Skoda Octavia RS em dose dupla: TSI ou TDI?
Este não foi um falso comparativo programado. Foi sim uma feliz coincidência que me permitiu conduzir, com apenas duas semanas de intervalo, duas das versões mais desportivas de um dos melhores automóveis do momento, o Skoda Octavia. Sim, bem sei que na família RS há ainda uma versão híbrida plug-in, o RS iV, provavelmente a mais interessante considerando o momento de transição energética por que passa o mercado automóvel, mas tendo tido a oportunidade de colocar, frente a frente, estas duas já míticas siglas, não vou lamentar que este duo não seja, na verdade, um trio. Lamento apenas que, embora goste muito desta pintura azul, não seja quase possível distingui-los sem ser pela matrícula.
Octavia: O pacote completo
Sou um fã assumido do Octavia. Sempre fui. Aprecio as suas dimensões de compacto familiar dispostas ao longo de uma carroçaria mais clássica, um liftback, com as linhas de um quase três volumes, um estilo clássico que aprecio. Para além disso, para quem constantemente acusa a Skoda de um excessivo conservadorismo no seu design, não pode fazê-lo a estes Octavia RS, que sem chocarem visualmente com um exagerado pacote desportivo, destacam-se claramente das restantes versões com um exterior assumidamente mais decidido e com mais presença. E o melhor de tudo é que mantêm os argumentos dos Octavia menos despachados, com muito espaço interior e uma bagageira enorme – 600 litros – cuja porta traseira ao estilo hatchback permite um óptimo acesso.
A sensação de solidez e qualidade de construção é imediata e uma constante ao explorar e aproveitar o habitáculo destes Octavia apontados aos condutores mais acelerados. Os materiais convencem, ainda que, obviamente, também por ali existam alguns menos nobres, mas aprecio, e muito, detalhes como os compartimentos de arrumação das portas forrados a alcatifa. Por outro lado, e embora não faltem botões físicos de atalho para os menus do infotainment, não existem controlos dedicados para a climatização. Corrijam isso, por favor. Já aos bancos desportivos só posso fazer elogios, bonitos e envolventes, são, talvez, o elemento que maior desportividade confere ao interior. Se estivessem colocados ligeiramente mais abaixo, a muito boa posição de condução seria perfeita.
Gasolina primeiro, Diesel depois
O Octavia RS com motor 2.0 TSI, a gasolina, foi o primeiro a ser colocado à prova. Com 245 cavalos disponíveis debaixo do pé – a mesma potência do híbrido iV – bate o RS com motor TDI com “apenas” 200 cavalos. O Diesel compensa com um binário superior, 400 Nm “contra” os 370 do motor a gasolina, mas o TDI – embora a resposta imediata e o seu grande pulmão sejam impressionantes – nunca é tão agradável de utilizar como o motor dois litros a gasolina. Este pode não ter uma sensação de disponibilidade tão repentina como a do TDI, mas os 370 Nm estão disponíveis logo às 1600 rpm, binário que mantém até às 4300 rpm e que em muito contribui para uma entrega de potência muito linear ao subir de regime.
Independentemente do que dizem os números, que declaram que ambos os RS conseguem atingir os 250 km/h e que o TSI a acelera de 0 a 100 km/h em 6,7 segundos, menos 0,9 segundos do que o TDI, o RS a gasolina impressiona não por ser mais rápido, mas porque “acorda” cedo e sobe de rotação com vigor, sem medo de levar a agulha digital do conta rotações até perto do redline, soando bem e sentindo-se confortável ao fazê-lo. Nos médios regimes, o motor TSI é muito forte, colocando até algumas dificuldades à borracha para pôr a potência no chão se o piso não for o mais aderente. É um motor sempre cheio, sempre pronto e que soa refinado a qualquer regime de funcionamento.
