Volkswagen ID.5 Pro Performance – Minimalismo em tamanho XL
No seguimento de um primeiro e muito breve contacto dinâmico durante a sua apresentação nacional, o ID.5, o terceiro elemento da família 100% eléctrica da Volkswagen, volta às “páginas” da Garagem depois de ter passado uns dias na nossa companhia para que o pudéssemos, agora sim, colocar verdadeiramente à prova.
A nível estético, começo por dizer que o ID.5 – tal como a maior parte dos modelos eléctricos do mercado – parece sempre mais alto do que deveria ser, mas a verdade é que a colocação da bateria debaixo do piso assim o obriga. A linha de cintura é alta, mas felizmente, no caso do ID.5, a Volkswagen tenta esconder esse exagero assumindo outros, como por exemplo através das jantes de 21 polegadas da unidade em ensaio. Tudo no ID.5 é grande e mais do que esconder, há que assumir.
Estranhei, em tempos, o minimalismo do design da família ID, mas tenho de reconhecer que já o vejo “com outros olhos”. Nenhum dos modelos será, jamais, recordado como uma obra de arte sobre rodas, mas dentro das limitações impostas pela colocação da bateria, bem como o por vezes exagerado anonimato forçado pela ausência de grelhas e por um melhor desempenho aerodinâmico, reconheço que o simples pode, também, ser bonito.
Um interior de qualidade, com poucos botões
Passando ao habitáculo, este minimalismo visual exterior prolonga-se ao tablier, onde, uma vez mais, aprovo-o ao nível do design. Gosto da simplicidade estética, da combinação de cores presente nesta unidade, bem como da qualidade dos materiais. Mas esta abordagem podia ter-se limitado ao design e não à utilização, uma vez que o ID.5 sofre do mesmo mal que muitos outros modelos do grupo: uma ausência exagerada de botões físicos e, assim, uma simplicidade que se torna complicada.
O ecrã do infotainment acaba por ser o centro de operações do ID.5, complementado por úteis botões de atalho, bem como por uma zona táctil para ajuste do volume de som e da temperatura do ar que, infelizmente, não é iluminada, um pouco como esta ideia, diga-se. O segundo ecrã digital, de dimensão mais contida, é o painel de instrumentos, solidário com a coluna de direção e onde está também colocado o comando que controla a transmissão, uma solução que primeiro se estranha, mas que depois se entranha.
Já do comando dos vidros eléctricos não posso dizer o mesmo. O botão “Rear” que ativa o controlo dos vidros traseiros é facilmente e demasiadas vezes activado inadvertidamente e dei por mim a querer abrir a janela do condutor e a controlar as de trás. Tudo para “poupar” dois botões independentes. É, no mínimo, desnecessário, Volkswagen.
Do lugar do condutor, tenho de começar por dizer que ao início lutei um pouco com as regulações do banco para encontrar a minha posição ideal. Gosto de me sentir baixo, abraçado pelo tablier e restantes elementos do habitáculo, mas para o conseguir, a parte da frente do assento “fugia-me” de debaixo das pernas, retirando-me o suporte de que também não prescindo. A solução foi subir um pouco o assento. Colocar-me um pouco mais acima do que gostaria de me sentir, mas com mais suporte para não ter as pernas “penduradas”. Daqui, também achei a visibilidade na base do primeiro pilar algo difícil.
Lá atrás, tudo à grande
Nos lugares de trás, pouco ou nada há a criticar pela negativa. O espaço disponível para pernas é simplesmente impressionante e a sensação de espaço é ainda mais ampliada pelo excelente tecto panorâmico. Quanto a espaço para bagagens, o elogio é tão grande quanto o volume disponível, nada mais, nada menos do que 549 litros, expansíveis a 1.561 com o rebatimento dos bancos. Um SUV familiar eléctrico que, apesar do formato coupé, não deixa de saber ser versátil e com uma habitabilidade excelente, seja para os trajectos curtos do dia-a-dia, seja para os passeios mais prolongados em família.
No que à condução diz respeito, tenho de elogiar o trabalho feito ao nível da suspensão. Apesar da sua dimensão e peso – cerca de 2.100 kg – bem como das jantes de 21 polegadas, este ID.5 Pro Performance nunca parece excessivamente rijo de amortecimento. O conforto a bordo merece ser destacado, assim como a facilidade com que rola, mantendo velocidade com grande facilidade e tirando, assim, alguma vantagem do seu peso elevado.
Potência adequada e consumo algo elevado
Equipado com um motor de 204 cavalos e 310 Nm, este ID.5 não é um daqueles eléctricos capazes de acelerações fulminantes – a performance de topo fica para a versão GTX, em breve na Garagem – mas a rapidez com que ganha velocidade e a disponibilidade imediata dão-lhe uma muito agradável genica que a sua dimensão parecia, à partida, não permitir ser possível. Relativamente a comportamento, o ID.5 passa também com distinção, conseguindo, quase sempre, esconder o seu peso com uma agilidade mais do que suficiente para o quotidiano, transmitindo sempre muita segurança.
Resta abordar a questão dos consumos de energia, talvez a mais importante de todas ou, pelo menos, uma das mais importantes para o condutor de um veículo familiar eléctrico. A bateria de 77 kWh é, em teoria, suficiente para percorrer mais de 500 quilómetros e a verdade é que o “meu” ID.5 indicava uma autonomia de 519 km com 99% de carga quando o fui buscar ao parque de imprensa da VW, confirmando-o. Porém, numa condução maioritariamente feita em cidade, o cenário preferido dos eléctricos, o consumo médio ficou-se pelos 18 kWh/100 km, o que se traduz numa autonomia real de cerca de 430 km. Um valor inferior ao anunciado, mas ainda assim bom e que já dá confiança para percursos mais longos ou para atrasar as necessidades de carregamento.
No entanto, em autoestrada, ambiente onde, aí sim, os percursos são maiores, a história foi bem diferente. Após 70 quilómetros contínuos, sem exceder, em momento algum, os 130 km/h, o consumo registado já foi de 22 kWh/100 km. A autonomia, neste cenário, parece “evaporar-se” e reconheço que fiquei nervoso quando vi a luz de reserva de energia acender-se aos 20%. Culpa minha que, com a correria do dia-a-dia, não fiz o carregamento adequado para chegar, sem pressão, ao meu destino, confiando na “autonomia citadina”. Mas refiro-o, apenas, para destacar como os eléctricos preferem, de longe, o ambiente das cidades, bem como que nós, os utilizadores, temos um trabalho essencial de adaptação pela frente.
5, talvez o melhor dos três modelos ID já testados
De todas as experiências que tive com a família ID da Volkswagen, este “5” foi aquele que mais me impressionou. É grande demais para aquilo que são as minhas necessidades, mas é impossível não ficar agradado com o espaço e vivência a bordo. O salto qualitativo é também notório relativamente a outros modelos e gostei, igualmente, de uma suspensão que lhe dá controlo e agilidade sem prejudicar o conforto, mesmo considerando as mais de duas toneladas que pesa. Há coisas a melhorar, sem dúvida, principalmente ao nível da facilidade de utilização de alguns comandos no interior e, principalmente, ao nível do consumo de energia, mas globalmente, o ID.5 é um automóvel muito competente. O melhor de todos os modelos ID da VW que já guiei. Se bem que algo me diz que esta afirmação deixará, em breve, de fazer sentido, “because, ID. Buzz”.