Kia Niro HEV – Se este não é o melhor KIA que já guiei, está lá perto…
Tenho de começar este artigo falando da estética. Temo que a dupla KIA e Hyundai esteja novamente a seguir uma abordagem estilística de inspiração mais oriental do que europeia. Assumiram o compromisso de conquistar o cliente europeu, com automóveis concebidos na e para a Europa, e conseguiram-no. Os seus produtos estão cada vez melhores e o design, na minha opinião, evoluiu a olhos vistos. Mas a verdade é que, reconhecendo a coragem e a originalidade de alguns dos seus automóveis, tenho cada vez mais a sensação de que nos conquistaram para que, agora que têm uma posição merecidamente sólida no mercado europeu, possam novamente voltar a soluções estéticas demasiado fora da caixa.
Não gostava, mas afinal gosto
Comecei por esta análise porque, admito, não era fã do design desta nova geração do Niro. À frente, o desenho dos faróis e atrás, o grande e dominador pilar C, bem como a iluminação muito vertical, não me convenceram à partida. Mas ao vivo, na presença de um Niro como este, com uma cor elegante e contrastante, confesso que mudei de opinião. A traseira acaba por ser a minha secção preferida, larga e robusta, com a grande luz do terceiro stop a destacar-se. Assim, o novo Niro talvez só venha provar o quão enganado estou. Os designers das marcas coreanas não andaram a enganar-nos. Andaram, sim, a preparar-nos para a originalidade das suas soluções – como o pilar traseiro que esconde uma passagem de ar – e da sua visão. O Niro não só é esteticamente apelativo como é, como passarei a tentar demonstrar, um dos automóveis mais competentes que conduzi nos últimos tempos.
Interior
O ambiente interior não é tão arrojado como o exterior, mas respira-se modernidade e digitalização. O grande destaque é o enorme painel frontal, integralmente digital, que incorpora a instrumentação e o display do infotainment, este último, como é habitual na KIA, completo e de utilização fácil e intuitiva. O painel de instrumentos mostra a informação de forma clara e original, com uma apresentação que prescinde, até, de ponteiros digitais. Ao centro, uma zona maioritariamente tátil permite partilhar os comandos da climatização e os atalhos para o sistema de infotainment, alternando-se entre uns e outros ao toque de um botão. Mais abaixo, na consola, está o carregador wireless para smartphones, o botão de arranque do motor e um pouco inspirado e algo antiquado manípulo para controlo da transmissão. O Niro merece melhor e mais actual.
Habitabilidade
Se à frente são destaque os bons bancos de desenho futurista – onde estão integradas as tomadas USB-C para quem viajar atrás – e uma boa posição de condução (apenas prejudicada pela menor visibilidade na zona inferior do pilar A), no banco traseiro são várias as boas novidades. Desde logo a acessibilidade, facilitada pelas grandes portas e pelo generoso ângulo de abertura de quase 90 graus. Espaço também não falta, seja para as pernas, seja para a cabeça e as janelas são grandes, abrindo na totalidade, uma mais-valia num modelo de aptidões familiares. O lugar central é o que se espera encontrar no segmento e chegará para aquela rara e curta ocasião em que por ali vão sentar-se três pessoas. Melhor podia ser o espaço de arrumação nas portas. A bagageira deste Niro híbrido tem 451 litros de capacidade, mas infelizmente não transporta uma roda suplente. Já o rebatimento do banco cria um plano de carga sem interrupções.
Motor
Vou directo ao assunto. Gostei muito de conduzir o novo Niro na sua versão HEV, com um propulsor híbrido que combina um motor 1.6 litros, atmosférico, a gasolina e um motor eléctrico para entregar uma potência total de 141 cavalos. Não vai deixar ninguém de cabelos em pé com acelerações fulminantes, mas a agradabilidade de utilização é um argumento forte, destacando-se o bom casamento do motor híbrido com a caixa de dupla embraiagem de 6 velocidades. O volante de dois braços dispõe de patilhas e estas podem não só ser usadas para controlo das relações da caixa de velocidades, como para escolher a intensidade da regeneração de energia, alternando a sua função consoante o modo de condução seleccionado. A eficiência do sistema está bem patente no consumo final de 5,4 l/100 km, conseguido sem grande esforço ou atenção com a pressão sobre o pedal do acelerador.
Condução
A KIA dotou o Niro HEV de apenas dois modos de condução, um a mais do que acho necessário e um a menos do que considero demasiados. O modo Eco serve para poupar, aquilo que queremos ao comprar um híbrido e que, na verdade, podia muito bem ser o único. O modo Sport altera, para além da função das patilhas, a resposta do motor e da direcção, bem como a apresentação do painel e a iluminação ambiente. Não há modo Normal, sendo o Eco, e bem, o seu substituto. Já o acerto de suspensão merece nota muito positiva. A abordagem do Niro à estrada está, felizmente, focada no conforto a bordo e a verdade é que rola muito bem, com um “pisar” que é, diria até, algo premium. O Niro não tenta ser desportivo, mas tem reacções ágeis e seguras, transmitindo confiança ao condutor, o que se espera numa proposta como esta.
Conclusão
Como acima descrevi, são muitas as qualidades da versão híbrida da segunda geração do Niro. É espaçoso, bem equipado, muito confortável e, acima de tudo, muito eficiente. O design, como sempre, é a avaliação mais subjectiva de uma análise como esta, mas tenho de terminar este texto mais ou menos da mesma forma como comecei porque originalidade não lhe falta e porque, relativamente à geração anterior do Niro, o salto é tremendo. Se no primeiro dia olhei para o Niro com alguma desconfiança, ao quarto dia o seu estilo já me tinha convencido, o que só vem provar que apreciar um automóvel ao vivo é muito diferente do que vê-lo, simplesmente, nas fotografias do site da marca. O novo Niro, finalista e quarto classificado na eleição do “Car of the Year 2023” é mais um bom automóvel da KIA. É, na verdade, um dos meus preferidos entre todos os que tenho tido oportunidade de conduzir da marca coreana.