Citroën C5 Aircross 1.2 Puretech – Este sim, um SUV verdadeiramente pensado para a família
Se há um segmento de mercado em que a oferta é tão abrangente quanto a procura é grande, esse talvez seja o dos SUV de segmento C. Não há marca, generalista ou com uma abordagem mais premium, que se possa dar ao luxo de não ter pelo menos um modelo da sua gama inserido nesta categoria.
Vistos por muitos como o veículo ideal para uma pequena família, os SUV compactos têm cada vez mais fãs, uma tendência expressa pelos 1,26 milhões de unidades registadas na Europa durante o primeiro semestre de 2022, segundo dados de um relatório da Jato Dynamics. Na verdade, o sucesso do formato SUV já não é uma tendência, mas sim um dado adquirido, expresso também pelos 49,5% que este representa no número total de matrículas nesse mesmo período.
Porém, na lista de 67 modelos do segmento C-SUV considerados nesse estudo, o Citroën C5 Aircross foi apenas o 23º classificado, uma posição que, por muitas qualidades que outros modelos melhor classificados possam ter, me custa perceber depois de com ele ter passado vários dias.
Para cinco passageiros, a sério
O C5 Aircross destaca-se, desde logo, por uma característica que poucos outros modelos conseguem oferecer, o bem desenhado banco traseiro com três verdadeiros lugares. O espaço livre para joelhos é mais do que suficiente e o lugar do meio quase não é prejudicado pelo túnel central, muito baixo. Relativamente a espaço livre para a cabeça, a folga não é tanta devido à presença do tecto panorâmico, mas nada de crítico, ainda menos se pensarmos na vantagem da muita luz natural que este permite passar ao habitáculo, já de si favorecido pelas grandes janelas traseiras, cujos vidros descem quase na sua totalidade. As portas de trás são grandes e abrem num ângulo bastante grande, favorecendo, também, a acessibilidade.
No que à versatilidade diz respeito, e a complementar uma impressionante bagageira com 580 litros de capacidade, o C5 Aircross permite, também, regular longitudinalmente, de forma individual, os bancos dos lugares traseiros, dando a opção de garantir mais espaço para pernas ou para objectos na bagageira. Podem, igualmente, ser rebatidos um a um, criando um plano de carga completamente horizontal devido ao fundo amovível, o qual, infelizmente, não esconde uma roda suplente. Ainda no que diz respeito a praticidade, a porta traseira dispõe de accionamento eléctrico.
Nem faltam as massagens
Os passageiros da frente dispõem de outros luxos, como seria de esperar. E começando, desde já, pelos bancos, importa dizer que são muito confortáveis e perfeitos para as longas viagens, dispondo também de função de aquecimento, bem como de massagem. Quanto a regulações, apenas o condutor pode fazê-lo de forma eléctrica. A posição de condução ideal é fácil de encontrar e ao volante é impossível não reparar imediatamente no painel de instrumentos digital, com vários modos de apresentação da informação, sempre disposta de forma original, à boa maneira da Citroën.
O outro elemento digital do habitáculo é o ecrã do infotainment, com melhor definição do que o do painel de instrumentos e com uma dimensão algo contida que, admito, prefiro. No entanto, destaca-se, pela negativa, a qualidade de imagem da câmara traseira de apoio ao estacionamento, bastante baixa pelos padrões atuais. Não gosto também que o infotainment acumule, quase na totalidade, os controlos da climatização, mas felizmente dispõe de uma faixa de botões de atalho que em muito ajudam na hora de alternar entre menus.
Materiais rijos, construção sólida
Mais abaixo, a consola dispõe de uma zona para carregamento sem fios de smartphones, bem como os controlos da caixa automática de 8 velocidades – também com patilhas atrás do volante, infelizmente com aspecto demasiado “barato” – dos modos de condução (Eco, Normal, Desporto, Areia, Neve e Lama) e ainda os botões de arranque do motor e de activação do sistema de controlo de descidas.
