Ensaio Sprint: Ford Focus ST-Line X 1.0 Ecoboost MHEV 155
Quando há mais de 20 anos a Ford anunciou a “morte” do Escort, este vosso amigo – na altura adolescente – ficou triste. Fã assumido do modelo, foi uma decisão que me custou perceber e aceitar, um sentimento que agora se repete, com o já praticamente oficial desaparecimento do Focus. Desta mais recente geração do compacto da Ford, guardo do primeiro contacto que com ela tive aquela sempre agradável sensação de que tudo parece encaixar como uma luva. Sem ser inovador, gostei do design – talvez até mais do que desta ligeira atualização – e apreciei, acima de tudo, uma postura em estrada assumidamente dinâmica, mantendo, ao mesmo tempo, argumentos como a habitabilidade que se espera de um compacto de segmento C.
Encarei, por isso, este ensaio com o interesse habitual, mas também com uma certa dose de saudosismo, não fosse esta ser uma das últimas oportunidades de conduzir um dos meus modelos preferidos do segmento. Exteriormente, como referi, prefiro a estética dianteira do Focus pré-restyling, ainda que, para mim, continue a ser dos modelos mais bonitos do mercado. Esta versão desportiva ST-Line X, então, melhor ainda. Por fora, não gostei, porém, da solução do puxador de porta, cujo funcionamento não esconde na totalidade o mecanismo de abertura. Por outro lado, a solução engenhosa de proteção das portas – do Focus e dos “vizinhos” do lado – continua a merecer destaque.
No interior, o Focus está claramente mais moderno, com um novo ecrã do sistema de infotainment de grandes dimensões que acumula agora os comandos da climatização. É uma pena que se tenham perdido os comandos físicos, muito mais práticos, mas a verdade é que a dimensão do display permite ter “botões digitais” grandes, o que compensa um pouco essa menor facilidade de utilização. A qualidade dos materiais a bordo está a par do que é hábito encontrar no segmento, mas o Focus marca pontos por incluir alcatifa nos compartimentos das quatro portas. A posição de condução é ótima, o volante tem um aro espesso e a caixa de seis velocidades tem um tato preciso, mas achei os pedais exageradamente pequenos.
Ao volante, este é um Ford com o “Focus” de sempre, dando prioridade à eficácia dinâmica com um chassis que é um prazer de explorar. A direção rápida combina-se com um eixo dianteiro muito responsivo – cuja precisão só não é ainda melhor porque os pneus Michelin Primacy não o permitem – e o eixo traseiro permite alguma dose de liberdade de movimentos quando provocado. Não é um desportivo puro, mas no seu segmento, é dos que melhor faz esse serviço, nunca prejudicando em demasia o conforto a bordo, mas garantindo, sempre, grandes sensações a quem gosta de conduzir.
O motor é pequeno em tamanho, mas é enorme em disponibilidade. Um litro de capacidade, 155 cavalos de potência e 240 Nm de binário “ajudados” por uma pequena máquina elétrica cujo contributo é bem notório assim que se toca no acelerador. Quando esta inverte o funcionamento para regenerar energia, a sua presença faz-se também notar, por vezes até demasiado. O pequeno motor de três cilindros está bem insonorizado, mas quando em carga, faz-se ouvir, algo que até aprecio. Quanto a consumos, a tecnologia mild hybrid ajudou a fechar o ensaio com uma média de 6,7 l/100 km.
Esta geração do Focus pode até já contar com praticamente cinco anos de mercado, mas a recente intervenção dotou-o não só de uma estética mais moderna, como de elementos mais atuais como o sistema SYNC 4. No entanto, para mim, melhor do que isso, é a confirmação de que o Focus continua tão bom de conduzir como eu me lembrava. Um compacto familiar para quem aprecia o ato da condução. Ainda uma referência dinâmica, só não sabemos, infelizmente, até quando o continuará a ser. Apressem-se.