Volvo C40 Recharge Twin – Ainda SUV, mas agora coupé
Ao olhar para o novo C40 não consigo não fazer a imediata associação a dois outros modelos de segmentos distintos daquele onde concorre o novo modelo da Volvo. Falo do Renault Arkana e do Porsche Cayenne Coupé. Um coloca-se acima, o outro abaixo, mas os três são idênticos na abordagem estética, na postura em estrada, a de um moderno e inevitável SUV, porém, com uma silhueta mais dinâmica, mais ao estilo coupé. Independentemente de os achar, ou não, bonitos, é algo que me faz confusão, admito. Tínhamos os clássicos hatchback de sempre, mais ou menos dinâmicos. Passámos a ter muitos SUV, mais altos e, nem sempre, mais versáteis. Agora temos uma mistura de ambos. Não sei bem o que pensar disto. Com o passar do tempo chegarei a uma conclusão. Espero eu.
O novo C40 é uma proposta que, mantendo muito do que já conhecemos de outros modelos Volvo actuais – como veremos mais abaixo – pretende destacar-se por isso mesmo, pelo design distinto da secção traseira, mais dinâmica, mais desportiva e arrojada do que a do irmão XC40. E até aprecio a irreverência. Leva-me, imediatamente, ao 1800ES, ao 480 e ao C30. São diferentes. São, bonitos ou feios, originais. O design é a sua prioridade e isso levou, obviamente, a que a Volvo fosse obrigada a ceder noutros aspectos da sua concepção. A visibilidade traseira é, como facilmente se entende, reduzida, e as janelas traseiras são demasiado pequenas, um “mal” de que o XC40 também sofre e que certamente não agradará aos passageiros mais pequenos. Felizmente, a unidade ensaiada compensava-o com a muita luz natural oferecida pelo excelente tecto panorâmico.
Outro ponto a rever e no qual me tenho focado bastante é o desenho e consequente conforto do banco traseiro dos Volvo e, por exemplo, do novo Polestar 2. Não consigo compreender como num veículo assumidamente familiar o assento é tão curto, o que não trará muito conforto nas viagens mais longas. Estou a repetir-me, bem sei, mas são produtos globalmente tão bons que me custa aceitar este ponto menos bom em automóveis que convidam à viagem. Ainda no habitáculo, encontramos a qualidade habitual da marca sueca, com uma escolha cuidada de materiais e uma qualidade de construção em linha com os valores da Volvo, capaz de transmitir robustez e durabilidade, ao mesmo tempo que contribui com a essencial sensação de conforto num ambiente que é sempre acolhedor, transmitindo uma sensação de casulo que aprecio sempre que me sento num Volvo e fecho a porta antes de arrancar. Apetece estar no habitáculo e isso diz tudo.
Ao volante, e tratando-se da versão Twin, devolvi o C40 à Volvo com a mesma ideia com que fiquei depois de guiar a versão equivalente do XC40: com 408 cavalos e 660 Nm é demasiado potente, demasiado rápido para o fim a que se destina. Sim, com dois motores e tracção integral, pode ter mais argumentos para uma condução sobre pisos escorregadios e climas mais rigorosos, mas para as deslocações familiares do quotidiano, aposto na motorização menos potente como a ideal. No meu percurso de teste, misto, a minha melhor média foi 17,4 kWh/100 km, o que me permitiria percorrer, matematicamente falando, cerca de 430 quilómetros com a bateria de 75 kWh que o equipa. Com mais autoestrada na equação, esperem-se consumos mais elevados.
Mantendo-me na experiência de condução, não se esperem do C40 as mesmas reacções e comportamento do Polestar 2, com o qual partilha a dupla motorização eléctrica. Curva, acima de tudo, com segurança, sempre estável e controlado, tal como se exige. Mas o conforto de rolamento é, e ainda bem, a sua prioridade, deixando a rapidez em curva e o controlo dos movimentos da carroçaria para segundo plano. Muito útil é a função One Pedal Drive, para se conduzir de forma mais relaxada, recorrendo apenas ao pedal do acelerador. Porém, fiquei com a impressão de que se justifica uma nova calibração do sistema, uma vez que a regeneração me parece ficar algo exagerada quando a activamos.
Esquecendo, por momentos, a capacidade de aceleração absolutamente fulminante que pode “assustar” os condutores menos habituados à imediata disponibilidade de uma potente motorização eléctrica, o C40, o primeiro modelo da Volvo exclusivamente alimentado a electrões, é um automóvel incrivelmente fácil de conduzir. Chave no bolso, entrar e arrancar, pois nem sequer é necessário ligar o motor ao toque de um botão, bastando apenas colocar o selector em “Drive”. Mais fácil não podia ser, um bom exemplo de como os modernos e muito apetrechados automóveis da actualidade são incrivelmente simples de conduzir.
O novo Volvo C40 tem inúmeros argumentos do seu lado. O design, embora o conceito CUV seja algo que ainda me custa a digerir, está muito bem conseguido. O C40 é um automóvel muito bonito, reconheço. Mantém também intactos todos os valores da marca, como a qualidade de construção, o conforto e a segurança, tentando apelar ao cliente mais emocional, que procura eficiência, tecnologia e facilidade de condução num conjunto esteticamente mais distinto e dinâmico. Com arestas a limar, é certo, o C40 é mais um elemento forte de uma das minhas gamas preferidas do mercado. Gosto muito do que a Volvo tem vindo a fazer nos últimos anos. Porém, neste caso em particular, volto a dizer o que disse no ensaio do XC40 P8: para o fim a que se destina, este C40 é desnecessariamente potente.