Ainda no habitáculo, importa referir que os plásticos utilizados são maioritariamente rijos, com excepção dos utilizados nas portas dianteiras e na zona frontal do tablier, forrada a napa, mas a montagem transmite bastante solidez, algo que me parece bem mais relevante do que a suavidade ao toque.
O conforto, sempre o conforto
Passando à condução propriamente dita, é impossível não começar por falar do conforto de rolamento. Ainda que não seja tão suave de suspensão como o C5 X que conduzi recentemente – e cujo ensaio podes consultar aqui – este C5 Aircross é garantia de uma experiência em estrada muito relaxante. E, como disse acima, com bancos individuais, é confortável para todos a bordo.
Ainda que plenamente orientado para uma experiência serena a bordo, este excelente estradista familiar transmite, igualmente, uma boa sensação de segurança ao curvar mais depressa. Não é, de todo, o seu cenário de eleição, mas apesar da afinação suave do amortecimento, o C5 Aircross é um SUV de reacções muito neutras, mostrando-se sempre muito controlado.
Suficiente, mas esforçado
Quanto ao motor 1.2 Puretech, três cilindros, a gasolina, de 130 cavalos, e tratando-se de uma das motorizações de acesso à gama, não se espere encontrar nem o andamento, nem a eficiência de um dos híbridos plug-in. São 1.500 kg de um volumoso automóvel que, apesar disso, nunca me pareceu submotorizado. Pelo menos no que à dinâmica diz respeito, com o C5 Aircross a mostrar uma capacidade de aceleração mais do que suficiente para o dia-a-dia.
Porém, na hora de fazer contas ao combustível gasto, a conversa muda de tom, pois fiquei com a sensação de que o pequeno “mil e duzentos” acaba por ser demasiado esforçado, consumindo mais combustível do que seria aceitável, com a média combinada a manter-se sempre na casa dos 8 l/100 km. Para quem não fizer muitos quilómetros, não será um problema, mas para os restantes, talvez seja melhor ponderar o motor 1.5 BlueHDi, a gasóleo, de igual potência, que custa cerca de mais 4.000 euros do que os 41.170 euros pedidos por este 1.2 Puretech de 130 cavalos.
Gama C5 Aircross desde 32.412 euros
Gostei bastante do C5 Aircross. Não é, de todo, o meu tipo de automóvel, mas dentro do seu segmento, é bem capaz de ser dos que melhor responde às necessidades familiares, passando com distinção no teste da habitabilidade e versatilidade. O equipamento de conforto e segurança desta versão Shine Pack é outro dos seus argumentos, mas também é verdade que custa mais 5.200 euros do que a versão de acesso, Feel, também com este motor e caixa automática.
Ainda que este C5 Aicross seja grande e esteja recheado de equipamento – uma tonelada e meia, relembro – o pequeno motor 1.2 litros revelou ser um pequeno milagre do “downsizing”, mostrando um desempenho à altura do que se espera encontrar numa proposta deste género. Não impressiona, mas dada a sua cilindrada, convence. No entanto, como acima referi, não se pode ter tudo e os consumos elevados são prova disso, principalmente se a condução for maioritariamente urbana.
Mudava pouco, mas mudava algumas coisas
Continuo a achar que não é boa solução incorporar os controlos da climatização no sistema de infotainment e o mercado começa, felizmente, a dar alguns sinais de corrigir isso. Espero que o C5 Aircross venha a beneficiar, no futuro, desse passo atrás que é, na verdade, o equivalente a dar dois para a frente, quer em termos de facilidade de utilização, quer, acima de tudo, ao nível da segurança. Das duas uma: ou somos salvos pela travagem automática ou pelos airbags.
Também o porta-luvas de um automóvel tão grande e prático é algo estreito, o modo Eco mostrou-se exageradamente estrangulador do binário necessário para arrancar “despachado” para aproveitar uma vaga ao entrar naquela rotunda congestionada e na mala falta-lhe o essencial pneu suplente. Fora isso, e um preço muito elevado que é, bem sei, uma realidade transversal a qualquer modelo e marca, são poucos os defeitos a apontar a um SUV que é, ao contrário de muitos outros que o dizem ser – mas que não são assim tanto – pensado para as famílias.