Mazda 2 Hybrid – O automóvel certo com o nome errado
Haverá, certamente, uma explicação lógica para esta decisão. Não tenho dúvidas disso. Uma obrigação contratual, um toque de génio do Marketing da Mazda ou uma qualquer outra que a minha mente limitada não consegue atingir. Não vejo qualquer problema no facto deste Mazda ser um Toyota, mas este Yaris não devia chamar-se 2 pelo simples facto de o 2 original da Mazda continuar disponível. A verdade é que assim temos dois 2, um primeiro que, infelizmente, pouco se vê e este que, aposto, pouco se verá. Entendo que a Mazda tenha de acelerar o processo de electrificação da gama. Porém, não percebo o porquê de termos dois modelos distintos com o mesmo nome. Hybrid ou não, pouco importa.
Esquecendo esse pequeno pormenor referente à designação, reforço que não vejo qualquer problema neste automóvel ser, na sua essência, um Toyota Yaris. Porque ser um Toyota Yaris é ser, na verdade, um dos melhores utilitários do mercado, em grande parte devido ao comprovado sistema híbrido que o equipa, fiável e muito eficiente. Admito que nem sempre fui grande fã deste sistema. E não o era porque simplesmente nunca gostei da sensação de esforço comunicada pela transmissão do tipo CVT nas acelerações mais exigentes, mas o seu funcionamento não só está cada vez mais agradável, como a facilidade de utilização e economia conseguida são indiscutíveis. Este ensaio, por exemplo, terminou com uma média de 3,6 litros “aos cem” e inúmeros percursos foram completados com recurso ao motor eléctrico em mais de 50% do tempo de condução.
Feito para poupar, mas…
A grande prioridade deste motor híbrido é poupar combustível, mas não se pense que o consegue à custa de performance, pois os 116 cavalos que resultam da combinação do motor de combustão com a vertente eléctrica são capazes de proporcionar um andamento bastante convincente. E se a direito o poder de aceleração é mais do que suficiente, quando chegam as curvas o 2 Hybrid destaca-se pela agilidade que já reconhecíamos, obviamente, ao Yaris. Porém, embora dinâmico, não “pisa” o asfalto como um Mazda. Porque na verdade não o é. E este é um dos pontos que mais lamento que não seja diferente. Percebo o porquê, mas gostava que a direcção e o amortecimento fossem distintos.
Não é o utilitário com a melhor insonorização do segmento, mas reconheço que os ruídos exteriores, de rolamento e aerodinâmicos, são “amplificados” pelo quase total silêncio a bordo quando o motor de combustão adormece. Só nas acelerações mais fortes se nota a presença deste, maior do que o habitual, motor de três cilindros. Os modos de condução são igualmente três, Eco, Normal e Power, sendo ainda possível forçar a utilização do modo eléctrico se a bateria tiver carga suficiente. Este 2 Hybrid dispõe ainda de um modo de regeneração de energia adicional, seleccionável através do manípulo da transmissão, e que força a recuperação de energia nas desacelerações. Com uma boa gestão do pé direito, não é nada difícil fazer médias de consumo abaixo dos 4 lt/100 km.
Pequeno por fora, pequeno por dentro
Gostei muito de conduzir este Mazda 2 Hybrid. Do lugar do condutor as sensações são muito boas. Ao volante é tudo muito fácil, a visibilidade é boa, a posição de condução também e os espaços de arrumação são muito práticos. É, com esta eficiente motorização híbrida, um exemplo do que um utilitário deve ser, prático e económico para as tarefas diárias. As suas dimensões compactas são igualmente perfeitas para as gincanas na cidade e para o estacionar em qualquer lugar com grande facilidade. Assim sendo, não se pode exigir que a habitabilidade seja referencial, o que, claramente, não é. O espaço no banco de trás é suficiente para dois adultos, mas não sobram muitos centímetros livres. O acesso também não é o melhor, uma vez que as portas são pequenas e abrem pouco. Porém, num mercado dominado por automóveis cada vez maiores, será isso um problema? Não me parece. O conceito de utilitário é, na verdade, o de um veículo pequeno.
Mazda ou Toyota. Qual comprar?
É importante que uma coisa fique clara: optes por este Mazda 2 ou pelo Toyota Yaris, estás a comprar o último. A Mazda não o diz de forma tão directa, mas também não o esconde, assumindo-o nas suas comunicações, por exemplo, nas letras mais pequenas a seguir ao asterisco. Quanto a preços e níveis de equipamento, a Mazda propõe três acabamentos distintos, com preços entre os 25.237 e os 30.137 euros. Já a Toyota tem uma oferta mais abrangente, com seis versões e preços compreendidos entre os 23.410 e os 28.420 euros.
A minha grande dúvida quanto ao sucesso deste Mazda 2 – e volto a frisar, percebo o porquê da sua existência, apenas não percebo porque não o designam por, sei lá, Mazda 25 – tem a ver com o facto de ambas as marcas terem um tipo de cliente bastante distinto e fiel aos valores que as definem. Um cliente Toyota vai, sem dúvida alguma, comprar o Yaris. A confiança que o símbolo lhe transmite vai desviá-lo, à partida, de qualquer outro, por muito bom que seja.
Já um cliente Mazda, que valoriza uma maior ligação ao seu automóvel, ainda que seja um simples utilitário, não vai escolher o Toyota, mas também não me parece que na gama da Mazda, seja este o 2 eleito para ocupar o lugar do seu automóvel mais velhinho lá de casa. Por outro lado, um cliente que venha de uma qualquer outra marca concorrente, já conhecia o Yaris e os seus argumentos, e se ainda não o comprou, não deixou de o fazer porque tem estado à espera de que a Mazda lançasse este 2 Hybrid. “Gosto muito do Yaris, mas só ainda não o comprei porque gostava mesmo era de ter um Mazda igual.” Quantos condutores pensam assim? Arrisco-me a dizer, para aí, zero.
Sou terrível com estas previsões e espero estar enganado porque este 2 Hybrid não só é um muito bom produto como é um de muita importância para compensar a electrificação tardia da Mazda. Mas não lhe prevejo um futuro comercial muito risonho. Isto porque o seu maior argumento é o seu maior defeito. É demasiado bom e por ser uma quase fotocópia perfeita da referência híbrida do seu segmento, temo que muitos optem pelo original, o que, na verdade, percebo perfeitamente.