Volkswagen T-Roc R – Selecção nacional
Escrevo este artigo poucos dias depois de terminado mais um mundial de futebol que viu – na minha opinião, merecidamente – a Argentina sagrar-se campeã. No caso de Portugal, e também na minha humilde opinião, apesar de termos uma selecção composta não só pelos melhores jogadores portugueses, mas também por alguns dos melhores do mundo, isso por si só não chega para se concretizarem objectivos e conquistar troféus. Somos bons, mas não fomos suficientemente bons. No entanto, isso não significa que não devamos estar orgulhosos do “nosso” desempenho. Eu estou.
E tal como alguns desses nossos grandes jogadores, também este Volkswagen T-Roc R produzido em Portugal, mais precisamente na fábrica Autoeuropa em Palmela, veste a nossa camisola como um alemão naturalizado português. Este R é, na verdade, a versão mais potente de um modelo incrivelmente bem-sucedido, ainda que isto, muito provavelmente, passe despercebido para a maior parte dos portugueses, mais interessados nos assuntos do futebol do que nos tão relevantes automóveis produzidos a nível nacional.
Um sucesso
Fiquem então a saber que o T-Roc foi, segundo informação da Jato Dynamics, o SUV mais vendido da Europa no primeiro semestre de 2022, com mais de 86 mil unidades comercializadas. Números que não enganam. O T-Roc está, garantidamente, e tal como os que foram defender as nossas cores ao Catar, entre os melhores players do seu campeonato. Tive oportunidade de visitar a linha de produção do T-Roc e garanto-vos que devíamos, também, estar orgulhosos do seu desempenho.
Depois de o ter conduzido nas suas versões mais apontadas à correria do dia-a-dia, com motores TSI de baixa cilindrada, passei uns dias ao volante do T-Roc mais especial da gama, pensado para outro tipo de correrias. Com o já mítico motor 2.0 TSI, aqui na sua versão de 300 cavalos, este T-Roc é SUV verdadeiramente especial. E apesar de ser muito mais rápido do que as versões com 110 ou 150 cavalos, não se pense que o R é impossível de usar no quotidiano, porque é, até, bastante bom nesse aspecto.
Ligeiramente menos versátil
A presença de um mais complexo sistema de tracção integral significa que em vez de dispor de 445 litros de volume de bagageira, este super T-Roc oferece “apenas” 392 litros. Menos, é certo, mas pouco? Não me parece. Sim, de facto não tem muito espaço livre em altura, mas debaixo do piso ainda dá para se arrumar mais qualquer coisa. No banco traseiro, não só o espaço disponível convence – mais aconselhável para dois, do que para três – como o banco se destaca pelo seu correcto desenho, proporcionando bom suporte para as pernas.
Passando para os lugares da frente, tenho de voltar a destacar a grande evolução sentida no T-Roc ao nível dos materiais do tablier, agora bem mais macios. Também gostei de pormenores como o punho da caixa e frisos iluminados nas portas, bem como dos bons e bonitos bancos especiais deste R. Mas no habitáculo não gostei das patilhas plásticas no volante para controlo da caixa DSG, nem achei muito fácil a utilização dos comandos tácteis da climatização. Muito melhores do que quando exclusivamente acessíveis através do infotainment, mas claramente batidos pelos mais convencionais comandos físicos e rotativos.
O argumento do amortecimento variável
Também o conforto – tal como vimos acima com a versatilidade – numa versão desportiva como esta, sai normalmente prejudicado pela presença de uma suspensão mais rígida. No entanto, esta unidade dispõe de amortecimento variável, um opcional que custa cerca de 1000 euros, mas que faz toda a diferença, permitindo ter o melhor de dois mundos num só automóvel. Por um lado, está assegurado um bom nível de conforto, ideal para as voltinhas do quotidiano, por outro, no outro extremo, a maior dureza do amortecimento é garantia de muita eficácia dinâmica.
Ainda assim, apesar do desempenho convincente do controlo dinâmico de chassis, achei-o menos abrangente em capacidades do que quando aplicado no irmão Golf R, também com maior liberdade de escolha ao nível da configuração do amortecimento. No modo confortável, o Golf R parecia absorver ainda melhor as irregularidades, rolando com outra subtileza nas baixas frequências e oferecendo um nível de conforto ainda melhor, que nunca consegui sentir a bordo deste T-Roc. E não sei até que ponto os pneus não têm, também aqui, a sua influência.
