Toyota Aygo X – É aproveitar enquanto os há porque amanhã, quiçá, não haverá
Começo este artigo com uma pergunta: Até quando vamos ter acesso a automóveis pequenos? Vendem pouco e dão pouca margem de lucro, segundo consta. Por isso parece-me que não será durante muito tempo e, sinceramente, custa-me aceitá-lo. Por um lado, porque gosto muito deles, por outro, porque os centros das cidades e os seus principais acessos estão cada vez mais congestionados, mas continuamos a insistir em automóveis cada vez maiores, espaçosos e versáteis, mas que andam 90% do tempo com apenas uma pessoa a bordo, o condutor, e, pontualmente, com as compras da semana espalhadas lá atrás, numa bagageira capaz de envergonhar alguns T0 que vejo para alugar por oito centenas de euros. Não faz sentido.
Pequeno, mas maior
Os automóveis do segmento A são os veículos perfeitos para uma grande parte das nossas necessidades, mas poucos são os condutores que o admitem. E é aí que entra este novo Toyota Aygo, citadino que ganhou um X no seu nome e que assim destaca a sua postura crossover e a sua maior presença em estrada. Esteticamente, assumo que gosto bastante do resultado final e percebo a decisão da Toyota, mas também reconheço que passava bem sem o X, sem o visual da moda, com mais “cabedal”, no meu Aygo de eleição. O Aygo cresceu de tal forma que agora calça pneus de largura ainda algo comedida pelos padrões actuais, 175 milímetros, mas que forram jantes de 18 polegadas, o equivalente a uma criança de 13 anos calçar o 45.
Não anda pouco. Anda o que é preciso
Sim, automóveis como o Aygo X são pequenos, mas com essa compacidade vêm outras vantagens. A facilidade de condução, a de encontrar rapidamente um lugar onde estacionar, a agilidade proporcionada pela leveza, bem como a eficiência proporcionada por esta última. O pequeno motor 1.0 a gasolina pode apenas produzir 72 cavalos e 93 Nm, mas estes curtos números chegam bem para as encomendas. A velocidade máxima de 158 km/h e uma aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 15 segundos jamais conseguirão despentear alguém com mais cabelo do que eu, mas no dia-a-dia faz falta uma maior rapidez? Não, não faz. Apenas nas ultrapassagens é necessária uma melhor preparação, antecipando a aceleração com recurso à caixa e pronto. O Aygo X também vai onde os mais crescidos vão, mesmo que não chegue com a mesma velocidade. Chega sim com um consumo combinado, fácil, de 5 l/100 km, o que, actualmente, conta muito mais do que velocidades de ponta.
Precisas mesmo de mais espaço? Yaris, Corolla ou RAV4
A bagageira é pequena. Claro que é. Mas cabem lá as compras da semana ou duas malas de viagem. O espaço atrás é curto. Claro que é. Mas a Toyota também não propõe este Aygo para famílias, nem para quem usa o banco de trás regularmente. Porém, se for mesmo necessário, encaixam-se lá dois adultos, mesmo que contem com zero “luxos”. O acesso é limitado pela dimensão e abertura das portas, as janelas traseiras são pequenas e não abrem como habitualmente, para baixo, apenas o fazem, ligeiramente, para fora, através de uma dobradiça. Por ali não existem sequer umas colunas de som, quanto mais saídas de ar e outros elementos de conforto. Existe um banco com dois lugares utilizáveis. Ponto final. É um Aygo, não é um Yaris, quanto mais um Corolla ou RAV4.
Um Aygo X de luxo
Nos lugares da frente o nível de conforto é, como seria de esperar, muito diferente daquele descrito para os lugares traseiros. O ambiente é muito mais arejado e equipado. Os bancos cumprem bem a sua função numa utilização citadina, mas nas viagens mais longas, nota-se que não são os mais adequados. Os materiais são rijos, sim, mas são robustos, com superfícies fáceis de limpar. São vários os compartimentos de arrumação e nesta versão Limited a lista de equipamento inclui elementos como o carregador sem fios de smartphones, os máximos automáticos e, imagine-se, os bancos aquecidos. E que bem me soube usá-los nas minhas voltas nocturnas a tarde e a más horas. O painel de instrumentos conta com um design simples que aprecio, com uma agulha de velocímetro parcialmente escondida por um pequeno display com informação variada, desde o consumo ao rádio, passando ainda pelos assistentes de condução.
Condução convence
Onde o Aygo X mais me surpreendeu foi nas sensações transmitidas durante a condução. Cresceu, fisicamente, e cresceu, também, na forma como pisa a estrada, sem os ressaltos e a pouca filtragem normalmente associados aos automóveis mais leves. Lida bem com as lombas e buracos mais agressivos – as rodas grandes ajudam – e mantém um nível de conforto muito bom, provavelmente o melhor que já encontrei num modelo deste segmento. Nota igualmente positiva para a direcção e para o comando da caixa de 5 velocidades, ambos bons complementos do comportamento dinâmico seguro demonstrado quando estamos a espremer o pequeno motor 1.0 com o seu típico ronronar dos três cilindros. Não é rápido, mas é divertido, a combinação perfeita para uma condução responsável que não tem de ser, diariamente, uma seca.
Caro
O Aygo X, mesmo maior e mais crossover, continua a provar algo que sempre defendi: automóveis pequenos, simples, económicos, para nos levarem onde precisamos de ir, são essenciais. Gostei de o conduzir, adorei a cor deste Limited, mas o preço a pagar é assim para o “upa upa”. O equipamento é vasto e a garantia é de 7 anos ou 160 mil km, mas são 21.680 euros. Há que olhar mais para baixo na gama e prescindir de algum equipamento. No entanto, não é só o Aygo X que está caro. Todos os automóveis estão. Principalmente os eléctricos que nos dizem ser o futuro. Vejo um enorme potencial na pilha de combustível a hidrogénio, mas vejo pouco nas actuais grandes e poderosas baterias. Espero que não nos venhamos todos a arrepender desta corrida ao lítio.
Melhor só se fosse eléctrico
Tudo isto para dizer que é aqui, neste segmento, que vejo o futuro dos eléctricos, principalmente no caso particular dos equipados com uma bateria. Um veículo compacto, de autonomia assumidamente limitada por uma bateria pequena e leve, mas ideal para o dia-a-dia de, para e na cidade. Mais barata de produzir, com menos impacto ambiental e fácil de carregar. Com 72 cavalos “eléctricos” e não com 500 cavalos, três motores e uma aceleração de 0 a 100 km/h estupidamente rápida. Ninguém quer isso. Ninguém precisa disso. Precisamos de um preço que as pessoas possam pagar. Isso sim. E se a mobilidade eléctrica é, por todos assumido, cara, então vamos acabar com o segmento mais barato? Mais adequado aos ambientes urbanos e à protecção do ambiente? Lucros, lá está. O Aygo X tem muitos argumentos, mas o maior deles é o seu potencial para se tornar 100% eléctrico numa próxima geração. Ainda bem que a Toyota não matou o Aygo. Tenho esperança. Porque gosto de automóveis pequenos.