Alfa Romeo Stelvio Sprint 2.2 Diesel 160 cv – Para quando me obrigarem a ter um SUV
Inicio este artigo com um breve comentário que muitos acharão inapropriado, mas faço-o para contextualizar uma das minhas referências para este ensaio, não para vos provocar ou deixar com inveja. Até ao dia em que levantei este Stelvio com motor Diesel das instalações da Alfa Romeo, só o conhecia na sua versão Quadrifoglio com 510 cavalos. Pronto, já o disse. E agora que o fiz, posso dizer-vos que embora tenha sido um dos automóveis mais impressionantes que já conduzi, não me deixou, do ponto de vista jornalístico, satisfeito.
Isto porque o Quadrifoglio não é o Stelvio para o comum dos mortais e, assim, pelo facto de nunca ter guiado um mais “normal”, ficou sempre um vazio por preencher, uma lacuna no meu portefólio de ensaios que há muito desejava eliminar, o teste de uma versão convencional daquele que é um dos meus modelos preferidos de um dos segmentos que menos aprecio. Essa oportunidade surgiu agora, semanas antes da Alfa Romeo ter anunciado uma actualização mais abrangente na gama Stelvio – bem como no “meu” querido Giulia – sob a forma deste Sprint de matrícula “AQ66AM” com motor 2.2 Turbo Diesel de 160 cavalos e caixa automática de 8 velocidades.
Ainda o Diesel
Começo, então, pelo motor, um possante “dois – ponto – dois” que desloca, na verdade, um volume de 2.143 cm3, fazendo deste motor de quatro cilindros um com cilindrada de 2,1 litros. Não perguntem porque não sei a resposta. Com 160 cavalos, este motor pode até ser o menos potente da gama e não conseguir provocar um andamento capaz de impressionar, mas garanto-vos, mesmo sem conhecer a restante oferta Diesel, com 190 ou 210 cavalos, que não vão sentir falta de potência. O binário de 450 Nm é, sem dúvida, mais convincente, empurrando-nos decididamente para a frente logo a partir dos baixos regimes. Gostei da sua disponibilidade e “pulmão”, mas há margem para melhorar ao nível do ruído de funcionamento e dos consumos, pois fiquei-me por uma média final de 7,3 l/100 km.
Ainda no que à mecânica diz respeito, gostei muito da caixa automática. Produzida pela ZF, esta transmissão de 8 velocidades destaca-se pela suavidade das passagens a ritmo tranquilo, bem como pela rapidez e decisão da sua actuação durante uma condução mais empenhada ou quando solicitada pelas absolutamente geniais patilhas em alumínio atrás do volante. Arrisco-me a dizer que são as melhores patilhas de caixa que já experimentei. Em autoestrada, esta combinação de motor e caixa permite rolar a 120 km/h, em 8ª, com o motor a respirar baixinho, ali pelas 1.500 rpm. Assim, este Stelvio com motor Diesel e com esta excelente caixa de velocidades, e apesar da sua postura desportiva, é igualmente um excelente estradista.
Alta para mim, baixa para um SUV
Tratando-se de um SUV, a posição de condução é um pouco alta demais para o meu gosto, mas dentro do segmento, e para quem valoriza um maior envolvimento na condução, é das melhores que conheço, reconheço. Já a visibilidade dianteira na base do pilar A não sai beneficiada pela dimensão e colocação dos retrovisores, algo de que nem me lembro de ter reparado quando guiei o Quadrifoglio, muito provavelmente porque não estava muito preocupado com esses detalhes ao ter aquela potência disponível debaixo do pé. Número que, diga-se, deixa quase todos os restantes automóveis apenas visíveis nesses mesmos retrovisores.
A bordo, a qualidade global dos materiais convence e destaco a aplicação do mesmo acabamento dos forros de porta à frente e atrás. A sensação de solidez é transversal a todos os elementos do habitáculo. Porém, ainda que, para mim, esteja longe de ser algo mau, em alguns elementos este Stelvio acusa já os anos de serviço que leva, com um painel de instrumentos com um excelente e icónico grafismo, mas quase todo analógico, e com uma imagem da câmara traseira que, essa sim, deixa algo a desejar. O espaço no banco traseiro é bastante bom apesar do túnel central elevado, assim como o desenho do próprio banco, capaz de proporcionar um bom suporte. O Stelvio é um SUV que, como veremos de seguida, está orientado para o condutor, mas sabe também receber passageiros com espaço e conforto no habitáculo, bem como as suas respectivas bagagens nos 525 litros da mala.
Comportamento digno de um não SUV
Passando à condução, não será novidade para ninguém destacar as muitas qualidades do Stelvio no capítulo dinâmico. A direcção é, desde logo, das mais directas do mercado, permitindo transmitir movimento às rodas da frente com pouco trabalho de braços, uma rapidez de frente que beneficia a experiência. A suspensão é firme, sim, mas sem exageros, uma dureza que também é compensada pela muita borracha disponível no perfil dos pneus, o que é uma boa decisão para ajudar a manter o conforto que se exige num automóvel deste tipo. Com este perfil de amortecimento, fixo no caso desta unidade, o Stelvio torna-se num dos SUV mais dinâmicos do mercado, com um notável controlo de movimentos e com uma agilidade que a sua dimensão não consegue esconder. Para a família, sim, mas para um condutor que aprecia conduzir, mais do que guiar de A até B, todos os dias.
A tração traseira está lá, mas antes que te entusiasmes, fica a saber que as ajudas também. Provoca o Stelvio o quanto queiras, mas mesmo no modo de condução mais desportivo nunca serás recompensado com algo mais do que uma muito discreta escorregadela do eixo posterior, prontamente interrompida pelo cérebro electrónico do Stelvio. Estamos na presença de um SUV familiar, com motor Diesel, bem sei, mas é claro que preferia ter acesso a um pouco mais de liberdade de movimentos, que me permitisse usufruir, ainda mais, de tão boas credenciais ao nível do comportamento dinâmico, exactamente o que se espera de um Alfa Romeo.
Stelvio renovado em breve
A actualização do Alfa Romeo Stelvio já foi anunciada e este muito aguardado contacto com uma versão pensada para todos os dias veio comprovar duas coisas que já esperava encontrar, principalmente depois de ter conduzido o Tonale, o mais recente modelo da Alfa Romeo que estará, em breve, na Garagem. Ao trocar um pelo outro, senti, como acima referi, o peso da idade no projecto Stelvio. Continua a ser um modelo muito actual e aos meus olhos, melhor que muitos mais recentes, mas isso sou eu que não sou um fanático da electrificação e da digitalização. Por outro, sou fã de automóveis que entusiasmam, que convidam a serem conduzidos. O Stelvio é um grande exemplo disso. Também não sou fã de SUV, não trouxeram nada de benéfico ao mercado a não ser estilo, a quem o aprecia. Mas se me obrigassem a ter um SUV, não precisavam de me empurrar com muita força na direcção do Stelvio.