Volkswagen T-Roc Cabrio – Para ver de capota fechada e desfrutar de capota aberta
Abordei este ensaio com alguma desconfiança, admito. O fenómeno SUV, para mim, vale o que vale, e isto embora reconheça as qualidades e argumentos do Volkswagen T-Roc, modelo pelo qual tenho uma estima especial por ser produzido em Portugal (embora o Cabrio não o seja). No entanto, imaginá-lo sem tejadilho é um conceito que, à partida, me causa imensas dúvidas. Visualmente, misturar conceitos e diferentes tipos de carroçaria pode correr muito bem como pode, também, sair completamente ao lado. A Volkswagen não é a primeira marca a combinar o formato SUV com a condução a céu aberto, mas pode, porém, ser a primeira a fazê-lo com sucesso.
Melhor ao vivo
Desde logo porque, tenho de reconhecer, o T-Roc Cabrio é um automóvel com presença, avaliação para a qual também contribui esta versão R-Line de inspiração assumidamente desportiva. Ao vivo, resulta muito melhor do que em fotografia, mas é, sem dúvida alguma, mais bonito de capota fechada do que quando esta está recolhida. Quando em configuração “a céu aberto”, a linha de cintura muito horizontal e a quase total ausência de elementos na zona traseira – excepto os encostos de cabeça dos dois lugares de trás – dão-lhe um visual demasiado homogéneo e algo “despido”. Não sei o que por ali poria para o compensar, mas com a capota recolhida pareceu-me, por vezes, um simples T-Roc com o tejadilho recortado. Vale-lhe o spoiler traseiro.
Sem capota, sem limites
No entanto, de capota aberta, a vivência a bordo é espectacular. A sensação de liberdade é enorme e uma constante e circular a baixa velocidade com o braço na porta e com o vento a passar nos cabelos – se os tiverem – quase me faz esquecer que estou a bordo de um SUV. Também a posição de condução, que não me colocou exageradamente alto, me agradou, algo raro ao volante de um SUV. O acesso ao banco traseiro é bastante bom, exigindo alguma ginástica, mas não muita, até porque as portas são para lá de enormes. Se a capota estiver recolhida, mais fácil este se torna. Por ali há espaço apenas para dois passageiros, o que não só se compreende, como até traz alguns benefícios a quem ali viajar, com uma melhor visibilidade para a frente dada a posição mais central dos lugares. O espaço para pernas é adequado aos passeios de fim-de-semana.
11 segundos bastam
Ainda mais atrás, a capacidade da mala é, obviamente, inferior à de um T-Roc convencional, mas o seu limitado acesso, devido à pouca altura da abertura, é que pode tornar-se um obstáculo à colocação de objectos de maiores dimensões. Os bancos traseiros podem, também, ser rebatidos através da bagageira e o piso esconde um muito bem-vindo pneu suplente. Voltando à capota, cujo mecanismo eléctrico necessita sensivelmente de 11 segundos para a abrir e fechar, é importante destacar a sensação de qualidade, quer ao toque, quer durante a condução, com bom isolamento térmico e, acima de tudo, acústico. Os passageiros de trás não tem botões dedicados para abrir as suas pequenas janelas laterais, mas ao centro da consola o T-Roc dispõe de um botão que permite, num só toque, abrir as quatro janelas.
Qualidade de construção convence
À frente, o tablier é, na sua metade superior, feito de um material mais macio e agradável ao toque, mas os plásticos tendem a perder qualidade abaixo da linha média, bem como nas portas, onde são assumidamente rijos. O ar condicionado pode, felizmente, ser controlado sem termos de recorrer ao sistema de infotainment, mas os controlos tácteis da consola dedicada exigem alguma habituação. Por mais do que uma vez tentei mudar o modo de condução e liguei, sem querer, o ar condicionado com um dos outros dedos. Podia ser pior, é verdade, mas podia ser melhor. A inspiração R-Line está igualmente presente nos bons bancos desportivos e no volante, elemento que também acumula controlos tácteis menos práticos de que os convencionais botões de pressão. Também dei por mim a mudar o aspecto do painel de instrumentos digital sem o querer. Prefiro, sempre, uma abordagem mais convencional e descomplicada.
Dinâmica e motor são argumentos
Resta falar da condução, avaliação que me transmitiu impressões muito positivas. Sim, apesar dos reforços estruturais que compensam a ausência de um tejadilho rígido, ainda são notórias algumas vibrações ao rolar sobre piso mais degradado, sendo mais notórias nas mãos, via volante, e nas coxas, através do banco, bem como nas pontuais tremuras do espelho retrovisor. Ainda assim, o comportamento dinâmico é bastante convincente, com uma agilidade que chega a divertir e que pode ser bem explorada pelo óptimo motor 1.5 TSI de 150 cavalos. Refinado, possante e, de certa forma, poupado, pois são possíveis médias de consumo abaixo dos 7 lt/100 km, é um excelente aliado deste T-Roc assumidamente orientado para uma condução mais lúdica. A caixa DSG dá o contributo habitual, com fluidez, rapidez e suavidade nas passagens que podem igualmente ser feitas através das patilhas no volante.
Bom, mas…
Mesmo depois de quatro dias na sua companhia, continuo a estranhar o conceito “suvriolet”. Mas isso não significa que a Volkswagen tenha feito um mau trabalho a nível estético. Até porque, como disse, de capota fechada, até o acho bonito e, de certa forma, com o “fato” R-Line, impactante. Mas este T-Roc Cabrio é, uma vez mais, um sinal das modas e tendências e cada vez mais percebo menos a situação actual. São as marcas que nos “obrigam” a segui-las ou somos nós, público comprador, que queremos cada vez mais SUV? Onde está a vantagem? Custa-me entender, reconheço, mas também reconheço que gostei mais do T-Roc Cabrio do que à partida pensei. Bonito se “fechado”, muito agradável se “aberto”, com boa qualidade geral, boa dinâmica e bom motor. Gostei, mas gostava mais de um Golf Cabrio ou, melhor ainda, de um “New” New Beetle Cabrio.