Renault Kangoo TCe 130 Equilibre – Versátil todos os dias da semana
“Epá, então tu agora andas com isso?” Ando e com muito gosto. Não só tenho interesse em guiar e conhecer tudo o que tenha rodas e que se possa conduzir, pois é esse o meu trabalho, como passar uns dias na companhia de um automóvel como o Renault Kangoo é uma autêntica lufada de ar fresco. Retiro igual ou mais prazer de uma condução tranquila, a ritmo de passeio, do que quando tenho centenas de cavalos disponíveis debaixo do pé ou um chassis de afinação desportiva para tentar ler. Abrandar o ritmo, é, muitas vezes, benéfico.
E que não fiquem dúvidas. Os automóveis que as pessoas compram porque efectivamente precisam, para usarem todos os dias nas suas deslocações de trabalho ou para passear ao fim-de-semana com a família, queiramos ou não, são os mais importantes de todo o parque automóvel. São os que nos dão a mobilidade de que tanto dependemos e de que, claro, tanto gostamos. E se é verdade que também esses modelos para o comum dos condutores estão a ficar cada vez mais caros, ainda vão existindo algumas propostas como esta, modelos que, custando mais, oferecem, igualmente, mais.
Design
Não me vou prolongar demasiado sobre a questão estilística. Sim, o Kangoo é uma carrinha. E apesar de pequena, já o foi mais. Assim, ao vivo, impressiona pela sua dimensão, mas por outro lado, também pela agradabilidade do design, porque mesmo sendo uma carrinha, elementos como as jantes de 17 polegadas, vidros escurecidos, iluminação LED e uma cor apelativa que a separa das muito mais comuns versões comerciais no sempre veloz branco, fazem deste Kangoo um excelente companheiro para todas as necessidades de deslocação e transporte.
À frente
Ao volante, apreciei desde logo o facto da experiência pouco diferir da de um mais comum crossover ou utilitário. O volante pode até não estar numa posição tão vertical quanto gostaria, mas ao segundo dia deste ensaio, já nem pensei nisso. O manípulo da caixa de velocidades em posição elevada contribui, também, para a facilidade de condução. Gostei da posição de condução, só tive pena que a visibilidade no pilar A nunca me tenha deixado verdadeiramente à vontade. Não esperes encontrar materiais macios no tablier e forros das portas, mas o que não falta, isso sim, são práticos espaços para arrumar tudo e mais alguma coisa. Também não tem volante e bancos aquecidos para as viagens até à neve, mas abundam as essenciais tomadas de carregamento.
Atrás
Passando aos lugares de trás, tenho de começar ainda do lado de fora. Isto porque graças às portas deslizantes, ali aceder não podia ser mais fácil. O desenho do banco pode até não ser o mais ergonómico, mas também não me pareceu desconfortável para as viagens mais longas. Espaço para a cabeça, obviamente, abunda, à frente e atrás, e só o refiro porque em conjunto com as grandes janelas contribuem para a excelente vivência a bordo, com espaço e visibilidade em todas as direcções. A bagageira oferece 487 litros de volume e mais do que o espaço, que é muito, agrada pelo formato regular que garante que ali caberão todas as compras e sacos de viagem ou caixas e malas de ferramentas. Melhor ainda: rebatendo-se o banco cria-se um plano de carga horizontal e um volume total de 1525 litros. Nada fica para trás.
Condução
Já o disse, já o repeti e volto a fazê-lo: considero o motor 1.3 TCe, nesta categoria de motores a gasolina, uma das melhores unidades do mercado. Do Clio ao Mégane, passando pelo Arkana e Captur, bem como pelo Dacia Duster, recolhi sempre impressões positivas deste motor de quatro cilindros. O Kangoo não foi excepção, respondendo com prontidão às solicitações via acelerador, o que denota a boa disponibilidade – 240 Nm às 1500 rpm – que já lhe reconhecia. Porém, no Kangoo, achei que o “um ponto três” começa a sentir-se menos à vontade acima das 4.500 rpm, algo de que não me recordo em ensaio prévios. Mas, insisto, este comportamento em nada prejudica o seu desempenho neste super versátil Kangoo que, graças aos 130 cavalos, acelera com grande destreza.
Não gasta pouco. Mas há versão 100% eléctrica
Não se espere encontrar no Kangoo a dinâmica e agilidade do Clio, nem tão pouco o conforto e superior refinamento do pisar do Captur, mas considerando as suas raízes, responde com reacções seguras e oferece um conforto adequado para as mais variadas situações, pecando apenas pelo eixo traseiro que por vezes me pareceu um pouco mais saltitão. O que também não se pode esperar encontrar num modelo pouco aerodinâmico – alguns ruídos a 120 km/h – como o Kangoo equipado com um motor turbo, a gasolina, são consumos comedidos. Nas minhas “voltinhas”, não consegui fazer descer a média abaixo dos 8,5 l/100 km. Apenas num passeio maior que dei, com alguma nacional pelo meio, consegui chegar ao destino com 7,9 l/100 km. Achas muito e tens facilidade de acesso a um ponto de carregamento? Então talvez seja melhor optares pela versão E-Tech 100% Electric, já disponível para encomenda.
Boa aposta
Seja para aqueles que estão fartos dos mais vulgares utilitários e familiares ou para aqueles que precisam de uma proposta verdadeiramente versátil, com equipamento, conforto e cinco lugares, bem como com muito espaço de carga e um verdadeiro sentido prático, são realmente poucos os modelos que fazem frente a este Renault Kangoo. É bonito, pelo menos para mim, é fácil de guiar, tem um óptimo motor e, acima de tudo, um habitáculo muito acolhedor, para tudo e para todos. O Kangoo pode até não ser entusiasmante do ponto de vista da condução mais emocional, está longe de o ser, mas é um constante convite à sua utilização. É um daqueles automóveis para escrever histórias, daqueles que rapidamente se assumem como uma indispensável ferramenta de trabalho para o dia-a-dia ou que, ano após ano, acumulam milhares de quilómetros estrada fora com toda a família ou amigos a bordo. “Epá, então tu agora andas com isso?” Andei e espero andar outra vez.
- Renault Kangoo de passageiros disponível desde 27.800 € na versão Authentic com motor TCe de 100 cv.
- Versão Equilibre disponível a partir de 31.143 €.
- Unidade ensaiada: 35.167 €