Volkswagen Golf 1.0 TSI – A beleza das coisas simples
Foi imediato. Assim que entrei neste Volkswagen Golf e percorri os primeiros metros, pensei para mim mesmo: “Sim, isto funciona. Para mim, chegava. E em azul, como este.” É claro que aprecio espaço, potência, equipamento e alguns “luxos” nos muitos automóveis que conduzo, mas também é verdade que muitos de nós raramente usufruem dessa melhor habitabilidade, maior disponibilidade da mecânica e superior conforto a bordo. Isto porque para a maior parte dos utilizadores, o automóvel que conduz no dia-a-dia é uma ferramenta de trabalho, um acessório que possibilita ir de casa para o trabalho, levar os mais pequenos à escola, ir às compras e, pontualmente, levar a família a passear.
E a verdade é que para este fim, para estas deslocações, não precisamos de cinco metros de automóvel, climatização de quatro zonas e 300 cavalos. Precisamos de um automóvel como este Golf, com pouco mais de quatro metros, ar condicionado e um pequeno motor 1.0 TSI de 110 cavalos alimentados a gasolina, esse demónio da mobilidade particular.
É preciso mais?
E começando pelo motor de três cilindros que, como disse, varre um pequeno volume de apenas um litro, estes são demasiadas vezes alvo de injustificadas críticas. “Então e a Volkswagen que põe um motor ‘mil’ num Golf? Deve ser uma arrastadeira!” A este utilizador de Facebook perguntei apenas: “Já conduziu?” Ao seu convicto “Não, nem quero” respondi só com um simpático emoji sorridente porque na verdade respondeu-me exactamente o que eu esperava ler.
Obviamente que um Golf com esta motorização não vai deixar o condutor entusiasmado, mas se pensarmos que o seu antecessor de há cerca de pouco mais de vinte anos era vendido com um motor 1.4 litros de 75 cavalos, então é que o comentário “ uma arrastadeira” aplicado ao 1.0 TSI passa a soar a algo tão absurdo como assumirmos que o automóvel de que necessitamos actualmente para entrar e sair de Lisboa à hora de ponta é um SUV de 2,5 toneladas.
Tudo fácil
Este Golf mexe-se muito bem, com boa disponibilidade, com uma entrega de potência linear e com um refinamento a bordo de excelente nível. Nota-se que é um motor de três cilindros, sim, mas as vibrações são contidas. E admitam lá: acham mesmo que 110 cavalos e o facto de lhe “faltar” um cilindro para aquilo que eram os padrões de outrora vai fazer alguma diferença ao comum dos condutores? Não, não vai. Este vai apreciar os consumos contidos, a potência adequada e a facilidade de condução possibilitada pelos comandos bem calibrados, sejam a direcção, a caixa manual de 6 velocidades ou os três pedais lá em baixo.
Quanto a consumos, esperem uma média combinada em redor dos 7 litros/100 km, nunca esquecendo que, com condutor, este Golf pesa mais de 1300 kg. A posição de condução é óptima – fácil de encontrar graças às habituais amplas regulações que os modelos do grupo Volkswagen proporcionam – e os bancos, de aspecto simples e forrados a tecido, são ergonómicos e confortáveis, prescindindo de exageros decorativos ou de um pronunciado apoio num Golf que é para se usar todos os dias.
Estendo o elogio ao banco de trás, também ele bem desenhado e mais apontado a dois do que a três passageiros devido ao grande túnel central. O acesso é muito bom, com grandes portas e um bom ângulo de abertura. A bagageira tem cerca de 380 litros e o rebatimento do banco traseiro permite criar um plano de carga horizontal, perfeito para as visitas pontuais à loja de mobiliário preferida dos portugueses. Na mala falta apenas a roda suplente. Continuo a não aceitar a sua ausência, seja por opção da marca ou do cliente.
Minimalista, mas bom
O design interior é algo minimalista, talvez até demais. Visualmente, gosto do efeito criado, um ambiente digital, mas acolhedor, ajudado pela iluminação ambiente. Porém, faltam-lhe comandos físicos e zonas tácteis retro iluminadas. Fico sempre com a sensação de que a sétima geração do Golf recorria a materiais de melhor qualidade, mas o oitavo da história está longe de desiludir.
Gostei, por exemplo, de ver que os compartimentos das quatro portas são forrados a alcatifa, mas gostei menos de ver que os materiais das portas traseiras são de qualidade inferior, um ponto menos bom que está longe de ser exclusivo deste Golf, reconheço. Aprovo as práticas bolsas nas costas dos bancos da frente para guardar os indispensáveis tablets e smartphones, bem como as quatro tomadas USB-C, mas senti igualmente falta da câmara traseira de estacionamento, embora estejam disponíveis sensores à frente e atrás.
Seguro, confortável e dinâmico
Passando à condução, são vários os elogios a fazer. Desde logo, há que destacar o trabalho da suspensão, neste Golf sem o contributo de um amortecimento variável e sem o maior apuro de uma geometria traseira multibraços. E na verdade não precisa, nem de um, nem de outro. Combina uma óptima capacidade de filtragem com um exemplar controlo de massas e do movimento das rodas que o coloca entre o que de melhor se faz no segmento.
Nunca chegam pancadas secas ao habitáculo e se a ideia é explorar o maior dinamismo do Golf, o chassis está mais do que altura, chegando a divertir se assim o quisermos. Em autoestrada, gostei da estabilidade, da insonorização e da muita segurança transmitida. Pode até “só” ter um motor 1.0 TSI, mas continua a ser um Golf, com todas as letras. Nota muito positiva para os pneus Nexen, borracha que revelou um excelente desempenho, inclusivamente em piso molhado. Do melhor que me passou pelas mãos.
Tudo faz e faz tudo bem
A receita é simples. Qualidades e virtudes à parte – e são muitas – talvez seja essa a principal razão pela qual tenha gostado tanto desta versão de acesso ao mundo Golf. Um hatchback de cinco portas com um motor a gasolina e três pedais. Prescinde dos luxos da moda, mas não senti falta de equipamento. Não tem modos de condução e não dá nas vistas ao passar em frente à esplanada. As bonitas jantes não precisam de ter 20 polegadas e mesmo não tendo 20 centímetros de altura livre ao solo, o Golf nunca raspou no chão. Não está, ainda, electrificado, mas com um consumo de 7 litros/100 km bate muitos modelos que se declaram mais eficientes e amigos do ambiente.
Goste-se ou não do Volkswagen Golf, faz tudo aquilo que se espera de um automóvel moderno e fá-lo bem. E prolongando este elogio final a outros modelos do mercado que, de uma forma ou de outra também o provam, não precisamos de complicar na altura de escolher um novo automóvel. Para muitos de nós, o automóvel ideal não tem necessariamente de ser um híbrido ou eléctrico e, muito menos, um SUV. Pode ser, apenas e só, um Golf com pouco mais de quatro metros, ar condicionado e um pequeno motor 1.0 TSI de 110 cavalos alimentados a gasolina, esse demónio da mobilidade particular.