mais do que uma pessoa. Então, porque raio só colocam o carregamento para um telemóvel? Lá está. Detalhes que fazem a diferença. A qualidade de som é, também, muito boa. Já o conforto poderia estar um pouco melhor. Talvez seja porque a posição de condução é mais alta neste crossover, mas acho que os bancos – que são bons, atenção – poderiam ser ligeiramente mais acolchoados.
Para quê?
Mesmo sendo muito bom, no fim de contas, a afirmação é mesmo essa. Para quê tanta potência se isso só torna o carro menos eficiente, mais pesado e mais caro? Porque a malta do outro lado do grande lago só pensa nisso. Em ser os maiores, os melhores e por aí fora. E, depois, a coisa sai-lhes furada. Ou será que sai? Na verdade, não se podia ter saído melhor. Líderes de vendas de carros eléctricos e o preço alto e design assim meio “mnhe” não parece fazer diferença.
Resumindo, um carro com muito espaço, qualidade, prático, potente e com uma autonomia que ronda os 440 quilómetros sem preocupações (e sem acelerações a fundo, também) por 67.000€ ou 71.000€ se quisermos exagerar, parece-me muito bem. Isto, claro, se o conseguirmos carregar em casa, senão é só um disparate. Não são os Tesla que vão salvar o sector automóvel, mas estão a tornar a transição muito mais divertida. Porque a vida também precisa disto. Agora…
Se eu compraria um Tesla? Fiquei mesmo muito impressionado com este Model Y, mas acho que ainda não está lá. Se tivesse os fundos, era capaz de pensar duas vezes, de tanto que gostei dele. Mas o design ainda não me convence e o conceito de carro de 70 mil euros capaz de “dar ratada” num Porsche 911 não me parece fazer sentido. Eles que façam um carro do segmento C com tração traseira, 250 cavalos e uma bateria para 400 km, com um preço final de 28 mil euros e aí talvez ganhem um cliente… ou milhões.