Grand Tourneo Connect: Um convite da Ford a uma memorável road trip
Tenho o bom hábito de visitar a Serra da Estrela pelo menos uma vez por ano. O plano é sempre muito simples: não há plano. Escolho um dia e lá vou eu. A desculpa é quase sempre a mesma, “ir à neve”, ainda que, em muitas das vezes que lá fui, já sabia que encontrar neve seria pouco provável ou, até mesmo, impossível (em Agosto não se podia esperar outra coisa). Mas isso pouco importa. Adoro aquele destino, despido de neve ou cheio dela, belezas que, sendo distintas, são igualmente impressionantes.
E desta vez não fui de SUV, não fui de híbrido, nem tão pouco num roadster desportivo, como tem sido hábito. Fui, sim, no novo Ford Grand Tourneo Connect, na sua versão Active, com os elementos estéticos cada vez mais comuns que lhe dão aquele visual tão apreciado de espírito mais aventureiro. E com espaço para sete passageiros, desta vez levei a família comigo para por à prova todas as suas capacidades enquanto veículo multiusos e para perceber se é, efectivamente, uma melhor opção às muito procuradas carroçarias SUV.
Acessibilidade, espaço e versatilidade
E aquilo que para muitos pode até ser visto como uma desvantagem, é na verdade um dos – se não mesmo o maior de todos – argumentos do Tourneo: o facto de partilhar o formato de carroçaria com um veículo de mercadorias. O acesso à segunda fila de bancos, através de portas deslizantes, é muito fácil. A minha família comprova-o, pois nunca ouvi queixas de quem ali viajou. Aceder à terceira fila é também mais fácil do que nos grandes SUV de 7 lugares que por aí vamos vendo, ainda que seja necessária alguma força de braços para se recolher os bancos. E por se tratar da variante de carroçaria mais longa, até o espaço disponível na bagageira me deixou surpreendido.
Nos dois lugares lá mais atrás não se espere encontrar o mesmo conforto que na fila do meio – não é possível regular os bancos longitudinalmente – mas é, sem dúvida, uma experiência mais “arejada” do que em muitas outras propostas mais “na moda”. Espaços de arrumação não faltam, bem como duas indispensáveis tomadas USB-C. O tecto panorâmico é, sem dúvida alguma, uma mais-valia para o conforto a bordo, contribuindo, igualmente, para a sensação de espaço no habitáculo.
Facilidade de condução
Os passageiros da frente, como seria de esperar, são recebidos com ainda mais conforto. Os bancos são certificados por uma entidade especializada em ergonomia e contam com função de aquecimento, algo que, curiosamente, usei diversas vezes em Lisboa e nem uma única vez na Serra da Estrela. Produzido com base na Volkswagen Caddy, não é de estranhar a presença de um bom sistema de infotainment que é, no entanto, prejudicado pelos controlos de temperatura e volume deslizantes pouco intuitivos e sem iluminação habitualmente encontrados nos produtos do grupo alemão.
O que também não é de estranhar é a muito boa posição de condução e as óptimas sensações transmitidas por todos os comandos principais: direcção, caixa manual de 6 velocidades e pedais. Todos eles calibrados para facilitar ao máximo a condução desta muito versátil proposta. Apesar do comprimento adicional deste Grand Tourneo, dos sete passageiros a bordo que assim elevaram o peso para mais de duas toneladas e de não dispor de uma geometria de suspensão muito elaborada no eixo traseiro, há que fazer elogios ao amortecimento, bem julgado e sempre à altura das exigências, transmitindo a segurança que considero absolutamente essencial para realizar uma grande viagem com a carga mais preciosa que temos.
O motor de sempre
Debaixo do capot, o eterno motor TDI da Volkswagen aqui configurado com 122 cavalos e 320 Nm, números que se mostraram sempre à altura do desafio que lhe propus, subindo a Estrela sem esforço, mostrando “pulmão” suficiente para as ultrapassagens e, acima de tudo, capaz de fechar a viagem de 700 quilómetros com um consumo final de 6,5 litros/100 km. Prova de que o automóvel eléctrico, sendo uma óptima solução de mobilidade, não é a solução para todas as necessidades.
É certo que completar 700 quilómetros num só dia no lugar do condutor – apesar da concentração e atenção exigidas – acaba por ser mais relexante e confortável do que viajar na terceira fila de um qualquer veículo familiar. Mas comparativamente aos SUV de 7 lugares com os quais tenho vindo a ter contacto, e ainda que este Grand Tourneo não seja capaz de oferecer uma experiência a bordo tão refinada, a acessibilidade e espaço disponível são indiscutivelmente superiores. O motor TDI está social e legalmente condenado, mas continua a mostrar todos os seus argumentos numa proposta como esta, mais do que apta para as grandes viagens em família.
Até quando?
A Ford propõe, igualmente, um motor a gasolina, versões equipadas com caixa de velocidades automática e, inclusivamente, uma variante com tracção integral, essa sim, a mais indicada para enfrentar um nevão com que infelizmente não me deparei. Ainda assim, foi um dia em cheio. Regressámos cansados de um dia na estrada, mas não só a paisagem, como também o convívio a bordo foram uma óptima recompensa. Com um parque automóvel cada vez mais dominado por modelos SUV que só são grandes por fora, propostas assim são cada vez mais raras. Um veículo de mercadorias adaptado para receber 7 passageiros, com um “antiquado” motor Diesel lá na frente é uma fórmula vencedora que tem, porém, os dias contadas. É aproveitar enquanto é possível.