Skoda Karoq 2.0 TDI 150 4×4 – Um SUV para fazer coisas e ir a sítios
O primeiro grande elogio que começo por fazer ao Skoda Karoq é que, ao contrário de muitos dos seus rivais, não “grita”: “Olhem para mim, sou um SUV! Sou mais alto, mais encorpado e nada me pode parar”. Como é hábito na Skoda, o design do Karoq prima pela sobriedade das linhas, por proporções correctas e por prescindir de exageros estéticos – nesta versão Ambition mais ainda – que apenas contribuem para isso mesmo, para um visual mais aventureiro e extrovertido que, na prática, não se traduz em maiores e melhores capacidades.
São muitos os modelos do segmento que o fazem e, no entanto, alguns deles, não só não podem dispor de tracção integral para uma maior liberdade de utilização, como ao mínimo obstáculo que encontrem pelo caminho revelam, de imediato, as suas limitações. Estas devem-se, normalmente, a uma “falsa” altura livre ao solo que rapidamente se faz ouvir pelo som de plástico a raspar no chão ou a uma suspensão que, mesmo “mais alta”, não dispõe do curso necessário para manter as rodas de tracção em contacto com o piso, o que se traduz num impasse, por mais simples que o obstáculo seja.
Às quatro, mas calma
Mas, atenção: Este Karoq, por contar com tracção integral, não é um puro todo-o-terreno. Sei que não é e por isso não espero que faça o que os “puros e duros” fazem. Mas é um SUV com um propósito, com capacidades adicionais. É, muito provavelmente, o companheiro ideal para uma família que viva numa quinta, com estradas enlameadas ou para aqueles que, quando há oportunidade, se escapam por caminhos mais irregulares até uma cabana na floresta. Ou então para os condutores que regularmente enfrentam climas rigorosos, com pisos escorregadios e invernos completamente brancos. O Karoq 4×4 não é imparável, claro que não, mas já tive oportunidade de testar, repetidamente, o seu sistema de tracção integral numa exigente pista de obstáculos e fiquei impressionado, admito.
Muito espaço e qualidade
A bordo do Karoq as sensações são óptimas. Os bancos dianteiros são confortáveis, a posição de condução ideal é fácil de encontrar e o tablier, tal como a carroçaria, tem tanto de sóbrio como de elegante. Os materiais são óptimos, inclusivamente na zona superior da consola, onde habitualmente os plásticos começam a ser bastante menos agradáveis ao toque. Também há plásticos rijos, obviamente, mas a sensação geral de qualidade é inegável. Ao nível da ergonomia e facilidade de utilização, há também vários elogios a fazer. Desde logo por se manterem controlos físicos para a climatização, bem como atalhos tácteis para as várias funções do sistema de infotainment, mas também por a Skoda colocar o botão de arranque do motor no sítio mais lógico de todos, no lugar do canhão da ignição. “Simply clever, right?” Sim, até alguém se ter lembrado.
Melhor para quatro, claro. Cabem as malas de todos
Os passageiros do banco de trás podem contar com espaço abundante para pernas e cabeça – mesmo com o tecto panorâmico da unidade em ensaio – bem como com um banco bem desenhado, confortável e com suporte adequado para as pernas. O espaço em largura, mesmo sem duas pessoas presentes para me ajudarem a confirmá-lo, pareceu-me superior ao de alguns dos seus rivais, mas o lugar central é pouco confortável, sofrendo, igualmente, com a presença de um túnel de transmissão que não passa despercebido. Por ali não faltam saídas de ar dedicadas, tomadas USB, 12V e 230V, bem como janelas que abrem na totalidade. A bagageira convence, não só pelo volume, mas também pelo formato regular. Gostei de encontrar um pneu suplente, mas falta-lhe o piso amovível para criar um plano de carga sem interrupções ao rebater o encosto do banco traseiro, um elemento que não devia ser opcional.
TDI, pois claro
Digam o que disserem, um bom motor Diesel tem, ainda, variadíssimos argumentos. Não vou entrar na interminável questão ambiental, mas regressar ao 2.0 TDI foi uma óptima experiência. Possante desde os baixos regimes, refinado em toda a faixa de utilização e económico – média final de 6,6 litros/100 km – os 150 cv estão igualmente mais do que à altura das exigências, bem explorados pela transmissão DSG, nesta unidade, sem patilhas no volante. Aliás, este Karoq nem dispõe do habitual selector de modos de condução e, verdade seja dita, não senti falta deles. A suspensão faz bem o seu trabalho na hora de dar ao Karoq a estabilidade e controlo que se espera de um moderno SUV familiar, mas está claramente pensada, e bem, para o conforto. Porém, sobre pisos com mais irregularidades, mostrou por vezes alguma dificuldade em filtrá-las, deixando passar para o habitáculo algumas vibrações indesejadas.
Mais quilómetros e teria sido excelente
Lamentavelmente, não fiz tantos quilómetros a bordo deste Skoda Karoq 4×4 como queria. O tempo não estica e não tive oportunidade de o levar até um cenário mais digno daquilo que são as suas capacidades. Ainda assim, percorri uma distância suficiente para comprovar algo que já sabia: O Karoq, 4×4 ou não, é um SUV cheio de qualidades. Como é, na verdade, qualquer automóvel actual da Skoda. Dos pequenos Fabia e Kamiq aos maiores Kodiaq e Enyaq, passando pelo versátil Scala e incrível Octavia – nas suas mais variadas versões – todos eles deixaram muito boas impressões nas suas passagens pela Garagem.
Portugal: Um mercado teimoso
Porém, este Karoq tem um grande defeito. Mas um defeito que, claramente, não é culpa sua: Ser um Skoda em Portugal. Um mercado onde o símbolo continua a ter um peso enorme na escolha final do cliente, e onde, muito injustamente, o da Skoda continua a não ter o reconhecimento e aceitação que merece, mas que, felizmente, encontra noutros mercados europeus. O Karoq, com cerca de 70.500 unidades, foi o 48º modelo mais vendido na Europa em 2022. Em Portugal, a Skoda entregou no ano passado apenas 25 Karoq. Não entendo. Por isso, fica o meu conselho para aqueles que escolhem o seu automóvel pela reputação do símbolo que levam na grelha lá à frente: espreitem os números do mercado europeu e explorem a história da Skoda.