Audi A4 Avant 35 TDI – Um excelente automóvel premium com motor Diesel. Mas não será assim para sempre
Como devem calcular, falo muito de automóveis. Até demais, admito, algo que se nota nos textos que escrevo, por vezes desnecessariamente longos. Falo muito porque este é o tema com que mais rapidamente me identifico em qualquer conversa que possa surgir e quando o tema é o automóvel premium, fico muitas vezes com a sensação de que é dada mais importância ao símbolo exposto lá à frente na grelha do que às verdadeiras qualidades da máquina em questão, muitas vezes, para muitos, desconhecidas. Isto para não falar da definição de premium aos olhos de cada um.
Veja-se o exemplo deste Audi A4 Avant. O símbolo dos quatro anéis conquistou um estatuto junto do cliente português de que poucos se podem gabar. E, para uma grande parte deles, basta o símbolo premium para garantir a sua qualidade, fiabilidade e competência geral, mesmo que nunca o tenham comprovado ao volante. O mérito é todo da Audi, porque trabalhou para essa conquista com automóveis que são, efetivamente, premium, de qualidade, fiáveis e competentes. E se tanta gente o sabe mesmo que nunca tenham tido essa experiência, posso garantir-vos que essa conclusão é inquestionável logo após os primeiros minutos na companhia deste automóvel.
Qualidade e posicionamento
Atenção: Este automóvel não é bom porque é premium, nem é premium porque é bom. Para mim, é premium, sim, mas é bom porque é bom. Há que distinguir aquilo que é uma abordagem ao mercado, um posicionamento de produto, daquilo que são as suas qualidades, essas sim, as que rapidamente se destacam. Cinco minutos antes de ter entrado para este A4 Avant pela primeira vez, tinha acabado de conduzir um outro modelo do grupo, de dimensão e formato semelhante, com idêntico motor 2.0 TDI e equivalente transmissão de 7 velocidades. E apesar das boas impressões deixadas pelo modelo anterior, a verdade é que as diferenças não podiam ser mais óbvias, seja na qualidade dos materiais, da sua montagem ou nas primeiras impressões de condução obtidas.
Bom, mas bom
Do bater de porta aos materiais utilizados no habitáculo, passando ainda pela ausência total de ruídos, volto a destacar a robustez e qualidade de execução do trabalho da Audi no que aos interiores diz respeito. E ainda que o exemplar conduzido não seja uma versão de topo, isso em nada altera a minha perceção muito positiva do ambiente a bordo. O painel de instrumentos analógico e os bancos em tecido, elementos, provavelmente, inaceitáveis para os fãs da tecnologia e de um maior requinte interior, são dos meus pontos preferidos. Para quê complicar o que é bom e funciona? A consola dedicada à climatização é outro exemplo, uma autêntica lição de como devem estar organizados os seus comandos. Mas para quem quiser mais e “melhor” do seu Audi, é questão de subir na gama.
Lá atrás
Ao contrário do que é comum nos segmentos e patamares de preço inferiores, os materiais utilizados não pioram assim que passamos para o banco traseiro. As portas continuam a recorrer a plásticos nobres e quem por ali viajar pode até desfrutar de controlo independente de temperatura. Espaço para pernas e cabeça não falta, com os lugares laterais a oferecerem centímetros livres mais do que suficientes, mas o lugar do meio é, digamos, para esquecer. O túnel central é enorme e nem o banco está desenhado para ali receber um passageiro de forma confortável. Lá mais atrás, a bagageira não é tão grande quanto as de alguns modelos do segmento abaixo, mas não deixam de ser uns práticos 495 litros de volume.
TDI e mild hybrid
No que à condução diz respeito, começo por falar do motor 2.0 litros TDI com tecnologia mild hybrid e cujos 163 cavalos mostraram estar sempre à altura das exigências. Possante na entrega e com funcionamento refinado – ajudado pela boa insonorização – é garantia de consumos baixos, registo combinado que neste ensaio se ficou pelos 6,2 l/100 km. Em autoestrada, este A4 Avant brilha, com a sétima relação da caixa de velocidades – com patilhas no volante – a manter o TDI nas 1500 rpm ao rodar a 120 km/h. Para além disso, não só dispõe do modo “coasting” para uma maior eficiência, como a configuração mild hybrid permite que o motor se desligue em determinadas situações. Repito o que disse recentemente: ainda vamos ter saudades da sigla TDI.
Suspensão e direção
Também a forma como o A4 pisa a estrada denota a qualidade do trabalho efetuado ao nível do chassis. Mesmo sem amortecimento variável na equação, o equilíbrio conseguido entre conforto de rolamento e comportamento dinâmico é notável, permitindo-lhe absorver quase todas as irregularidades sem transmitir vibrações excessivas ao habitáculo, mas mantendo, igualmente, um bom controlo de movimentos e uma grande estabilidade. A direção também ajuda a estas boas sensações, com um nível de assistência adequado e sem uma excessiva rapidez que lhe traria, talvez, uma resposta desnecessariamente nervosa considerando o tipo de utilização a que este A4 Avant aponta.
Ainda uma excelente opção
E depois de umas quantas centenas de quilómetros na companhia deste A4 Avant, é impossível não ficar rendido aos seus argumentos. São muitas as qualidades e a tal abordagem premium é, igualmente, indiscutível. Esta continua e continuará a ter uma grande importância nas ambições de crescimento da Audi, embora de uma forma diferente, como recentemente assumiu na sua conferência Audi Vision Portugal. Tudo porque a Audi vai ser exclusivamente elétrica em Portugal já em 2030 e porque, segundo a marca, a propulsão elétrica define, assim, um novo conceito premium, algo que não questiono. Assim, restam-nos seis anos para chegarmos a um consenso sobre essa definição. Temos tempo. Até lá, se puderem, conduzam um A4 com motor TDI.