Os GR Yaris Rally1 da Toyota e o outro, H2 a hidrogénio
Ainda os fervorosos adeptos dos motores térmicos e os detractores da electrificação no mundo dos ralis não se recuperaram do (semi)choque eléctrico da, para já, hibridização da modalidade e já outra vertente está em estudo, em que o recurso se faz ao hidrogénio, combustível mais que amigo do ambiente. Ainda que com especificidades próprias, a estreia oficial teve lugar há dias, no Rally de Ypres/Bélgica, pontuável para o WRC 2022, jornada em que os habituais GR Yaris Rally1 tiveram como companheiro de aventuras um novíssimo GR Yaris H2, contando a bordo com uma dupla muito especial: ‘Morizo’ / Juha Kankkunen.
Coube à Toyota Motor Corporation atirar-se para a frente do pelotão no que se refere à estreia do hidrogénio como combustível no mundo dos ralis, um processo que se segue a vários outros em que já estuda a utilização deste valioso recurso da natureza nos domínios do motorsport. Ao lado dos quatro GR Yaris Rally1 que a Toyota Gazoo Racing WRT inscreveu na prova belga do presente Mundial de Ralis (três oficiais, mais um da equipa satélite), destacou-se um outro GR Yaris ao longo de todo o evento. Denominado “H2”, este veículo experimental conta com uma transformação especial do motor térmico que equipa o GR Yaris que está em comercialização, tendo hidrogénio como alimento.
Naturalmente que se tratou de uma acção única, não só de índole comercial, a piscar o olho aos defensores do ambiente, mas também de charme e de potencial tecnológico, num avançado estudo que foi mostrado em situações pontuais, percorrendo alguns dos mesmos troços desta prova do Campeonato do Mundo de Ralis (vulgo WRC), a nona da presente época, em que os GR Yaris Rally1 andaram a discutir os melhores tempos, apontando a uma vitória que lhes falhou por uns míseros 5 segundos!
Os muitos espectadores e fãs da modalidade presentes in loco puderam ver o protótipo GR Yaris H2 da Toyota, equipado com pneus Pirelli P Zero Trofeo R, quer no Parque de Assistência, quer a percorrer uma especial em cada dia do rali belga, todas elas cumpridas por completo e sem que se conhecessem quaisquer incidentes. Numa delas contou-se com uma improvável dupla a bordo do modelo de cujo significativamente sonoro escape saía, na sua grande maioria, quase só vapor de água.
Uma dupla improvável
Eram eles um (des)conhecido piloto, de cognome ‘Morizo’, e um icónico navegador, Juha Kankkunen. Se o finlandês, por quatro vezes Campeão do Mundo de Ralis – a última delas, em 1993, com a Toyota – dispensa apresentações, ainda que seja mais habitual vê-lo ao volante do que a cantar notas, já os mais atentos conseguiriam identificar o piloto que num dos troços conduziu o ímpar GR Yaris H2. Tratou-se, nada menos do que Akio Toyoda, neto do fundador da Toyota Motor Corporation e actual Presidente e Director Executivo da companhia, ele que adopta o cognome de ‘Morizo’ sempre que, em casa, integra as equipas de desenvolvimento dos modelos da marca japonesa ou até mesmo quando participa em competições motorizadas no seu país, de ralis ou velocidade.
Estreia absoluta de um protótipo a hidrogénio da Toyota, ainda em processo de desenvolvimento, em estradas públicas fora do Japão, o H2 percorreu os encadeados troços em asfalto das estreitas estradas rurais da região onde o rali teve lugar: os 8 km da Especial nº 3 (Mesen – Middelhoek) no primeiro dia do rali, depois os 15 km da ES 11 (Wijtschate) corrida na manhã do segundo dia, e, a fechar, a ES 20 (Kemmelberg) que serviu de ‘Power Stage’ na derradeira etapa deste Rali de Ypres/Bélgica 2022, onde Kankkunen assumiu o volante do protótipo. O GR Yaris H2 cumpriu-os sempre antes da passagem dos Carros de Segurança da organização da prova que, por sua vez, antecediam as viaturas em competição.
Quanto a números ou resultados desta experiência em situação real nada foi adiantado pela marca japonesa, mantendo-se em máximo segredo tudo o que era do foro técnico, uma necessidade cada vez mais premente no hiper-competitivo sector automóvel.
“Agradeço ao Juha a sua cortesia em permitir-me ser eu a conduzir. Ele orientou-me em sincronização com a minha condução, fazendo-me sentir muito confortável”, comentou Akio ‘Morizo’ Toyoda no final do troço. “Eram estradas difíceis, não só escorregadias, mas também estreitas, em que as superfícies pareciam mudar a cada momento. Eram como as usadas no Rali do Japão, tratando-se de uma boa oportunidade para pensarmos nas corridas com os espectadores em mente. Acredito que, em conjunto com a condução com motores a hidrogénio, conseguimos destacar o potencial do hidrogénio como opção para alcançar a neutralidade carbónica na Europa”.
Quanto à opinião de Kankkunen sobre este potencial mecânico, “o motor a hidrogénio proporciona um binário sólido, tornando-o diferente de um bloco a gasolina. Emitindo-se zero CO2, creio que os motores a hidrogénio se irão tornar uma das opções para se alcançar a neutralidade carbónica, não só no mundo dos desportos motorizados, mas também nos automóveis do nosso quotidiano.”
Quanto à sua aplicação prática nos ralis, há que esperar por novos desenvolvimentos. Para já, goste-se ou não, vamos continuar a ver evoluir o conceito da componente híbrida nos carros de ralis, para já aplicada aos modelos de topo “Rally1”, antecedendo a sua extensão aos restantes patamares. Não nos surpreenderia que o hidrogénio começasse a ser aplicado, num futuro não muito distante, nos escalões mais baixos da denominada “escada dos ralis”, eventualmente no domínio dos troféus monomarca e equivalentes. Aguardemos!
Fotos: Oficiais / Toyota Motor Corporation, Toyota Gazoo Racing WRT