Nervoso
A borracha Continental de medida 235/40 R19 também não me pareceu lidar tão bem com a subida de ritmo como os Goodyear que calçavam as jantes do Golf R. Em aceleração pura à saída das curvas, o T-Roc R mostrou uma ligeira tendência subviradora de que não me lembro de ser tão notória quando conduzi o Golf R e também nas travagens mais fortes nunca me pareceu tão plantado, tão estável, o que talvez também se explique pela menor distância entre eixos, bem como pelo centro de gravidade mais elevado do SUV. Mas atenção, apesar de mais nervoso, de se mostrar um pouco menos eficaz do que o Golf, o T-Roc R não deixa de ser dinamicamente impressionante, pelo seu comportamento, motor e capacidade de tracção.
A direcção muito directa é uma mais-valia, pois ajuda a compensar de uma forma rápida os desvios do eixo dianteiro, permitindo, através de pequenos ajustes no volante, simultaneamente aplicados com um breve levantar do pé do acelerador, colocar novamente o T-Roc no caminho certo. Sobre o motor dois litros, sobrealimentado, aqui com 300 cavalos, não há muito mais a dizer. Sempre cheio, de baixo até acima, com uma boa disponibilidade logo a partir das 2.000 rpm, com gosto em levar o ponteiro do conta-rotações até ao fim, sem perda de fulgor, e com uns médios regimes muito convincentes, fruto dos 400 Nm de binário máximo disponível até às 5.200 rpm. Perde apenas 20 cv e 20 Nm para o Golf R, mas notam-se diferenças, ainda que muito subtis.
Tracção integral a toda a prova
Quanto a modos de condução, a oferta é ampla e muito abrangente, adaptando o T-Roc R às mais variadas situações e cenários. Dos habituais Eco, Comfort e Normal até ao mais radical Race (com botão dedicado no volante) e ainda o muito útil modo Individual, que permite ajustar, por exemplo, o amortecimento, a direcção, a resposta e o som do motor, este último, amplificado pelo escape Akrapovič com um custo de 3.800 euros. Para além destes, o T-Roc R oferece modos Offroad e Snow específicos.
A ideia geral a reter é que, tal como o Golf R, o T-Roc R é um desportivo muito eficaz e muito rápido. E tal como o Golf, mantém quase intactos os argumentos das versões mais vulgares, com um bom nível de conforto, com equipamento e, até, com consumos relativamente comedidos, sendo possível fechar percursos com médias de 8 l/100 km, ainda que seja difícil resistir à potência e, assim, levar o computador de bordo a valores menos simpáticos, na casa dos “dez aos cem”, com alguma facilidade.
Bom, mas não tão bom
Porém, como referi acima, achei o T-Roc um pouco menos bem conseguido que o Golf R em vários aspectos. É ligeiramente menos rápido a acelerar, um pouco menos eficaz a manter-se na trajectória certa e também menos estável nas travagens em apoio, ficando também uns furos abaixo do Golf no que diz respeito a conforto a bordo e ao refinamento com que pisa a estrada. Mas ficar apenas um pouco aquém de um automóvel mais moderno e tão impressionante como o Golf R, é o maior elogio que posso fazer ao T-Roc R.
É realmente uma pena que custe 57.000 euros, valor ao qual é preciso adicionar mais de 11.000 euros em extras. Sim, este SUV compacto Made in Palmela custa 68.400 euros. E isto leva-me à questão final. Se o preço base do Golf R é 61.000 euros, “apenas” mais 4.000 euros do que o T-Roc R, o que levará alguém a optar pelo SUV? Por muito que goste do T-Roc – e gosto – não é fácil entender, mas acho que tenho a resposta: é um SUV. Por outro lado, só confirma o que tenho vindo a dizer cada vez mais vezes: não só o design continua a ser o primeiro factor decisivo na hora de trocar de automóvel, como uma carroçaria SUV em nada beneficia o conceito base do automóvel. Nem na performance, nem na eficiência.
Assim, e voltando ao futebol, vejamos o T-Roc R como a selecção nacional de Portugal. Um conjunto cheio de talentos, com provas dadas e do qual nos podemos (e devemos!) orgulhar. Aliás, é essencial orgulharmo-nos do T-Roc. É produzido por nós e conduzido por milhares, também “lá fora”. Mas no mundo dos modelos R da Volkswagen, o Golf que conduzi em Outubro do ano passado é ainda melhor do que este T-Roc, a todos os níveis. Se o T-Roc R é Portugal, o Golf R é a Argentina. E aposto que na Alemanha, onde o Golf é produzido, os alemães, após este mundial de futebol, não me vão levar a mal esta comparação, antes pelo contrário.