Ecos de um Portugal além-fronteiras no Estoril Classics 2022
Retomamos, esta semana, o filão “Estoril Classics 2022” com dois exemplos de um passado com outras tantas décadas, que dizem algo muito em particular aos portugueses: um Porsche 911 que, em 1997, esteve em Le Mans com uma tripla de irmãos, e um Mosler que rolou pelos EUA no dealbar do novo milénio. E eis que surgiram juntos numa mesma batalha na pista desenhada no sopé da Serra de Sintra.
Continuam a ser, infelizmente, raras as incursões portuguesas nos grandes campeonatos, séries ou provas internacionais de motorsport, mas quando tal acontece – e felizmente ainda há umas quantas exepções – a bandeira verde-rubra lá é vista a esvoaçar no alto dos mastros dos recintos, ao lado dos estandartes de outras paragens, até fazendo com que os acordes d’ “A Portuguesa” se ouçam, tocados ao vivo ou provindos de uma qualquer gravação de variável qualidade áudio.
É o caso dos dois exemplos que escolhemos para esta mais edição da Garagem sobre o “Estoril Classics 2022”, evento que a Peter Auto e a Race Ready organizaram no início de Outubro na pista desenhada nos arredores da capital: um Porsche 911 que brilhou nas 24 Horas de Le Mans de 1997, pelas mãos de uma inédita tripla de irmãos portugueses, e um (talvez) menos óbvio Mosler, super-desportivo que teve mão de um piloto luso no seu processo de desenvolvimento, do outro lado do Atlântico.
O inesquecível Porsche 911 GT2 dos irmãos Mello Breyner
Comecemos pelo 911 (993) GT2 Evo #73, Porsche que Manuel, Pedro e Tomaz Mello Breyner levaram à edição de 1997 das 24 Horas de Le Mans, no que foi uma estreia, na clássica francesa, de uma equipa exclusivamente composta por três irmãos.
Apelido gigante do desporto automóvel português, envolvido em quase tudo o que tinha motor e rodas, dos ralis ao todo-o-terreno, dos troféus de estrada e de pista às grandes corridas de resistência, a tripla Manuel / Pedro / Thomaz decidiu-se por abraçar um projecto nunca antes pensado, viajando em família para a clássica francesa de resistência. Se em 1996 a qualificação lhes falhou, nem por isso baixaram os braços, fazendo tudo para alcançarem esse objectivo na edição seguinte, conseguido com assinalável sucesso.
Sob a tutela da Roock Racing, a singular prestação familiar culminaria com um 3º da categoria GT2 e um 11º lugar final, processo que teve, à altura, uma ampla cobertura nacional e internacional.
Hoje pertença de Günther Schindler, o histórico 911 português marcou presença neste “Estoril Classics” integrando a categoria Endurance Racing Legends, mantendo praticamente inalterada a composição gráfica da altura, exibindo os mesmos patrocinadores nacionais, da cadeia de supermercados Jumbo, à construtora Somague, Seguros Aliança UAP e Interbanco, e até outros diminutos autocolantes, tudo aplicado sobre o cinza e alaranjado da carroçaria.
Quanto a resultados, Schindler levou o outrora nosso / agora seu 911 ao 8º lugar na Corrida 1, para depois evoluir para uma sólida 4ª posição no segundo confronto do fim-de-semana, em ambos os casos como o segundo melhor da classe GT2A.
O Mosler MT900 R que João Barbosa ajudou a criar
Outro exemplar em destaque neste mesmo grupo foi o Mosler MT900 R, de motor V8 Chevrolet, com 5,7 litros, viatura desenvolvida nos EUA, entre outros, por João Barbosa, piloto luso que há muito assentou arraiais do outro lado do Atlântico Norte para a solidificação da sua carreira no mundo das corridas de resistência.
Dividindo-o com Michel Neugarten e Thierry Perrier e integrados na Classe GT, com ele alcançou um 3º lugar nas 6 Horas de Watkins Glen de 2001 e mais um 5º posto nas Rolex 24, somando-lhe, depois, uma vitória e três segundos lugares nas 10 corridas que fez com a Perspective Racing, terminando o ano na 4ª posição no ranking de Pilotos dessa categoria. Barbosa regressaria a Daytona em 2003, mas já com o MT900 R integrado no grupo GTS, garantindo-se nova vitória na classe, ali partilhada com Jérôme Policand, Michel Neugarten e Andy Wallace, resultado completado com um 9º lugar da geral. No final do ano sagrar-se-ia Vice-Campeão.
Já no Estoril, este Mosler em cujo tejadilho se lia o apelido “Barbosa”, junto à indispensável bandeira nacional, apenas deu nas vistas por esse seu tom laranja vibrante, conquistando bastantes fotos nas boxes e fora delas. Já em termos de resultados, Colin e Fergus Paton, dupla que o dividiu nas duas corridas de Endurance Racing Legends, ficou-se por um 17º lugar na primeira e uma desistência no segundo confronto de 40 minutos.
Agora, desengane-se se acha que terminaram as curiosidades desta épica jornada no Estoril, pois outras criações icónicas do mundo automóvel irão, em breve, merecer uma abordagem dedicada nesta sua Garagem. É só continuar a acompanhar-nos desse lado!
Fotos: Garagem/Jota Pê; Rui Reis Fotos