TSI anda mais, TDI gasta menos, claro
Quando, dias depois, me reencontrei com o Octavia RS, desta vez com motor a gasóleo, fiquei impressionado com o andamento (e não só), claro que sim, mas a faixa de utilização mais reduzida do TDI, bem como uma sonoridade bastante menos desportiva – ainda que contida e, de certa forma, agradável para um Diesel – não proporcionaram o mesmo tipo de experiência de condução, camadas que gosto de explorar num desportivo. Também o TDI, principalmente nas saídas fortes em 2ª, exige muito da borracha, tal é o seu “cabedal”. Em ambos os casos, a caixa de DSG de 7 velocidades com patilhas no volante esteve mais do que à altura. Continua, na minha opinião, a ser das melhores transmissões automáticas do mercado.
Curiosamente, e regressando aos pneus, os Octavia calçavam borracha de marcas diferentes, Bridgestone Potenza no caso do TSI, Pirelli Cinturato no TDI. Ainda assim, apesar das ligeiras perdas de tracção sob aceleração partilhadas pela dupla da República Checa (Chéquia não “consigo”, lamento), ambos revelaram um desempenho à altura do esperado, ainda que os Bridgestone me tenham parecido ligeiramente melhores ou, talvez, tenham dado essa impressão por estarem menos sujeitos a um temperamento tão explosivo como os Pirelli, o que pode ter influenciado a minha impressão. Quanto a consumos, com uma média final combinada de 6 l/100 km, a vantagem do TDI é óbvia. Porém, com uma média final ligeiramente acima dos 8 l/100 km, não posso não ficar impressionado pela possível eficiência do TSI.
Quente, sem queimar
Nem um, nem outro, dispunham do opcional DCC, o sistema de amortecimento variável que permite variar a dureza da suspensão ao toque de um botão. Porém, e embora normalmente aprecie bastante o seu desempenho, admito que, em ambos os “azuis”, não senti falta dessa variabilidade. Isto porque a rigidez de suspensão que a sigla RS traz ao Octavia não é suficiente para lhe retirar o nível de conforto que se exige numa utilização diária, mas está, claramente, à altura do maior controlo dinâmico que se espera encontrar em versões que apontam a uma condução desportiva.
Muito estáveis a curvar depressa, estes poderosos Octavia deixaram uma muito boa impressão em estrada, ainda que o seu comportamento não seja tão ligeiro e ágil quanto o do “irmão” Volkswagen Golf GTI, com o qual a versão RS TSI partilha o motor de 245 cavalos. A diferença de peso declarada entre ambos os Octavia, a gasolina e a gasóleo, é irrelevante, mas os cerca de 60 kg que os separam do mais leve Golf GTI, fazem sentir-se na precisão com que o eixo dianteiro deixa ser colocado em curva, bem como na maior rapidez com que o modelo alemão reage e muda de direcção.
Escolher um
Podendo escolher, e embora considere que o desempenho do motor TDI, quer a nível de andamento, quer a nível de eficiência, é extremamente convincente, escolhia, sem qualquer dúvida, o motor TSI para o meu Octavia RS. É mais agradável de explorar, soa melhor (se desligarmos o som artificial, também disponível no TDI, que os fazem soar como um V8 digital) e por 45.750 €, é apenas 635 € mais caro do que o TDI de 200 cv, isto se tivermos em conta os seus preços base. Estas unidades, com cerca de 4.000 € em extras, custam ambas cerca de 50.000 €.
Considerando o panorama actual do mercado, é um preço justo para um automóvel tão completo, tão cheio de argumentos. Qualquer Octavia é um produto muito bom. É, para mim, um dos melhores automóveis do segmento. Um dos melhores modelos de todo o grupo Volkswagen, no que diz respeito à sua relação preço/qualidade. No entanto, estes RS não são, nem de perto, nem de longe, os melhores desportivos de tracção à frente da sua categoria. E ainda bem que não o são. Com uma dimensão ajustada ao quotidiano, uma imagem exterior moderadamente desportiva, um habitáculo espaçoso e bem equipado, um acerto de suspensão bem conseguido e um nível de potência adequado e utilizável, o Octavia RS é, no fundo, como uma boa “bica”. Um café puro, que não é nem curto, nem cheio, bem “tirado”, cremoso, bebido, claro, sem açúcar e, “Deus nos proteja”, sem gelo. Em dose dupla, mas, felizmente, na dose certa.